*Artigo do jornalista Bernardo Mello Franco, originalmente publicado na Folha de São Paulo em 19/12/2017.
Gilmar Mendes não anda de trenó, mas está distribuindo mais presentes que Papai Noel. Nesta segunda, o supremo ministro soltou Adriana Ancelmo e suspendeu um inquérito contra Beto Richa. Os dois são investigados sob suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.
A mulher de Sérgio Cabral foi a maior felizarda do dia: vai trocar a cadeia de Benfica pelo aconchego do lar no Leblon. Ela já foi condenada a 18 anos de prisão. Enquanto o marido saqueava o Estado, torrou R$ 6,5 milhões em joias, segundo a sentença do juiz Marcelo Bretas.
Ao mandar a senhora para casa, Gilmar evocou a “proteção à maternidade” e a “dignidade da pessoa humana”. Ele acrescentou que “a condição financeira privilegiada da paciente não pode ser usada em seu desfavor”. O país tem 37 mil mulheres presas. A maioria passará o Natal longe dos filhos e sem a opção de encomendar a ceia ao Antiquarius.
O governador do Paraná também não pode se queixar do bom velhinho. Ele foi acusado de receber dinheiro sujo de um esquema de fraudes no fisco estadual. O caso corria no Superior Tribunal de Justiça, mas Gilmar decidiu intervir a seu favor.
Para o supremo ministro, Richa foi alvo de uma “delação pouco confiável” e não havia “justa causa” para investigá-lo. O tucano ainda responde a inquérito na Lava Jato, sob suspeita de receber propinas da Odebrecht. A esta altura, já deve ter pendurado mais um sapatinho na janela.
Outros quatro políticos terão uma noite feliz graças a Gilmar. Nesta segunda, ele deu o voto decisivo para arquivar denúncias contra o senador Benedito de Lira e os deputados Arthur Lira, Dudu da Fonte e José Guimarães. Todos eram acusados de corrupção. Agora vão comer castanhas sem se preocupar com a Justiça.
Faltam seis dias para o Natal. Se os delatados organizarem a fila direitinho, o Papai Noel do Supremo ainda pode descer da chaminé com um saco cheio de habeas corpus. Ho, ho, ho.