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| MES

* Pedro Fuentes

1. Os jornais de hoje qualificam que no Egito ocorreu um golpe militar de estado — porém, isto é muito relativo, ou parcial, e portanto começar as análises da situação egípcia por aí seria errado. Os militares atuaram no último momento para impedir que as massas derrubassem o Governo Morsi. Neste sentido, deram um golpe quando as massas estavam prontas para derrubar o governo e já tinham seu objetivo próximo — estava em curso uma greve geral e existiam comitês revolucionários. O que os militares fazem é tomar este objetivo da nova fase da revolução egípcia em curso e, logicamente, não o fazem para aprofundar a revolução, mas sim para tentar detê-la. Mas o que assistimos no Egito nestes dias é um novo levante revolucionário, um novo episódio da longa revolução árabe que passou a ter seu epicentro no Egito, o maior e mais importante país da região.

2. A Revolução Egípcia começou há dois anos quando, depois dos tunisianos, os egípcios ganharam as ruas e enfrentaram Mubarak, e com um caro número de mortos, terminaram derrubando o faraó. O enfrentamento e a queda de Mubarak foi o resultado de uma grande revolução que não parou e seguiu viva com o objetivo de conquistar seus objetivos democráticos e sociais. Naquele momento, os militares isolaram Mubarak para preservar a mais importante instituição das classes dominantes. O exército formou o governo provisório fazendo uma reforma constitucional antidemocrática para que houvesse eleições, em que venceu o islâmico Morsi contra seu candidato. Embora pareça paradoxal, naquele momento o triunfo de Morsi pareceu (e relativamente foi) uma vitória das massas contra o candidato dos militares, a partir da falta de uma alternativa democrática revolucionária.

3. Mas o governo islâmico moderado de Morsi no Egito não conseguiu aguentar mais de um ano. Em meio ao aumento da crise social e do colapso econômico e político do país, o governo de Morsi se constitui como um Governo que continuou amarrado aos interesses do grande capital e do imperialismo (não mudando nada desde a era Mubarak), e começou a ser questionado pelo movimento democrático e dos trabalhadores que se negavam a aceitar esta política de fome e crescente cerceamento das liberdades democráticas a partir da bandeira do islamismo.

4. Em Junho o povo se levantou novamente e protagonizou uma segunda fase da revolução que foi ainda maior que a primeira, sendo incubada em grandes lutas dos trabalhadores e organizada por um novo movimento, chamado Tamarad, que coletou mais de 20 milhões de assinaturas pedindo a destituição. A Revolução tomou todo o País. Houve ocupação de Sedes de Governos de províncias e de Sedes da irmandade muçulmana. A situação começava a ter características insurrecionais. Talvez tenha sido a maior revolução desde a revolução iraniana de 80.

5. A diferença da primeira fase contra Mubarak é que desta vez, ao tratar-se de um Governo eleito por votos e muçulmano, Morsi contou com o apoio de um setor do movimento de massas. O movimento islâmico pretende canalizar a situação em toda a região, mas os atos na Turquia, Tunísia e Egito mostram que a revolução democrática é muito mais profunda do que lhe pode oferecer o movimento islâmico.

6. Os Militares no poder são um risco para a revolução. Eles tiveram certas margens para tentar deter a atual onda revolucionária tomando o poder. Mas está muito longe de ser um golpe tipo Pinochet que triunfa sobre o esmagamento do movimento de massas. O que melhor explica o momento é o vazio de uma alternativa revolucionária consequente que pudesse unificar o conjunto do movimento de massas. É possível que Al Baradei e os outros setores democráticos que estiveram na ascensão do Governo provisório controlado pelos militares deem certa legitimidade ao novo Governo. Mas os militares estão, por agora, condicionados a chamar eleições, e não pelo apoio de Baradei, mas sim pelo grande processo democrático revolucionário do povo. Por isso é necessário manter total independência frente ao novo Governo, não lhe dar nenhuma confiança e apostar que as forças democrático-revolucionárias construam uma alternativa. O povo Egípcio tem aprendido muito em mais de dois anos de revolução para entregá-la aos militares.

7. Se o Movimento continua – e não há nada para pensar que não seja assim – a margem de manobra deste Governo é pequena e muito dificilmente ele tenha trégua. Nós, Internacionalistas que apostamos na Primavera Árabe temos que ter confiança, apostar e apoiar, para que destas lutas e desta grande vanguarda que está surgindo no Egito se construa a alternativa que a Revolução necessita.

Pedro Fuentes é dirigente do MES (Movimento Esquerda Socialista) e do PSOL.