O presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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Artigo originalmente publicado no jornal Correio do Povo de 20/05/2019.

Foram anos ouvindo os discursos da direita sobre a importância da educação, da moralidade, da transparência, do bom uso da gramática e da coerência. Bastou Jair Bolsonaro ser eleito para tudo mudar. A direita louvava os investimentos da Coreia do Sul em educação.

Bolsonaro assumiu e tratou de “contingenciar” as verbas das universidades. Pode asfixiá-las por excesso de contingenciamento. A direita, com razão, atacava a imoralidade dos governantes, atolados em escândalos de corrupção. Agora, silencia sobre as denúncias do Ministério Público do Rio de Janeiro, que põe Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, como suspeito de ter abrigado uma “organização criminosa” no seu gabinete de deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Bolsonaro não se dá bem com agramática.

Na última quinta-feira, maltratou uma repórter da Folha de S.Paulo e o subjuntivo. Disse: “Tem que entrar de novo numa faculdade que presta”. Queria certamente dizer uma faculdade que preste. Nada de novo na frente de combate cultural. Antes de chegar ao poder, a direita dava aulas de economia, de português, de gestão e de moral. Era só fazer oque ela dizia para tudo se transformar.

Uma das suas melhores ironias alvejava políticos habituados a dizer que nada sabiam do lodo dos seus gabinetes. Nessa época, a direita era favorável a tal “teoria do domínio do fato”. Ou seja, só acontece se o chefe souber. Flávio Bolsonaro pode não saber oque supostamente fazia o tal Queiroz? Opai pode não saber dos negócios do filho? Não sei. Naqueles tempos de discursos pontificantes, a direita queria celeridade, justiça ágil, polícia rápida, julgamentos expeditivos, prisões provisórias longas, conduções coercitivas imediatas, coisas assim.

Eram marcas da exasperação com as chicanas jurídicas. Já não é mais assim. Michel Temer entrou e saiu duas vezes da cadeia como um relâmpago. A Justiça voltou a ser cautelosa e“garantista”. Queiroz, o faz-tudo de Flávio Bolsonaro, ainda não apareceu para depor. Enviou uma explicação esfarrapada por escrito e escafedeu-se. Foi cuidar da saúde abalada por tantas emoções. Não dá bola para o MP. Queiroz apresentou-se na televisão como vendedor de carros. Nem entrou na pista. Derrapou.

Flávio Bolsonaro surge agora como um case de sucesso no ramo imobiliário. Compra e venda de imóveis com ganhos estratosféricos. Negócios do Rio de Janeiro. Compra por pouco, vende por muito, tudo em pouco tempo, negociando com empresas situadas em paraísos fiscais. Parece que até os chineses querem saber como se ganha dinheiro assim. Noutra frente de coisas inusitadas, Jair Bolsonaro confessou ter feito um acordo com Sérgio Moro.

O juiz largaria a toga, viraria ministro no bolsonarismo e ganharia a primeira vaga disponível no STF. Ficou ruim para Moro. O ministro da Justiça refugou a narrativa. Bolsonaro recuou. A coerência manda lembranças. Está vivendo na clandestinidade. É vizinha do Queiroz. Não admite toma-lá-dá-cá. Faz “nova política”. Uau!