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Por Luciana Genro, deputada estadual

O planeta Terra atingiu, em julho, um recorde preocupante: o ponto máximo do uso dos recursos naturais que poderiam ser renovados sem custos ao meio ambiente. Esta informação, que acende um sinal de alerta em todos nós, foi divulgada pela Global Footprint Network, uma ONG internacional que monitora a extração dos recursos naturais. Concretamente, podemos afirmar que a humanidade está em débito com o meio ambiente, gastando recursos que já não existem mais. Como uma pessoa que vive pendurada no cheque especial. Só que essa conta será paga por todas e todos.

Desde a década de 1970, a data do recorde é chamada de “Dia da Sobrecarga da Terra”. Ou seja, o dia em que o planeta já atingiu o seu limite no que diz respeito à exploração de seus recursos naturais. E a cada ano este dia tem chegado com mais antecedência: desde 2001, uma média de três dias a menos a cada ano.

Muito se fala em déficit fiscal e déficit nas contas públicas. Mas o verdadeiro déficit a ser combatido é o ambiental. E essa situação só irá mudar se mudarmos também o sistema capitalista de produção, que aposta na exaustação dos recursos naturais como forma de garantir sua expansão permanente.

Luciana Genro participa de reunião sobre Mina Guaíba com Fepam e secretaria do Meio Ambiente

Segundo o geógrafo David Harvey, para se viabilizar economicamente o capitalismo necessita de um crescimento contínuo de pelo mesmo 3% ao ano, e isso só pode ocorrer com a destruição e esgotamento dos recursos naturais. Não é à toa que os Estados Unidos são os campeões em devastação ambiental. Se toda a população do planeta consumisse nos mesmos patamares que a classe média e alta americana o planeta já estaria destruído. A luta ambiental é, portanto, uma luta anticapitalista.

Sabemos que hoje nossa matriz energética é resultado da exploração hídrica e mineral. É por isso que precisamos colocar na ordem do dia o debate sobre fontes de energia alternativas e menos danosas à natureza. Segundo a ONU, 18% da população mundial tem acesso a apenas uma quantidade mínima de água potável para sobreviver. Se mantivermos o padrão de consumo atual, 2/3 da população do planeta terão dificuldade de acesso à água potável dentro de cinco anos. Em 2050, esse patamar pode atingir 75% de toda a humanidade.

Além disso, a água também é muito ameaçada pelos projetos de exploração dos recursos naturais, principalmente os de mineração. E no Rio Grande do Sul não é diferente. Segundo especialistas, a maior parte dos projetos de mineração no Estado estão sendo desenvolvidos junto a nascentes de rios e em áreas de preservação do Bioma Pampa.

Um desses projetos é o da Mina Guaíba, que quer explorar carvão a céu aberto entre Eldorado do Sul e Charqueadas e ameaça o abastecimento dessas cidades, de Porto Alegre, e dos municípios atendidos pelo Rio Jacuí, às margens de onde a Copelmi quer instalar a mina. Vale reforçar que não se trata de qualquer rio: o Jacuí é responsável por quase 80% das águas do Guaíba.

Há ainda no Estado projetos com previsão de exploração de chumbo, zinco e cobre em áreas entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico, em São José do Norte, e às margens do rio Camaquã, em Caçapava do Sul. Outro alerta no Estado – feito especialmente pelo biólogo Paulo Brack – é a fusão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente com a Secretaria de Infraestrutura, uma discrepância já que para a segunda funcionar o que deveria ser protegido pela primeira possivelmente será atacado. Além disso, o atual secretário da pasta do governador Eduardo Leite foi secretário de Minas e Energia do ex-governador Sartori.

É preciso mobilização para barrar esses projetos, desenvolver alternativas energéticas e promover políticas públicas de preservação dos recursos naturais para evitar o que os especialistas já apontam como o caminho para a sexta extinção em massa de vida no planeta. Hoje os maiores afetados pelos danos já causados ao meio ambiente são, principalmente, as comunidades ribeirinhas, os moradores de áreas com risco de desabamento e alagamento.

A defesa ao meio ambiente passa necessariamente pela defesa de um outro modelo político e econômico e de um outro modo de produção que não esgote os recursos naturais do planeta. Uma tarefa que se torna ainda mais urgente quando temos um governo liderado por pessoas que negam o conhecimento científico e insistem em propagar que o aquecimento global é uma mentira.