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*Artigo do jornalista Bernardo Mello Franco, originalmente publicado na Folha de São Paulo em 14/07/2017.

A tropa de choque do governo venceu a primeira batalha. O Planalto abriu o cofre, acionou o rolo compressor e conseguiu salvar Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. O relatório do deputado Sérgio Zveiter, favorável ao afastamento do presidente, foi derrotado por 40 votos a 25.

A operação produziu cenas de fisiologismo explícito. Desde a semana passada, Temer transformou o Planalto numa grande banca de feira. Chegou a receber 30 deputados num único dia. A cada visitante, ofereceu milhões de motivos para barrar a denúncia que o acusa de corrupção.

O ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado e preso no mensalão, também esteve no guichê para negociar votos do PR. A reunião foi omitida da agenda de Temer. O leitor já viu essa história antes?

Além de distribuir verbas e cargos, o Planalto apelou à troca de deputados da comissão. Dos 40 que livraram o presidente, 12 assumiram a vaga nos últimos dias. Parte dos barrados ficou sabendo da manobra pela imprensa. “Fui vendido. Nojento isso. É barganha, é barganha!”, protestou Delegado Waldir, do PR.

O deputado foi substituído por Bilac Pinto, também do PR. No último mês, ele foi agraciado com o empenho de R$ 8,9 milhões em emendas, de acordo com planilha obtida pela coluna. Satisfeito, retribuiu a generosidade com outro voto pró-Temer.

Nesta quinta, Zveiter acusou o governo de usar dinheiro público para comprar apoio. Seu relatório foi substituído por um parecer pelo arquivamento da denúncia. O texto foi assinado pelo tucano Paulo Abi-Ackel, ligado a Aécio Neves. Depois de o PMDB salvar o senador no Conselho de Ética, o PSDB aecista ajudou Temer na Câmara. Uma mão suja a outra, ensina a velha lei de Brasília.

A oposição saiu derrotada, mas não perdeu o humor. Quando o painel revelou que o presidente havia recebido 40 votos, deputados do PSOL e da Rede ensaiaram um coro sugestivo: “Ali Babá! Ali Babá!”