A Comissão de Representação Externa que acompanha as investigações do incêndio na Secretaria de Segurança Pública (SSP-RS) nesta segunda-feira (30) os delegados Fábio Motta Lopes, subchefe de Polícia do Estado, e Daniel de Oliveira Ordahi, titular da 17ª Delegacia de Polícia, que é o responsável pelo inquérito que está sendo realizado pela corporação.
Dentre as questões já levantadas pelo inquérito policial, o delegado Ordahi relatou que as colunas hidráulicas internas do prédio não puderam ser ativadas durante o combate ao incêndio, pois estavam em processo de instalação no edifício, estando sem funcionamento naquele momento. “Os bombeiros entraram no prédio, conectaram a mangueira, mas não saiu água no terceiro e no quarto andar, porque essa coluna estava desconectada. Existiam dois motores para pressurizar a água, e a parte elétrica desses motores também estava desconectada, porque iam ser substituídos para aumentar a força”, colocou. Segundo o depoimento dele, devido às modificações que estavam sendo feitas por exigência do próprio PPCI, não foi possível que a água chegasse dentro do prédio naquele momento. Este fato, que já havia sido revelado à Comissão em depoimento do comandante do Corpo de Bombeiros no dia 23 de agosto, agora foi confirmado pela Polícia Civil.
A deputada Luciana Genro (PSOL), que coordena a Comissão, dirigiu as perguntas aos delegados, explicando que o objetivo dos deputados é que a Assembleia “consiga contribuir com sugestões para que tragédias dessa magnitude não aconteçam novamente”, possivelmente recomendando alterações legais e medidas de gestão de crise para evitar ou mitigar danos futuros.
“O Poder Executivo, a Polícia Civil e a SSP estão investigando dentro das suas atribuições o que ocorreu naquela noite de modo a esclarecer os fatos e apurar eventual necessidade de responsabilização. Mas aqui pretendemos juntar todas as partes da investigação e voltar ao passado para compreender se havia riscos, como está sendo a gestão de crises e o que pode ser feito para evitar que isso volte a ocorrer. Algo errado provavelmente ocorreu e precisa ser investigado de modo a corrigir os erros”, apontou Luciana Genro.
O incêndio ocorrido no dia 14 de julho no prédio da Secretaria causou a morte de dois bombeiros, o tenente Deroci Almeida e o sargento Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós, vitimados pelo desabamento da estrutura do edifício. A Comissão, aprovada em Plenário no último dia 17, irá solicitar mais informações ao longo do andamento dos trabalhos, que têm 30 dias para ocorrer.
O delegado Lopes explicou que o papel da polícia é justamente focar nas questões criminais, relatando que já foram ouvidas cerca de 35 pessoas no inquérito, dentre as quais os servidores que trabalhavam no prédio na noite do incêndio. Ao que tudo indica, a polícia aponta que o incêndio não foi intencional. “Tem imagens que foram localizadas nas quais não se vê nenhuma movimentação estranha. A princípio, estaríamos diante de um incêndio acidental. Claro que isso não significa que não haja responsáveis, mas a princípio não tem responsabilidades criminais” , assegurou.
O delegado Ordahi formulou uma linha do tempo do que ocorreu naquela noite. Ele contou que, segundo os depoimentos, os trabalhadores da Susepe que estavam no prédio começaram a sentir um cheiro de queimado e, ao arrombarem a porta da sala de Inteligência, encontraram um fio pegando fogo. Ao não conseguirem controlar com os extintores, chamaram os bombeiros e evacuaram o edifício. Os bombeiros chegaram ao local rapidamente, mas se depararam com a questão de não conseguirem contar com as colunas hidráulicas internas para fazer o combate ao fogo.
“Eles montaram uma linha de mangueiras e subiram com as mangueiras, chegaram a combater o incêndio internamente no quarto andar, mas o fogo se espalhou demais”, afirmou o delegado. Ele também observou que, mesmo com as dificuldades do combate ao incêndio, não houve falta de água, pois os bombeiros levaram caminhões abastecidos.
A polícia também observa, como já havia sido apontado em depoimentos anteriores, que o prédio desabou mais rápido do que o esperado. “Costuma ter sinais nos prédios, como vidros estourando, os quais ocorreriam de três a quatro horas antes da estrutura colapsar. Então pegou todo mundo desprevenido, não esperavam que fosse colapsar depois de uma hora e meia”, disse o delegado Ordahi. A polícia solicitou as plantas estruturais do prédio e aguardam o laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) sobre o edifício, mas os delegados afirmaram que não havia nenhuma falha estrutural que fosse conhecida.
Ainda nesta segunda-feira, a Comissão ouve representantes da Associação de Bombeiros do Rio Grande do Sul (ABERGS), do Instituto Geral de Perícias (IGP), do Sindicato dos Arquitetos (SAERGS) e o dos Engenheiros (SENGE), do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREARS) e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU). Além de Luciana, compõem a Comissão os deputados: Frederico Antunes (PP), que estava presente na reunião desta segunda-feira, Jeferson Fernandes (PT), Dirceu Franciscon (PTB) e Clair Kuhn (MDB). Compõem a equipe técnica o advogado Conrado Klöckner, assessor jurídico da deputada Luciana Genro, e os engenheiros Gisele Domingues e Carlos Grassi, que voluntariamente irão auxiliar a Comissão.