Por Luciana Genro
Não é a primeira vez que a Câmara demonstra sua total desconexão com o sentimento da maioria do povo. Mas desta vez o descolamento é absoluto, pois 95% dos brasileiros queriam ver Temer processado, mas os deputados disseram sim ao arquivamento da denúncia. Disseram votar pela “estabilidade econômica” do país, mas na verdade votaram pela estabilidade financeira do próprio bolso.
Seguimos com um governo chefiado e composto por uma verdadeira quadrilha que circula com malas de dinheiro – cuja grande parte já está denunciada, processada ou presa. É um escárnio contra o povo, contra a democracia e contra o bom senso.
A Operação Lava Jato, através da Polícia Federal e do procurador Rodrigo Janot, fez o seu trabalho. Temer sobreviveu (por enquanto). A Procuradoria-Geral da República ainda apresentará novas denúncias. E as delações de Cunha e Funaro podem enfraquecer ainda mais a situação de Temer. Mas os mecanismos legais são insuficientes para combater a corrupção. Não é o Poder Judiciário que vai salvar o Brasil.
É pela política que podemos mudar a realidade. Mas a política que prevalece no nosso sistema é a pequena politica. A política do toma-lá-dá-cá, da troca de favores, dos cargos e da liberação de emendas. A política do interesse público não existe neste jogo que assistimos esta tarde. E não é de hoje. A pequena política seguiu prevalecendo durante os 13 anos de governo petista. As estruturas corruptas a serviço do capital seguiram intocadas.
O Brasil se desmancha em corrupção, desemprego e desestruturação dos serviços públicos. Direitos sociais são retirados. Mas para o andar de cima tudo vai bem. Eles seguem milionários cortando na carne dos de baixo.
O silêncio relativo das ruas é sintomático da desesperança. Mas também é fato que depois de boas mobilizações e de uma greve geral poderosa os aparelhos sindicais e partidários não organizaram a revolta latente. Há quem prefira ver Temer sangrar até 2018. Mas quem está sangrando mesmo é o povo. Há quem tema o povo na rua. Vimos este medo em junho de 2013, quando uma verdadeira revolta popular e juvenil tomou conta do Brasil. O andar de cima tremeu. A casta política tremeu. Preferem o silêncio das ruas.
Mas isso não vai durar para sempre. As sementes de junho vão germinar e trazer novos ares, novas cores e novos rostos. A luta está sempre recomeçando.