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Artigo originalmente publicado no Sul21, em 19 de junho de 2018.

Por Luciana Genro*

Uma matéria publicada na última sexta-feira no jornal Valor Econômico dá a pista das exigências brutais que os credores da dívida pública estão fazendo para o Brasil e que a maioria dos candidatos a presidente do Brasil pretende atender, mas não vai contar na campanha eleitoral.

O economista Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs e um dos mais altos representantes dos interesses dos credores, afirma que o Brasil precisa fazer um resultado primário de superávit de 3% a 3,5% do PIB, sendo que hoje o Brasil está em déficit de 2%: “Nós estamos falando de um ajuste fiscal de pelo menos cinco pontos percentuais do PIB”.

Simplificando, Ramos alerta para a preocupação de que o Brasil não está mais conseguindo economizar dinheiro dos nossos impostos para pagar os credores.  Desde o governo FHC até 2013, o Brasil produziu superávits, isto é, deixava de gastar com saúde, educação, segurança e usava boa parte dos impostos para pagar juros da dívida pública, e diga-se de passagem, pagando uma das taxas de juros mais altas do mundo.  Os especuladores até pegam dinheiro emprestado nos Estados Unidos, que chegaram a emprestar a juro zero, e compram títulos da nossa dívida remunerados com altos juros. Um baita negócio.

Desde 2013, já não temos mais superávit, e os juros da dívida tem sido pagos com mais endividamento. Isso deixa os credores nervosos, pois obviamente é uma situação insustentável no longo prazo. O risco de quebrar é grande.

O economista da Goldman dá a receita para resolver a situação: cortar gastos ou aumentar impostos.  Eles querem um ajuste nas costas do povo.

Querem cortar da segurança pública que está caótica.  Cortar da educação que está sucateada. Cortar da assistência social que está desmontada.  Cortar da saúde que está quebrada.  Da previdência que paga uma miséria aos aposentados. Cortar dos servidores públicos que estão arrochados.  Querem aumentar os impostos do trabalhador e da classe média que já estão com a corda no pescoço.

Nós queremos o oposto.

Queremos cortar dos próprios juros da dívida que estão entre os mais altos do mundo. Cortar da corrupção que rouba até 2,3% do PIB. Cortar dos privilégios do 1% mais ricos, começando por aquelas seis famílias mais ricas do Brasil (que certamente enriqueceram ganhando com os juros da dívida) e que detém a mesma riqueza que os 100 milhões mais pobres.  Queremos aumentar os impostos destes milionários, dos bancos, das grandes multinacionais, dos grandes exportadores. Que paguem com seus lucros exorbitantes pela crise, já que foram os que realmente ganharam antes dela.

Este é o debate que deve ser feito na eleição presidencial.

*Advogada, ex-deputada e dirigente do PSOL