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Juremir Machado da Silva no Correio do Povo (07/07/2014)

A gaúcha Luciana Genro é a candidata do PSOL à Presidência da República. O PSOL tem direito de participar de todos os debates de televisão e rádio que forem organizados. A Rede Globo, por exemplo, não poderá se livrar dele em nome da fluência do programa com um número menor de participantes. Não vai adiantar tentar ludibriar Luciana oferecendo outros espaços como uma entrevista no “Jornal Nacional”. O partido não abrirá mão do seu direito. Faz bem. Luciana tem tudo para incendiar os debates. Não perderei um só. A tendência é que a candidata do PSOL faça perguntas incômodas sobre temas incômodos: auditoria da dívida pública, liberação da maconha, fracasso da política repressiva de combate ao consumo de drogas, aborto, criminalização da homofobia e outros desse gênero e quilate.

Os candidatos costumam fugir desses temas como de uma praga devastadora. Enrolam, dissimulam, mentem e contradizem-se. Quando entram nalgum desses assuntos é para repetir clichês e fazer poses que agradem a parte do eleitorado mais conservadora. Fazem papel de autor de novela de televisão. Botam na tela amor gay sem amasso nem sexo. No máximo, um selinho mixuruca. Os partidos fogem das questões de jornalistas nos debates. Querem ver tudo antes para evitar alguma surpresa. Luciana Genro poderá fazer o que os melhores jornalistas sonham: jogar no contrapé. Vai causar um estrago danado. Luciana tem bala na agulha, fala bem, tem conteúdo e está madura para o jogo. Não estou fazendo propaganda nem abrindo meu voto para ela. Estou constatando que Luciana vai desfrutar de uma situação privilegiada.

Os lacerdinhas acham Luciana radical. Não enxergam o radicalismo dos seus pretensos moderados e sensatos. A questão do aborto no Brasil é das mais importantes e tratada com requinte de hipocrisia. Quase todo mundo tem um na família. Mulheres das classes altas fazem em excelentes condições sem crises de consciência nem dúvidas metafísicas. Pagam e ponto. As mulheres pobres fazem em péssimas condições e correm mais riscos de criminalização. A política de repressão ao consumo de drogas é, como se diz, uma forma de enxugar gelo. O consumo não para de aumentar; os preços, de baixar. A lei da oferta e da procura funciona perfeitamente. Toneladas de maconha atendem diariamente às necessidades do mercado. Ninguém deixa de comprar. Existe até tele-entrega. Compra-se com ou sem emoção. Sem emoção é na esquina de casa. Com emoção implica ir a algum morro.

A Califórnia, nos Estados Unidos, vai distribuir maconha para moradores de rua. O Uruguai está arrasando com sua experiência de vanguarda. Não consumo. Não faço apologia do consumo. Sou a favor de evitar tudo o que possa causar dependência. Só não consigo ver a diferença entre maconha e álcool. Por que um é liberado oficialmente e outro não? Será pelo entendimento de que agem diferentemente sobre a percepção dos consumidores? Há quem pense que o álcool não é droga ou que é mais fácli de ser consumido socialmente. Os pragmáticos sempre lembram que álcool e fumo geram muitos empregos. Luciana Genro vai botar tudo isso na roda. Vai ser uma saia justa.