Luciana Genro
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Luciana Genro concedeu entrevista à Rádio Guaíba nesta quinta-feira (27/12).

Em entrevista à Rádio Guaíba nesta quinta-feira (27/12), a deputada estadual eleita Luciana Genro (PSOL) analisa o cenário político nacional e gaúcho, projetando os desafios para o próximo período. “Muita gente votou em Bolsonaro na expectativa de melhorias em áreas como segurança pública e corrupção, que não acredito que irão acontecer. A política do Bolsonaro para a segurança pública é desastrosa. Quanto à corrupção, já estamos vendo como vai ser, com o caso do Queiroz, o rapaz esse que diz que vendia carros. Mas parece que ele só conseguia fazer negócio no dia de pagamento da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Está muito claro que as promessas foram vazias. Por isso acredito que um grande contingente de eleitores do Bolsonaro vai se deslocar rapidamente”, disse.

Confira abaixo a íntegra da entrevista de Luciana Genro à Rádio Guaíba:

Rádio Guaíba: Hoje vamos conversar com deputados eleitos para a Assembleia Legislativa do RS. Na linha conosco a deputada estadual eleita pelo PSOL, Lucian Genro. Boa tarde!

Luciana Genro: Boa tarde, Juremir. Boa tarde, Taline e aos ouvintes da Rádio Guaíba.

Rádio Guaíba: Viajando para o Uruguai deu uma paradinha para nos atender. Muita gentileza.

Luciana Genro: Pois é, estou a caminho de Punta del Diablo com a família para dar uma descansadinha.

Rádio Guaíba: Muito boa escolha. Agora, Luciana Genro qual a principal preocupação para o mandato que vai iniciar?

Luciana Genro: A principal preocupação é conseguir traduzir, dentro da Assembleia Legislativa, a expectativa das pessoas que apostaram no PSOL, na minha candidatura especialmente, mas também no Pedro Ruas. Porque também sinto uma responsabilidade em representar esses eleitores, assim como todos que votaram no PSOL – mas, de um modo geral, todos aqueles que querem construir uma resistência a este modelo econômico representado pelo Leite aqui no Estado. É um modelo de enxugamento do Estado, de privatização, que a gente sabe que não vai trazer mudanças estruturais na relação com o funcionalismo público e com o serviço público de um modo geral. Queremos, também, fazer essa resistência em nível estadual ao que significará o governo Bolsonaro. Um governo que, além de ter uma visão econômica totalmente alinhada com o modelo neoliberal, reflete uma política totalmente antidemocrática. Uma política de cerceamento às liberdades democráticas. Uma política de discriminação, de ódio, de falta de empatia com o outro, com o diferente. As lutas LGBTs, das mulheres, da negritude e de todos os segmentos que são discriminados na nossa sociedade vão ganhar uma relevância muito grande diante dos ataques que provavelmente serão tentados pelo Bolsonaro. Mas eu sou relativamente otimista, porque acho que a grande maioria que votou no Bolsonaro não compartilha destes ideais semi-fascistas que ele representa. A grande maioria votou no Bolsonaro por raiva do PT. Uma raiva que eu não compartilho, mas que compreendo. É natural que as pessoas se sintam com raiva depois de tantos desmandos e repetição de uma política tradicional, de corrupção, de toma lá, dá cá. De falta de organização e mobilização do povo. Então muita gente votou no Bolsonaro por ódio ao PT. Ao mesmo tempo, também votou na expectativa de melhorias em áreas como segurança pública e corrupção, que não acredito que irão acontecer. A política do Bolsonaro para a segurança pública é desastrosa. Quanto à corrupção, já estamos vendo como vai ser, com o caso do Queiroz, o rapaz esse que diz que vendia carros. Mas parece que ele só conseguia fazer negócio no dia de pagamento da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Está muito claro que as promessas foram vazias. Por isso acredito que um grande contingente de eleitores do Bolsonaro vai se deslocar rapidamente e a gente pode fazer lutas pontuais por determinadas bandeiras que vão seguir sem resposta pelo governo e que vão ter apoio social, apoio de massas. Podemos impedir retrocessos e até mesmo conquistar alguns avanços nesse próximo período.

Rádio Guaíba: Agora, deputada, em relação ao governador eleito Eduardo Leite. É claro, vocês são de campos ideológicos e programáticos totalmente distintos, mas há uma percepção de que pelo menos haverá diálogo entre oposição e situação. A senhora também tem uma visão pessimista em relação à atuação do Leite por aqui?

Luciana Genro: Pessimista no sentido de que não tenho expectativas de que o Leite possa fazer um governo nos moldes que eu defendo. Mas não tenho dúvida de que ele é completamente diferente do Bolsonaro. E não tenho dúvida também de que haverá canais de diálogo. Eu sou muito amiga e muito próxima da Nadine Anflor, que foi escolhida como chefe da Polícia Civil. Conheço ela há muitos anos. É uma pessoa extremamente competente e séria. Tem uma visão de segurança pública bastante avançada. Então acredito que haverá diálogo com o governo Leite na área da segurança pública. Este é um exemplo que, para mim, é o mais evidente. Conheço a Nadine e acredito que ela pode fazer um bom trabalho se tiver autonomia. Na Assembleia eu disse ao governador eleito que nós faremos uma oposição dura, mas com respeito e com diálogo. Não é aquela oposição que vota contra só porque o projeto veio do governo. Eu nunca fiz isso. Sempre tive uma postura muito aberta a votar a favor de projetos que possam ser de interesse do povo. E, quando for necessário, fazer o enfrentamento, fazer a luta dura, porque acredito que meu papel, enquanto deputada eleita do PSOL, é este. É representar essas ideias pelas quais fui eleita. Nunca mudei de lado ao longo da minha trajetória. Já mudei de partido, mas não mudei de lado. Justamente mudei de partido porque me recusei a mudar de lado. Então acredito que a gente poderá fazer essa oposição construtiva, sempre fazendo o diálogo quando ele for possível.

Rádio Guaíba: O presidente Michel Temer termina seu mandato e resumiu seu governo em uma palavra: modernizar. Qual é a sua avaliação?

Luciana Genro: Só se ele modernizou os métodos da roubalheira no governo. Essa é a maior modernização que se pode acreditar que ele fez. A não ser que se acredite que modernização é privatizar, é arrochar funcionalismo, é fazer política totalmente subserviente ao capital financeiro, consumindo mais da metade do orçamento do país com pagamento de juros da dívida. Não vejo nenhuma modernização nisso. Ao contrário, é mais do mesmo. O que tem de mais antigo ainda no governo Temer é justamente este método de governar, o método da corrupção, do toma lá, da cá, das malas de dinheiro e da utilização das privatizações para promover desvios de verbas públicas, da utilização das obras públicas para promover enriquecimento de políticos. O governo Temer repetiu mais uma vez essa lógica, que na verdade é a lógica que está incrustada no Estado brasileiro. Por isso eu sempre digo que quando o PSOL opta por disputar eleições majoritárias sem alianças oportunistas simplesmente para ganhar mais tempo de TV e ter maiores chances eleitorais, na verdade nós estamos preservando nosso programa e nossa definição de que é necessário fazer mudanças estruturais no nosso país para poder, de fato, ter as transformações que defendemos. Não adianta chegar no poder e manter essa mesma lógica da política tradicional, da partidocracia que se apropria do Estado e faz dele uma máquina de gerenciamento dos seus interesses e dos interesses das elites econômicas. Enquanto a gente não tiver no poder o povo organizado e determinado a fazer essas mudanças estruturais – que um partido sozinho não consegue, é preciso ter apoio popular e mobilização social para dar respaldo a essas mudanças -, essa lógica vai se repetir. Não é à toa que o PT caiu neste mesmo modelo que decepcionou tanta gente. As estruturas políticas estão contaminadas por este tipo de política tradicional corrupta. É preciso mudar essas estrutura,  e é por isso que nós lutamos para ocupar este espaço de poder sem repetir esta mesma lógica, para fazer com que o povo organizado nos ajude a promover estas grandes mudanças, porque sem elas vai ser uma decepção atrás da outra.