Coronel César Eduardo Bonfanti respondeu às questões da deputada Luciana Genro.
Coronel César Eduardo Bonfanti respondeu às questões da deputada Luciana Genro.

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O comandante do Corpo de Bombeiros Militar (CBM), coronel César Eduardo Bonfanti, respondeu aos questionamentos dos deputados da Comissão de Representação Externa da Assembleia Legislativa que acompanha as investigações sobre o incêndio na sede da Secretaria de Segurança Pública, ocorrido em julho. Em seu depoimento, na tarde desta quarta-feira (25), Bonfanti reiterou o caráter de ineditismo do desabamento do prédio e detalhou os procedimentos tomados pelos bombeiros antes, durante e após o incêndio. Na segunda-feira, dia 30, a Comissão irá ouvir a chefe de Polícia, Nadine Anflor, e o delegado responsável pela investigação do incêndio.

Coordenada pela deputada Luciana Genro (PSOL), que dirigiu as perguntas ao comandante, a Comissão iniciou os trabalhos nesta segunda-feira (23). Bonfanti relatou que há historicamente no Rio Grande do Sul uma dificuldade dos prédios públicos de se adequarem às legislações de prevenção a incêndios, desde a lei que estava em vigor entre 1997 e 2014 e também após essa data, quando entrou em vigor a Lei Kiss. “No prédio da SSP já havia sido dado o passo principal, que é a apresentação do PPCI. Ele foi aprovado pelo Corpo de Bombeiros e a partir daí se inicia o processo de execução de tudo aquilo que foi proposto e aprovado. Esse processo estava em fase de execução”, relatou.

Isso significa que o prédio já tinha um plano aprovado, mas ainda não colocado em prática, para torná-lo mais seguro. “Se há um erro, é de não se ter esse cuidado desde 1997”, colocou o coronel. A partir da emissão do PPCI, diversos prédios públicos estão atualmente em fase de adequação, explicou ele. No caso da SSP, o edifício estava dentro do prazo para realizar esse processo.

Incêndio destruiu o prédio da SSP e causou a morte de dois bombeiros. | Foto: Felipe Dalla Valle/ Palácio Piratini
Incêndio destruiu o prédio da SSP e causou a morte de dois bombeiros. | Foto: Felipe Dalla Valle/ Palácio Piratini

O incêndio ocorrido no dia 14 de julho no prédio da Secretaria causou a morte de dois bombeiros, o tenente Deroci Almeida e o sargento Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós, vitimados pelo desabamento da estrutura do edifício. A Comissão irá solicitar mais informações ao longo do andamento dos trabalhos, que têm 30 dias para ocorrer.

O desabamento da estrutura, afirmou o comandante, foi um fato atípico nesse tipo de ocorrências. “Não acompanhei nenhum incêndio que resultou em desabamento quase total de um prédio dessa magnitude, é algo realmente difícil de acontecer. Uma avaliação estrutural vai ser feita, estivemos lá acompanhando os trabalhos. Isso não é algo que acontece com frequência no Brasil, de ter uma ruptura daquela forma”, afirmou.

O tenente-coronel Eduardo Estevam Camargo Rodrigues, comandante do 1º Batalhão de Bombeiros de Porto Alegre, conta que chegou ao local logo após a estrutura desabar. “Quando se tomou notícia do incêndio, se deslocou uma equipe para lá chefiada pelo tenente Almeida. Todas as guarnições têm caminhão equipado com o equipamento necessário para o combate ao incêndio, todos os protocolos são seguidos pelo Primeiro Batalhão. Temos uma escada mecânica, que foi utilizada no incêndio”, relatou.

Reunião ocorreu de forma híbrida, na Assembleia Legislativa e com participação online de integrantes.

O Corpo de Bombeiros está realizando um Inquérito Policial Militar para verificar se houve crime militar ou transgressão disciplinar, tendo em vista a morte de dois colegas. O tenente-coronel Bittencourt, responsável pelo IPM, informou que a primeira viatura a chegar no local demorou menos de três minutos para atender a chamada. “O colapso total do prédio se deu em cerca de uma hora e meia, realmente foi bastante rápido. Ao que tudo indica, a guarnição de serviço comandada pelo tenente Almeida, que tinha como voluntário o tenente Munhós, estava em atividade de vistoria. Pelo que se tem das provas, eles sucumbiram num ato heroico de tentativa de salvaguardar o patrimônio. Estavam formulando estratégia para resguardar local que não havia sido atingido”, colocou.

Os bombeiros também mencionaram os atendimentos de saúde mental que vêm sendo prestados aos familiares e colegas do tenente Almeida e do sargento Munhós. “Já identificamos servidores que tiveram alguma dificuldade após o atendimento da ocorrência, já solicitamos conversar com nosso efetivo e encaminhar as necessidades para atendimento psicológicos”, garantiu o comandante.

Ao final, a deputada Luciana Genro explicou que novas reuniões serão realizadas ao longo de 30 dias e que outros questionamentos podem ser feitos aos bombeiros. “Vamos conversar com a Associação dos Bombeiros, com a Polícia Civil, o CREA, o Sindicato dos Engenheiros, as viúvas das vítimas e novos elementos podem surgir ao longo destes 30 dias de trabalho, então pode ser que tenhamos que enviar mais perguntas aos senhores”, disse.

Comissão de Representação Externa foi aprovada por 41 votos favoráveis e nenhum contrário pelo plenário da Casa no último dia 17, após ser protocolada com 27 assinaturas. Além de Luciana, compõem a Comissão os deputados: Frederico Antunes (PP), Jeferson Fernandes (PT), Dirceu Franciscon (PTB) e Clair Kuhn (MDB). Compõem a equipe técnica o advogado Conrado Klöckner, assessor jurídico da deputada Luciana Genro, e os engenheiros Gisele Domingues e Carlos Grassi, que voluntariamente irão auxiliar a Comissão.