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Por Luciana Genro

Muita gente votou no Bolsonaro acreditando no discurso de que ele acabaria com os privilégios. Que ele combateria as práticas políticas de sempre, com o toma lá, dá cá e a indicação dos amigos do rei aos mais altos cargos do país.”

Muita gente também votou no Bolsonaro acreditando que seria um governo que apostaria na valorização do mérito individual de cada um. Ou seja, na ideia de que a pessoa que batalha e se esforça é recompensada por seu trabalho duro e merece estar aonde chegou.

A indicação de Eduardo Bolsonaro para o posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos derruba de uma só vez estas duas falsas promessas do candidato-presidente. Em uma só tacada ele reforça os privilégios em sua essência mais folclórica e ainda por cima esmaga qualquer critério de merecimento.

Nomear um filho sem qualificação na área de Relações Internacionais para o posto diplomático mais importante no exterior é uma humilhação para todo o quadro técnico do Itamaraty. É uma vergonha. Enquanto os diplomatas precisam passar no processo seletivo mais difícil do país, a prova do Instituto Rio Branco, e estudar durante muitos anos até progredir lentamente por todos os degraus da carreira diplomática, Eduardo Bolsonaro cai de paraquedas na posição de embaixador apenas por ser filho do presidente.

A situação é tão absurda que já está em gestação na Câmara dos Deputados uma PEC para que o parlamentar não precise renunciar ao mandato se quiser assumir um posto diplomático. Assim Eduardo não correria riscos caso sua indicação seja barrada pelo Senado. O Brasil de Bolsonaro está se revelando uma filhocracia, o que demonstra também a incapacidade do presidente de estabelecer relações de confiança com qualquer pessoa que não pertença à sua família. A paranoia bolsonarista afasta tudo e todos, até mesmo os militares e os quadros técnicos mais qualificados do alto escalão do Itamaraty.

Eduardo Bolsonaro não será um embaixador representando os interesses do Brasil. Será um marqueteiro da direita radical com vocação para lamber as botas da famílía Trump e submeter o país aos desígnios dos Estados Unidos.

Um diplomata, além de qualificação e formação, precisa dialogar com todos os setores da sociedade. Precisa ser diplomático. Eduardo Bolsonaro dialoga apenas com a extrema direita, com os setores mais atrasados que apoiam o governo Trump, ligados aos supremacistas brancos. Se o Partido Democrata ganhar as eleições ano que vem, o que é uma grande possibilidade, o Brasil com Eduardo Bolsonaro em Washington ficará totalmente sem diálogo com os Estados Unidos, isolando ainda mais o país no cenário internacional por conta da ideologia de uma família que flerta com terraplanistas, negacionistas do aquecimento global e defensores de um mundo onde os muros substituam as pontes.