Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini
Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini

| coronavírus

Por Luciana Genro

Um plano temerário e que não leva em conta as famílias

Da forma como foi sugerido hoje pelo governador Eduardo Leite, o “modelo de distanciamento controlado” para “equilibrar a prioridade à vida com retomada econômica” em meio à pandemia da Covid-19 é temerário. 

Ele responde à crescente pressão das empresas pela reabertura dos negócios, e que dialoga com um desespero legítimo daqueles que se não trabalham, não comem. Mas quando o Estado libera o empregador para exigir a presença do seu empregado no local de trabalho, permitindo a retomada mesmo que gradual de determinadas atividades, com base em ponderações ainda incertas entre níveis regionais e setoriais de risco, é preciso levar em conta um elemento fundamental: temos 1,4 milhão de estudantes das redes públicas de ensino do Estado e dos municípios que estão, e devem continuar, em casa. Quem cuida deles? Quem os alimenta?

As escolas, como se sabe, são ambientes extremamente propícios para a disseminação do novo coronavírus. Por isso seguirão fechadas, e não é possível abrir as escolas por região, conforme o risco. A educação não é um setor econômico, é um espaço de vida fundamental para as famílias.

Então, se os estudantes tiverem que permanecer em casa, como os pais e as mães poderão sair para trabalhar? Ficarão sob os cuidados dos avós para estabelecer uma cadeia ainda mais mortal de contágio: dos pais contaminados no trabalho para os filhos e, destes, para os avós, que formam um dos principais grupos de risco diante da doença?

Estamos falando de aproximadamente 700 mil famílias gaúchas e de centenas de milhares de avôs e avós. O Estado está disposto, conscientemente, a sacrificá-los em nome do faturamento dos empresários seguros e confortáveis em seus “home-offices”, enquanto seus empregados levam o coronavírus para casa nas periferias e nos bairros de classe média?

Se as empresas estão tão ávidas por voltar ao trabalho, precisam no mínimo se comprometer, em articulação com o Estado e entidades setoriais, a não exigir a volta ao trabalho de ambos os pais ou do responsável único em famílias monoparentais. E, além disto, a não demitir aquele ou aquela que precisará ficar em casa, e que geralmente são as mulheres, as primeiras a perder o emprego em momentos de crise. Quem descumprir o compromisso deve pagar pesadas multas ao Estado e altas indenizações aos prejudicados. 

Pelo menos por enquanto, do jeito como está sendo pensado, o plano de reabertura gradual da economia não está nada equilibrado com a “prioridade à vida”.

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