O ataque brutal que matou 12 pessoas na sede do jornal Charlie Hebdo em Paris chocou o mundo. Vários dos principais chargistas da França foram assassinados, entre eles Wolinski, cartunista que ficou conhecido mundialmente por suas charges no Maio de 68. Consternados, assinalamos nossa solidariedade e pesares com as vítimas e seus familiares.
A visão obscurantista, reacionária e covarde que levou à barbárie dessa manhã precisa ser banida da sociedade. A violência destes terroristas é um atentado contra a razão, contra as conquistas democráticas e civis dos últimos duzentos anos. Por detrás desse fundamentalismo jihadista estão os que cometem atrocidades no Iraque, Síria e Curdistão. Os que sequestram jovens e oprimem mulheres, declarando um retrocesso no terreno dos direitos mais elementares. E isso nada tem a ver com respeito às práticas religiosas, pluralidade e tolerância. Os que cometem crimes bárbaros em nome da religião o fazem pisoteando a crença de milhões de pessoas, de diferentes credos, que jamais utilizaram sua fé para oprimir e matar outros seres humanos. Estamos numa polarização entre aqueles que querem cercear os direitos humanos e democráticos e aqueles dão o combate para ampliar tais direitos. É uma batalha com centro democrático.
As manifestações espontâneas e multitudinárias na França expressam esse desejo: a vontade da sociedade de livrar-se da chaga destes grupos terroristas intolerantes. Mais de cem mil manifestantes marcharam em Paris para dar um basta no Terror e homenagear aos mortos. A chamada “Je Suis Charlie/Eu sou Charlie” contagiou a sociedade francesa, que, repudiando a barbárie, afirma que o fascismo islâmico só retroalimenta a xenofobia e o fascismo europeu – no fundo são duas faces da mesma moeda.
Diante disso, não podemos fazer coro com a hipocrisia dos que querem aproveitar a justa comoção com os assassinatos desta quarta para reforçar posições ainda mais intolerantes. A crescente onda de manifestações racistas e da chamada “Islamofobia” não pode ser tolerada como resposta à essa crise. Os partidos da extrema-direita, seus aliados no poder, vão repetir essa fórmula para castigar os imigrantes, para responsabilizá-los pela crise social e econômica que vive o velho continente.
O dia de hoje será lembrado com profunda tristeza. Contudo, a reação instantânea da sociedade alenta que é possível construir outro mundo, mais justo, democrático e soberano, livre dos fascismos de toda ordem. Esperemos que tal corrente democrática se faça valer nas ruas, como os atos na Alemanha contra as correntes fascistas xenófobas dessa semana, e nas urnas, com a vitória da esquerda radical grega nas próximas eleições, onde Syriza representa a oportunidade de derrotar a austeridade e o fascismo.