| Artigos da Luciana | feminicídios | mulheres

Por Luciana Genro

Artigo originalmente publicado no jornal Zero Hora em 25/06/2020

A tragédia sanitária, política e econômica que vivemos atinge de forma ainda mais cruel as mulheres, especialmente as que são mães. São elas as primeiras a perder o emprego na crise. Afinal, no momento em que setores da economia seguem abertos, mas as escolas e creches permanecem fechadas, as mães precisam escolher entre voltar ao trabalho ou cuidar de seus filhos em casa. Outra opção é deixar os filhos com os avós, mas isso coloca quem está no grupo de risco em contato direto com as crianças e seus pais.

Quando inventou o modelo de distanciamento controlado para atender às pressões de setores econômicos, nem passou pela cabeça de Eduardo Leite que alguém teria que cuidar das crianças de mães que precisam trabalhar. Eu fiz este apelo ao governador mais de uma vez, em reunião virtual e por ofício enviado ao seu gabinete. Até agora não obtive respostas efetivas. O governo precisa incluir esse assunto no acordo com os setores econômicos autorizados a funcionar.

O outro lado desta crise também é dramático, com a quebradeira geral das creches e escolas infantis da rede privada. Esses estabelecimentos seguem fechados, e assim deve ser, mas não recebem nenhum auxílio do Estado para sobreviver à pandemia. Cabe ao Banrisul o papel de oferecer uma linha de crédito especial a esse setor, e fiz este apelo também ao presidente Cláudio Coutinho, ainda sem resposta.

A violência doméstica, que só cresce na pandemia, tampouco recebe atenção do governo. A garantia de um abrigo temporário às mulheres em risco de morrer é fundamental para que as vítimas denunciem os agressores. Mas nenhuma política de ampliação desses lugares foi implementada. Nem mesmo a emenda em que destinei R$ 250 mil a esta rubrica o governo do Estado executou até agora.

Ao não dar respostas a esses problemas, Eduardo Leite demonstra que governa ouvindo muito, mas escutando pouco. O diálogo tão defendido pelo governador não pode ser uma via de mão única.

A vida das mulheres não pode esperar!