Luciana Genro (54 anos)
Luciana Genro (54 anos)

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Vivo em um mundo caótico no qual persistem guerras e massacres. Um mundo de contrastes abissais entre a miséria e o luxo, entre o privilégio e o infortúnio. Um mundo de violações de direitos, opressões, discriminação, exploração e violências dos mais diversos tipos. Um mundo ameaçado pela ação predatória do capital sobre a natureza. Mas não temos só tragédia. Sou parte de uma tradição que luta para subverter esta ordem de dominação imperialista e burguesa, que luta por democracia real e igualdade. Uma batalha inaugurada pela Comuna de Paris, que já percorreu e percorre muitos países, teve vitórias e derrotas, avanços e retrocessos. Não venceu plenamente em lugar nenhum, mas segue. Como disse Alain Badiou em A Hipótese Comunista, “a emancipação humana é uma ideia que tem seu processo de verdade em curso.”

Nasci em Santa Maria, 1971. No mesmo ano em que foi morto Rubens Paiva, personagem real do filme Ainda estou aqui. Meu pai era comunista, e quando eu tinha 13 dias de vida ele fugiu para o Uruguai, evitando, talvez, um destino igual ao de Rubens Paiva. A política marcou a minha vida desde então.
Acompanhei meu pai em atividades políticas desde criança. Fiz um jornalzinho subversivo na 8ª série do colégio Maria Imaculada. Estive no comício das diretas em Porto Alegre, 1984. Militei no Julinho, berço de tantas figuras ilustres da política gaúcha. Participei do Fora Collor em 1992. Trabalhei como professora de inglês. Fui eleita deputada estadual pelo PT, depois reeleita com o dobro de votos. Fui eleita deputada federal, expulsa do PT, fiz parte da fundação do Psol, fui reeleita com quase 200 mil votos pelo novo partido que ajudei a fundar. Depois fiquei 8 anos fora do parlamento. Criei o Emancipa em Porto Alegre, dei aula. Me formei em direito, advoguei, fiz júri, especialização e mestrado na prestigiada USP. Participei das jornadas de junho de 2013.

Em 2014 o Psol me delegou a gigantesca tarefa de ser candidata a presidente da República, uma das maiores honras e desafios da minha vida política. Também fui candidata a prefeita de Porto Alegre duas vezes. Em 2018 voltei a ser deputada estadual, e agora exerço o segundo mandato consecutivo. Também presido a Fundação Lauro Campos Marielle Franco, fundação nacional vinculada ao PSOL.
Neste caminho político e pessoal muitas pessoas foram fundamentais. A começar pela família do meu pai e da minha mãe. De onde a gente vem faz uma diferença enorme na vida. Essa família foi a Mega-Sena da minha vida. Vanessa, minha irmã querida e seus dois meninos maravilhosos completam a minha loteria milionária.

Em 1985 encontrei o Robaina, no Julinho, com quem compartilho luta política, camaradagem e amizade até hoje. Fico imaginando como teria sido a minha vida se eu não tivesse tido a colega do cursinho de inglês que me falou deste colégio e me fez querer ir estudar lá. Tive que bater o pé, por que meu pai queria que eu estudasse e sabia que no Julinho só ia fazer política. Foi a mãe que me apoiou. Contradições da vida. Essa escolha pelo Julinho foi uma encruzilhada fundamental. Tive um filho com o Robaina aos 17 anos, uma loucura. Ainda bem! O Fernando é a joia da coroa da minha vida, orgulho e amor que não tem tamanho. Eu sempre quis ser mãe, mas não tinha ideia de como seria. Foi difícil e lindo. A parte difícil já esqueci, só ficou marcada a alegria e a beleza dessa jornada que dura a vida toda.
No início da minha primeira campanha para deputada estadual, ainda dando aula de inglês, encontrei o Sérgio, meu marido e amor. Sorte gigantesca. Construímos uma relação que hoje tem mais de 30 anos e é o meu porto seguro. Ainda ganhei uma enteada, a Luísa, que é orgulho da família com sua inteligência e doçura.

Não tenho como citar os nomes de tantas pessoas que construíram comigo essa trajetória, amigos e principalmente amigas, algumas que se foram e outras que nunca largaram a minha mão. Por fim, mas não menos importante, cito os e as camaradas do MES, Movimento Esquerda Socialista. A organização que ajudei a criar ainda no PT e que hoje trava no PSOL uma luta decisiva em defesa de uma esquerda coerente, independente e revolucionária. Sem uma organização eu não teria feito nada do que fiz. Foi o trabalho coletivo que me trouxe até aqui.

Então, só tenho a agradecer pela sorte de ser protagonista e parte de toda essa história. Sei que não tenho mais 54 anos de vida ( viver até os 108 acho que não vou conseguir), mas espero ainda ter muitos anos pela frente para seguir vivendo, lutando e amando!