Revolução Russa, Revolução Permanente e situação atual
Revolução Russa, Revolução Permanente e situação atual

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Degravação da intervenção de Roberto Robaina na escola de quadros do MÊS/PSOL do Rio Grande do Sul

Sobre a revolução russa, a teoria da revolução permanente e a situação atual

Nossa escola trata de temas muito vastos e os textos permitem que se desdobrem muitas discussões.
O debate da revolução russa e da permanente. Esse é o centro.
A primeira questão é a idéia do socialismo, da objetividade dessa idéia. A definição da necessidade do socialismo, da superação do modo de produção capitalista, remete a um debate que a Rosa Luxemburgo tinha com Bernstein, o debate com o revisionismo. Foi a primeira corrente no interior do movimento operário que militou contra o marxismo, falando em nome do marxismo. Foi uma corrente que apontava que o socialismo era uma possibilidade e que o capitalismo não necessariamente produzia contradições a ponto de levar a um choque que colocasse o socialismo como uma necessidade histórica. O socialismo seria uma opção ética, uma opção de justiça social. Bernstein dizia isso: o capitalismo desenvolve as forças produtivas e nós socialistas achamos que é preciso distribuir a riqueza de um modo melhor, que é preciso organizar a sociedade de um modo diferente, então por razões éticas e de justiça social nós defendemos o socialismo, mas ele não é uma necessidade, mas sim uma opção. A Rosa polemizando com Bernstein dizia que não, que o socialismo é uma necessidade, ou seja, ele se impõe como necessidade pelo próprio desenvolvimento do capitalismo e das suas contradições.
Esta discussão é importante e está relacionada com o debate sobre época revolucionária. O Marx definiu que uma época revolucionária se abre quando existe tal desenvolvimento das forças produtivas que este desenvolvimento entra em contradição com as relações de produção vigentes e, portanto, com a superestrutura que reflete, alimenta e defende estas relações de produção. Esta contradição, a medida que esta superestrutura quer conservar estas relações de produção e elas impedem o maior desenvolvimento da forças produtivas, provoca um período de choque e de contradições e se entra numa época revolucionária. O Marx < /span>dizia que a luta socialista ia começar na França, na Inglaterra, na Alemanha. Eram os países em que as forças produtivas tinham se desenvolvido bastante, ou seja, que a economia já estava num grau de socialização da produção que fazia com que a produção cada vez mais socializada entrasse em contradição com a propriedade privada.
A Crise mundial está relacionada com esta contradição, que está em vigor. A atual crise econômica mundial mostra novamente esta crise, mostra esta contradição em suas dimensões revolucionária. Por isso esta claro que se abriu um novo período histórico a partir de 2007, um giro na situação mundial.
Este assunto das forças produtivas provocou muitos debates. Houve um debate entre Moreno e Mandel ao redor do tema se as forças produtivas pararam de crescer ou não. O Moreno seguiu Trotski do programa de transição. Ali Trotsky disse que as relações de produção atuais não só fizeram as forças produtivas pararem de crescer como estão entrando num período de decadência. Eu vejo que é mais contraditório. Tivemos períodos. As forças produtivas tiverem um grande período de estagnação. Quando o Trotsky escreveu, de fato as forças produtivas tinham sofrido um grande baque. Ele escreveu em 38 e em 40 começou a guerra mun dial. Não existe nada melhor do que uma guerra mundial para destruir forças produtivas, fábricas, infra-estrutura, e milhões são mortos, uma destruição física de forças produtiva, inclusive forças humanas. A segunda guerra foi uma grande destruição das forças produtivas. Foi tão gigantesca a destruição que permitiu que no pós guerra tivesse uma reconstrução e, portanto, um novo salto na acumulação do capital, um novo salto das forças produtivas enquanto forças do capital. Era uma hipótese já levantada por Keynes. Ele dizia que se não há forma mais civilizada a guerra permite uma retomada da acumulação após um período necessário de destruição.
Quando falamos de forças produtivas não estamos julgando se as condições de vida vão melhorar. È claro que para que tenhamos progresso as forças produtivas necessitam se desenvolver mas crescimento das forças produtivas não quer dizer necessariamente bem estar para a humanidade ou pelo menos para toda a humanidade. Se fosse assim teríamos que dizer que as forças produtivas nunca se desenvolveram no capitalismo, por que afinal de contas quando o capitalismo começou a surgir ele provocou a morte, o assassinato de 50 milhões de indígenas na América latina. A acumulação primitiva do capitalismo iniciou com um massacre, um genocídio na America latina. Apesar disso é evidente que o capitalismo desenvolveu as forças produtivas, garantiu uma impressionante p rodução de riqueza material.
Este debate está relacionado também com as primeiras polêmicas que aconteceram na revolução russa. O Lênin, quando começou a atuar, a cultura que havia no movimento marxista era de que a revolução socialista só era possível na França, Alemanha, Inglaterra, por que aí eram os países de alta industrialização. Estes eram os países que o Marx apontou que a contradições entre as forças produtivas e as relações de produção iam explodir. O Lênin, na Rússia, foi quem começou a trabalhar com a idéia de revolução russa e a caminhar para uma idéia não diretamente de uma revolução socialista mas ao mesmo tempo com o proletariado num papel chave e disputando a direção. O Lênin elaborou a tese dele de revolução. O objetivo era instaurar uma ditadura democrática do proletariado e do campesinato, através de uma revolução que o Lênin definiu como uma revolução democrática burguesa.
O Lênin começa a elaborar sua política neste contexto onde tinha esta idéia de que a revolução era na Inglaterra, Alemanha, França. A Rússia estava um pouco fora da curva embora o Marx tenha chegado a especular sobre a possibilidade de acontecer uma revolução na Rússia. Antes de morrer o Marx chegou a falar da possibilidade que se passasse direto para um estágio de luta pelas coletividades camponesas. Havia uma potencialidade revolucionária na Rússia, tinha uma cultura revolucionaria. O Bakunin era russo, ele mesmo havia traduzido o capital < /span>para o russo. Os russos tinham vinculação direta com a Europa. O Plekanov era um grande quadro marxista, conceituado em todo o mundo europeu. A Russia era parte do mesmo movimento embora não fosse considerado um lugar onde ia se desencadear a revolução.
Mas a cultura dominante era de que a revolução russa era burguesa e ponto final. Dentro do movimento operário russo os mencheviques eram a principal expressão desta visão que também era a visão da maioria da II Internacional. Eles tinham uma teoria: que a revolução era democrática burguesa e quem tinha que fazer a revolução era a burguesia, o sujeito social era burguesia, estava o povo, mas a burguesia na cabeça, como agente mais importante, determinante. Como a revolução era democrático burguesa quem iria dirigir a revolução seria a burguesia, ou seja, também o sujeito político dirigente teria que ser a burguesia. O proletariado participaria, a burguesia dirigiria, dominaria. Assim o capitalismo iria se desenvolver e depois que o capitalismo se desenvolvesse estaria posta a luta pelo socialismo. Os mencheviques tinham uma visão bem etapista. Os mencheviques trabalhavam com a idéia de que na revolução democratico burguesa eles ajudariam a burguesia a chegar ao poder e seriam um oposição parlamentar, uma oposição nos sindicatos, às forças liberais burguesas tal qual a social democracia fazia na Europa
O Lênin não tinha essa visão. Ele dizia que sim, a revolução seria democratica burguesa, e achava delirante que se pensasse o contrário. Mas a diferença do Lenin para os mencheviques era o sujeito político dirigente. O Lênin abriu a possibilidade, dentro da revolução democrático burguesa, de surgir uma ditadura da maioria do povo, uma aliança do proletariado com os camponeses para, neste processo democrático burguês, serem maioria frente à burguesia e assim fazer um processo distinto, de desenvolvimento do capitalismo mas com enorme protagonismo social e político proletário que aceleraria toda a história.
O Lenin dizia o seguinte: um grande problema que tem a Rússia é o enorme peso feudal, o latifúndio, uma total exploração dos camponeses, grandes extensões de terra, nenhum processo de desenvolvimento avançado. Havia um processo de opressão gigantesco. Então ele dizia que havia duas hipóteses para se desenvolver o campo russo, o capitalismo russo. Na Rússia seja por que via for, vai ter capitalismo, dizia ele. Uma via seria os latifundiários fazerem um acordo com a burguesia, com o setor urbano da burguesia, para fazer com que o capitalismo vá entrando no campo, ou seja, para fazer com que as relações feudais fossem sendo substituídas pelo assalariamento dos trabalhadores, começar a ter salário e a explorar a mão de obra no campo a partir de uma relação salarial e de investimentos de capital no campo russo. Este era o caminho, digamos assim, da modernização conservadora.
Outro caminho de desenvolvimento capitalista era o defendido por Lênin, revolucionário. Lenin disse: vai se fazer uma reforma agrária, vai se dividir os latifúndios, vai se desenvolver as pequenas propriedades e o capitalismo vai ser o produto do desenvolvimento do investimento de pequenos proprietários que vão crescer como pequenos e médios capitalistas e vão dinamizar o mercado interno. O Lênin apostava neste desenvolvimento capitalista, que era a forma como se desenvolveu o capitalismo nos EUA. Em 1905, 06/07 era este o modelo que o Lênin defendia para a agricultura russa: o modelo dos EUA, que pouco tempo depois já seria a potencia capitalista hegemônica do mundo. O Lênin era um obcecado da analise concreta da situação concreta, então ele fazia política revolucionária ao redor da necessidade de responder ao desenvolvimento econômico e social do país. Tanto do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas quanto da melhora das condições de vida.
Por isso o início está relacionado com as forças produtivas, ou seja, se as forças produtivas se desenvolvem sem problema então fica um pouco socialismo utópico a idéia de uma revolução quando tudo está se desenvolvendo. Então o Lênin aponta: esse latifúndio aqui vai produzir o capitalismo, mas um tipo de capitalismo de exclusão total do povo e nós queremos é um processo mais dinâmico. E Lênin sustentava que este caminho exigia uma revolução. Mas que era uma revolução burguesa não havia polemica com os mencheviques e os bolcheviques. Qual era então a diferença?
Aqui entra o problema da lei do desenvolvimento desigual e combinado. O Lenin achava que na Rússia não seria um processo evolutivo como na Europa, ou seja, um longo período de dominação burguesa depois da revolução antifeudal e somente depois luta proletária. O Lênin já via, não só o Trotski que depois formulou isso como lei, mas o Lênin já via que a Rússia era um país capitalista especial que combinava o atraso brutal do feudalismo no campo com a moderna industria capitalista nas grandes cidades. Grandes fábricas, um proletariado concentrado nas duas principais cidades, Petrogrado e Moscou. O Lênin via que havia esta combinação. E a burguesia, que explorava os operários nas fábricas, fazia uma associação com os latifundiários no campo para fazer com que aumentasse o investimento capitalista no campo e desta forma, de modo paulatino, as relações feudais seriam substituídas por relações capitalistas. Esse era o projeto burguês. O Lênin dizia que esse era o projeto do capitalismo num processo normal, de exclusão do povo. Mas ele achava que tinha que ter um projeto capitalista, mas um projeto capitalista num processo econômico social distinto. Iria se realizar uma revolução democrática, onde o povo teria um enorme protagonismo e permitiria que a reforma agrária fosse feita. E a reforma agrária é uma tarefa democrático burguesa que foi realizada por revoluções como a francesa de 1789. Por isso a revolução seria democrático burguesa e não socialista. Esta revolução foi feita pela burguesia nas suas primeiras revoluções mas na Rússia não tinha sido feita ainda. E Lênin dizia que na Rússia a burguesia não faria a revolução democrática burguesa, ou melhor, que não seria a vanguarda da mesma nem a direção da mesma. Pelo menos a tarefa do prolet ariado seria a de disputar esta direção e levar adiante de modo claro e conseqüente a revolução democrática, sendo que quanto mais forte fosse a revolução mais rápido se passaria para um caminho socialista.
O Trotsky elaborou outra teoria. Ele disse: esse plano do Lênin não vai dar. Se de fato ele está certo e a batalha é prá ter uma revolução cujo sujeito social é o proletariado e os camponeses, e o proletariado terá um dinamismo e um protagonismo grande, de sujeito político dominante, os proletários não aceitarão derrotar o czarismo, assumir o governo e aceitar que os patrões sigam explorando os trabalhadores nas fábricas. Ele dizia que iria ter uma dinâmica de controle operário e de expropriação da burguesia. Isso ele escreve em 1905, no livro Balanço e Perspectivas. Então o Trotski fazia a ligação de que a revolução é democrática burguesa mas se transforma em socialista, ela é permanente. É daí que vem a tese da revolução permanente do Trotski, que ele começou a desenvolver em 1905 mas o que o Lênin nunca concordou, sempre achou que era meio delirante.
Lenin insistia que do ponto de vista econômico social essa questão do campo não teria solução a não ser com a distribuição de terra para os camponeses. A pequena propriedade. E a pequena propriedade produz o capitalismo, então o capitalismo iria se desenvolver por esta via. Mas o Lênin era um político e um estrategista que atuava sobre as circunstâncias, então ele não tinha resolvido como seria depois o desenvolvimento deste processo. A estratégia do Lênin era estabelecer uma ditadura democrática do proletariado e do campesinato sem definir quem teria mais peso no governo. Não descartava tampouco a participação da burguesia que participasse da revolução. Ao co ntrário, denunciava como anarquistas os mencheviques que usavam o argumento de que teria burguesia no governo para não participar de um governo originado da revolução democrática vitoriosa. Lênin deixava claro que participaria, que lutaria pela hegemonia no governo. Portanto tinha que ir administrando o desenvolvimento econômico social nos marcos do capitalismo e ao mesmo tempo procurando tirar o maior benefício econômico e social desta situação em que eles têm o poder e tem que ir manejando a situação, permitindo que siga o capitalismo mas que se transforme o mais rapidamente possível, ou seja, que mantendo o capitalismo mesmo assim o proletariado aproveite o máximo possível de seu controle sobre a política para melhorar as condições de vida do povo.
Então o Lênin apostava numa fórmula algébrica. Ele não definia claramente os tempos de mudança entre a revolução democrático burguesa e o início da revolução socialista. O Lênin não tem nada a ver com o etapismo. Essa idéia de que primeiro nós fazemos a revolução e depois o capitalismo vai se desenvolver e aí então é que o proletariado luta pelo poder não é Lenin. O Lênin via um processo ininterrupto. A luta pelo poder é permanente. Os tempos ele não definia mas sim a tarefa principal que era derrubar o czar através de uma insurreição e disputar a hegemonia da revoluçao. A estratégia é uma revolução para derrubar o czar, uma revolução democrática. O Lênin foi um obcecado por isso e fez o partido para isso. Não tem como derrubar o czar se não for através de uma revolução que seja feita pelo proletariado, pelo campesinato, pelos setores pobres. E Lênin luta para que um partido centralizado, democraticamente, mas centralizado, lute para dirigir a revolução. No caso concreto dos bolcheviques, o centralismo era de acordo com as condições e circunstancias. Quando eles começaram como Partido Operário Socialdemocrata russo tinha uma ditadura brutal em 1903, 1904 era super secreto super centralizado, para entrar no partido tinha que ser um quadro, passar por inúmeros testes, eram todos perseguidos. Depois teve momentos em que tinha mais ascenso, entrava gente no partido mais facilmente por que era uma situação de mais liberdade democrática. Eles foram intercalando as condições de intervenção do partido – principalmente a fração de Lênin – de acordo com as condições da realidade. A Rússia foi um país que viveu durante muito tempo em ascensão, revoltas camponesas, insurreições, greves, o tempo inteiro assim, e ao mesmo tempo contra revoluções fortes também. A de 1907 foi uma contra revolução pesada que os bolcheviques foram bastante desorganizados. O Lênin mesmo, uma boa parte desse tempo, de 1907 a 1917 ficou no exílio. Em 1905 foi o levante , um ensaio geral e um grande teste pra a linha do Lênin. E se deu tal qual o Lênin defendia, mas sem o partido, sem os bolcheviques preparados. Eles foram pegos de surpresa.
Na política o Lênin não errou em absoluto; acertou em cheio na idéia de que é o povo, os camponeses, o proletariado são os sujeitos sociais da revolução e que cabe ao partido ( no caso a fração bolchevique) fazer com que o sujeito social tenha correspondência no sujeito político, e portanto que seja também o proletariado que encabece e dirija a revolução e que seja parte do governo que vai promover reformas profundas, desenvolver o capitalismo, e ao mesmo tempo tentar ir melhorando a vida do povo e preparando as condições para o socialismo. Essa era a estratégia do Lênin, e ele não errou ao fazer esta tarefa se concretizar. E quando essa tarefa se concretizou ele soube tomar as medidas econômicas para desenvolver as forças produtivas de acordo com a correlação de forças e com a resposta do capitalismo.
Mas vejamos melhor tudo isso. O Moreno fazia toda a discussão que está relacionada com sujeito social e sujeito político. O Trotski fez uma tese, que depois de 17 ele desenvolveu, mas começou ela em 05, na qual ele corretamente apontou os elementos centrais da dinâmica da revolução russa. Trotski acertou em cheio nessa definição global: a revolução russa não se limitou a ser democrática burguesa. Passou a ser socialista. Esta dinâmica se impôs pela lógica da revolução e da contrarevoluçao em escala internacional.
Mas aí tem toda uma outra polêmica. O Trotski seguiu teorizando sobre a revolução russa e fez uma afirmação que buscou universalizar a experiência russa. Ele disse que as revoluções vão ser democrático burguesas, vão começar assim, mas vão se transformar diretamente em socialistas pela dinâmica social. Em 1929 o Trotski acrescentou que esta revolução tem que ser dirigida pelo partido comunista, que tinha que ter partido revolucionário para encabeçar a revolução para que ela fosse permanente. O Trotski entendeu a importância do partido. Mas em termos teóricos tem a polemica. O Preobajenski disse que o Trotski era um mal marxista por que estava baseando tudo no sujeito.
Trotski diz: a revolução democrática burguesa não tem como ser só democrática burguesa por que as tarefas acabam sendo socialistas. Mas ele agrega que tem que ter o partido e que o sujeito social é o proletariado. Para o Trotski não existe revolução democrático burguesa que se transforma em socialista sem o proletariado como sujeito social . Ele faz uma lei, é uma tese da revolução permanente. A revolução é permanente por que o sujeito social é o proletariado que vai fazer a revolução democrática burguesa. Mas as tarefas da revoluà �ão democrático burguesa levam ao enfretamento com os interesses do imperialismo e do capital. Portanto a revolução se transforma em socialista, é permanente .
O moreno se apoiou no Preobrazensky para desenvolver outra teoria. O Preobrazensky diz ao Trotski: Está errado dizer que tem que ser o proletariado, tem que te abrir, estamos a recém conhecendo o oriente. O Preobrazensk estava discutindo a China. E comprovou que nisso o Trotski errou totalmente. O Moreno agarrou isso. A China foi uma revolução cujo sujeito social principal foi o campesinato, mas o sujeito político na revolução chinesa foi uma tendência camponesa revolucionária que surgiu dentro do PC chinês encabeçada pelo Mao que através de um processo de guerra prolongada, que combinou com lutas na cidade, levou a uma revolução vitoriosa que expropriou a burguesia. Ou seja, não foi como disse o Trotsky nas teses. Nem o sujeito social foi o proletariado nem o sujeito político foi o partido bolchevique revolucionário. Mesmo assim teve expropriação, numa revolução cujo sujeito social foi o campesinato e a direção uma tendência camponesa.
Então aí o Moreno fez a sua elaboração e a sua generalização, se apoiando numa parte do raciocínio de Trotski em sua polêmica com Preobrazenky. Ele agarra a idéia do Trotski de que em função da contradição principal entre capital e trabalho, as lutas do proletariado vão levar diretamente uma luta anti capitalista e portanto a uma luta socialista. O Trotski tocou nisso e o Moreno generalizou. Trotski disse: se ataca o latifúndio e se unifica o país já vai ao socialismo. E Moreno disse é isso mesmo: para expropriar não precisa de direção socialista, nem do proletariado como sujeito social. Fez a definição dele e aplicou como exemplo a China, a revolução cubana que também foi uma revolução dirigida por um movimento revolucionário de classe média, o movimento 26 de julho, por setores pequeno-burgueses, com camponeses que encabeçaram um processo de guerrilha que também combinou com a insurreição urbana. A revolução cubana não se explica sem entender que em Havana teve uma insurreição para que a guerrilha fosse vitoriosa.
Mas depois o Moreno estendeu essa definição para o stalinismo definindo que o stalinismo não quis expropriar, mas ao ter que ocupar os países do leste, e no enfrentamento com o imperialismo, se viu obrigado a expropriar . Então o Moreno definiu que a dinâmica do enfrentamento levaria a expropriação mesmo que as direções não quisessem, mesmo que o proletariado não fosse o sujeito social. O Moreno fez essa definição.
Qual é o ponto que tem que neste debate está pouco desenvolvido e que nós temos que começar a trabalhar porque é um problema nosso: Eu concordo com o Moreno, o mundo do século XX demonstrou que pra que haja uma revolução que chega à estação da expropriação da burguesia não precisa partido revolucionário, e não necessariamente é o proletariado o sujeito social mais importante. A tese do moreno foi confirmada e ela é fundamental. Mesmo assim nosso objetivo é seguir lutando pelo que o Trotsky defendeu, ou seja, o proletariado como sujeito social e o partido revolucionário comunista como sujeito político. Mas isso não quer dizer que a revolução somente é possível com estas condições. Por isso o Moreno foi genial. Ele diz, eu que sou trotskista acho o Trotski genial e ao mesmo tempo critico tanto o Trotski! Moreno coloca isso. Mas por que tem tanta importância? Porque se de fato a tese de Trotski tivesse correta, então teríamos que dizer que todas as direções que encabeçaram processos revolucionários e que terminaram expropriando a burguesia devem ser definidas como direções parecidas com a do partido bolchevique e a direção do Lênin.< /p>
Então se a tese do Trotski está certa, e para expropriar a burguesia o sujeito social é o proletariado e a direção é o partido comunista revolucionário, logo o PC chinês é a continuidade do bolchevismo, o castrismo é a continuidade do bolchevismo, o estalinismo é a continuidade, por que expropriou em vários países. É todo um nó. Então eu acho que o Moreno estava certo. Mas isso tem conclusões práticas. Era um ótimo debate que fazíamos com a DS, mas agora a DS não quer nem saber de revoluções… Concordando com Moreno temos um problema.
O Moreno teve um problema quando viu as expropriações no leste europeu, a revolução chinesa. Ele pensou, bem se a tese do Trotski está certas então estas direções são as minhas direções. Mas então ele fez uma análise concreta, colocando que é preciso agarrar a essência da revolução permanente, que não é simplesmente apoiar as direções que expropriam, mas sim que a direção tem que ser internacionalista, que a revolução é internacional e que portanto é preciso de uma organizção internacional. A essência da revolução perman ente é defender que o proletariado seja o sujeito social fundamental da revolução. Podem acontecer revoluções nas quais o proletariado não é o sujeito social fundamental mas o trotskismo, ou seja, a corrente mais organizada que reivindica construir uma direção que resgate a herança da revolução de outubro, tem que ser uma direção que defenda o proletariado como sujeito social fundamental e que defenda o método da democracia operária, ou seja, defenda que sejam os trabalhadores organizados que decidam como atuar, como fazer os processos. Isto é oposto das experiências das revoluções cujo sujeito social foi o campesinato dirigido por correntes pequeno-burguesas que em geral montam partido exércitos que atuavam sem um processo de auto-organização das massas. Na China, em Cuba…aí entra um balanço que demandaria outro seminário, mas cuja conclusão é que todas essas experiências tiverem elementos pesados de degeneração burocrática e todas elas foram marcadas pela negação de uma política internacional conseqüente a favor da expansão da revolução mundial.
Voltemos ao nosso problema, que Moreno não teve política pra resolver. Qual a grande particularidade da revolução russa, o que nunca se repetiu?
Foi o sucesso do partido bolchevique. Olha a rapidez da revolução russa. Em fevereiro derruba o czar e em outubro os bolcheviques tomam o poder. A revolução russa foi acelerada, duas revoluções praticamente em uma, num intervalo muito curto. E foi a única que teve um partido estilo bolchevique, com as características do partido bolchevique . O problema do castrismo é todo um debate. Eu não acho que o castrismo tenha as características do partido bolchevique. O castrismo expropriou como reação, porque o imperialismo não quis negociar, não aceitou um país independente. É o que Trotsky disse para a China: unificação leva ao socialismo. Em Cuba, independência levou à expropriação da burguesia porque o impe rialismo não quis negociar. Não teve a habilidade que teve depois na Nicarágua. A revolução cubana é todo um nó e tem importância para o futuro por que tem a ver com Nicarágua, America central, com toda a história das revoluções latino-americanas.
Mas não estamos aqui estudando Cuba. Só dei o exemplo por que na análise do processo da revolução russa temos esse diferenciador. Do nosso nosso ponto de vista foi a única revolução cuja direção foi um partido internacionalista revolucionário, um partido que teve como estratégia expandir a revolução, que teve como estratégia a idéia de que é o proletariado que deve encabeçar os processo revolucionários . Isso não se deu mais. E também não se deu essa combinação de auto-organização democrática do proletariado através dos sovietes, essa combinação de sovietes e parti do revolucionário só se deu na Rússia. A nossa “escola”, digamos assim, com essa conclusão, fez uma definição: tem muitas revoluções de fevereiro acontecendo mas nenhuma de outubro. Isso é o que marca o mundo.
O moreno chegou a definir as revoluções de fevereiro recorrentes: Acontece uma revolução, os problemas não se resolvem, mas não tem outubro. Acontece outro fevereiro. E enquanto não se resolve o problema de ter organismo do tipo sovietes e um partido revolucionário não se dá o outubro. Moreno definiu corretamente que a estratégia é a mobilização de massas, a construção de organizações de auto determinação do movimento de massas e a construção do partido revolucionário . Isso foi uma definição do Moreno. É um padrão comum de elaboração das organizações que reivindicam o Moreno.
E não é só o problema de expropriar a burguesia para supostamente fazer o socialismo num só país. Não se resolve nada sem a continuidade da revolução . O processos retrocedem depois. O Tarso Genro chegou a escrever um livro “Moçambique a caminho do socialismo”. Cadê Moçambique hoje??
Vamos ver o caso do Egito hoje. E qual a revolução mais importante do que a do Egito que aconteceu nos últimos 20 anos? Nicáragua foi em 79. E quem apoiou a revolução no Egito? Que governo apoiou a revolução no Egito? Nem o Chávez, que trata de cuidar do quintal dele. Agora vem o Fidel dizendo que o Kadaffi tem de ser protegido. Como protegido, 40 anos de ditadura! Que se arrebente! Eu entendo as razões do Fidel, são razões de Estado, das relações comerciais de Cuba, da necessidade de petróleo. Esse é o ponto. Eles querem, de um jeito ou outro conservar, e uma organização revolucionária internacional não pode querer conservar, tem que apoiar a revolução.
Isso não quer dizer que não se tenha diferenças. O que não aceitamos é abandonar o internacionalismo para cuidar dos supostos interesses da revolução nacional. Quando os bolcheviques tomaram o poder fizeram a paz de Brest- Litovski, uma polêmica, uma pancadaria pesada.Uma fração dos socialistas revolucionários chegou a propor ao Bukárin, que era contra o acordo, prender o Lênin para continuar a guerra. Claro que ele repudiou a idéia, mas depois esta história, distorcida, foi um dos argumentos do stalinismo para assassinar o Bukárin. Ele era da fração mais de esquerda do partido bolchevique e era contra a linha do Lênin de fazer a paz. O Bukárin dizia: é guerra revolucionária, não tem conversa com Alemanha, é guerra. Já o Lênin dizia: Não, nós vamos perder, já estamos todos morrendo, vão invadir moscou. Precisamos ganhar tempo. Os bolcheviques fizeram o acordo, mas depois que fizeram o acordo, o Lênin não pediam para que tivessem que ele tinha feito um bom acordo. Ele dizia: eu tenho obrigação de fazer o acordo, não tenho outra saída, a não ser fazer a paz e entregar o território para ganhar tempo. Mas o acordo é uma merda. Se tu não és o governo da Rússia não tens que apoi á-lo. Foi essa a lógica do Lênin. Respirar, para quem sabe a revolução se estender para Alemanha aí romper o acordo. Ele estava apostando na revolução européia. Então se tu és da mesma organização que o Lenin seria um delírio ter como eixo atacá-lo , porque ele fez o acordo forçado. Mas tu és um capitulador se tu sustentar que aquele acordo é bom. O Lênin foi obrigado a aceitar mas se tu és parte de uma organização internacional , não és o governo, é diferente. Então tem que ver o contexto mundial para atuar. Então não nos peçam para ficar elogiando o Fidel ou o Chávez por não apoiar o Egito. Ao contrário, a posição deles enfraquece a revolução mundial, é um desastre a favor da contrarevolução. E pior ainda que falam em nome do socialismo.
Se essas correntes fossem internacionalistas teriam que dar passos concretos para construir uma organização internacional. O problema é prático. Eles não fazem isso. Ou o Chavez, por acaso está dando passos concretos para fazer uma organização internacional? Ou o Fidel, com 50 anos de poder, está armando uma organização intarnacional? Não. Então é muito importante a armação e a construção de uma organização independente. Na Venezuela, exagerando somos chavistas, mas temos que ter uma organização internacional independente.
Estou misturando muitas coisas, mas são temas ligados. Tem a ver com o fato que nós somos os únicos que estamos defendendo uma estratégia de revolução permanente. Se houver outros me apresentem. Temos que ir atrás deles e se eles forem mais fortes do que nós, seremos soldados deles. É lógico isso. E o desafio do PSOL é caminhar firme, como tem feito, nesta direção.
Mas na revolução do Egito foi cristalina esta diferença, uma diferença entre os aparatos burocráticos e as posições socialistas internacionalistas. .
Agora tem outra questão: nós sabemos separar a existência de regimes intermediários. Trostky disse que não havia. Este é uma das teses da permante: não há regime intermediário entre o bolchevismo e o kerenkismo. E nisso Trotsky errou feio. Regimes que não são como o Kerenski e que não são a ditadura revolucionária do proletariado podem sim existir. Nós sabemos separar. Existem regimes intermediários. O chavismo é um deles. Não é kerenkismo. Tem importância por que está relacionada com a especificidade da revolução russa, do fevereiro a outubro, onde foi muito acelerada a passagem de um regime ao outro, menos de um ano. Ali a revolução foi ininterrupta. Mas como disse antes, isso somente ocorreu na Rússia. Em outros países não ocorreu. Então, se não há outubro, quer dizer que os processos vai ser sempre totalmente congelados quase que na hora? Não pode se produzir fenômenos novos, que mesmo sem ser outubro são mais do que fevereiros, mais do que os fevereiros que no máximo dão novos governos contrarevolucionários? Creio que não. Regimes intermediários são possíveis. Seria o caso teórico da ditadura democrática do proletariado e do campesinato que lênin defendeu em 1905. Ou mais prosaico, o regime bolivariano.
Qual implicação teve para os bolcheviques a proximidade entre o fevereiro e o outubro? Em primeiro lugar a idéia de seguir a revolução, seguir a luta pelo poder como eixo da ação. Por que o Lênin pode ter como eixo não participemos do governo provisório, preparemos a revolução? Porque a revolução seguia! Eles derrubaram o czar, as massas seguiram na rua, tinham os sovietes e tinha o partido com influência de massas . Então havia a chance de seguir lutando. Naquela conjuntura não ter como eixo preparar a derrubada do governo provisório, não ter como eixo todo poder aos sovietes era uma traição à revolução. Mas nem todas as revoluções são assim.
O Stálin e o Kamenev erraram feio. Eles estavam armados com a velha formula: a revolução é democrática burguesa mas vai ser ininterrupta, vamos seguir lutando para desenvolve-la. Os bolcheviques da velha guarda não entram no governo mas dão apoio crítico. Estavam acomodados na idéia de que primeiro se faz a revolução democrática e depois vamos lutando internamente para desenvolvê-la.
Mas o Lênin era um fanático de que o partido deveria participar do governo depois do triunfo da revolução que derrubasse o czar. O Lênin escrevia tintas e tintas contra os anarquistas que não participavam de governos que eram fruto de revoluções vitoriosas. Mas quando a revolução de fevereiro derruba o czarismo, ela derruba o estado burguês, não sobra nada. São sovietes, as ruas tomadas pelo povo organizado. O Lênin, que estava fora da Rússia, volta e diz: não! É nosso, sem colaboraçao. Então ele propôs os sovietes para governar. Ele não defendia a necessidade de outra revolução. A revolução tinha sido feita. Esse negócio de fevereiro e outubro não existia para o Lênin, era uma única revolução. Era derrubar o czarismo e fazer o possível de acordo com a correlação de forças e a situação mundial. Ele entendia que a revolução tinha que se estender para a Europa, e que a revolução na Europa iria levar a revolução russa a se desenvolver no sentido do socialismo, aceleraria a transformação da revolução democrática em socialista. Mas o governo provisório foi muito de direita, tentaram roubar a revolução. Então o Lênin disse, nós vamos continuar. Ele não defendeu a insurreição em abril, mas sim uma política de confronto com o governo. Mas logo se deu conta de que seria necessária outra insurreição, que o governo provisório não entregaria o poder aos sovietes. A linha da insurreição foi neste desdobramento.
Mas quero reafirmar uma coisa: a linha de Lênin de 1905 foi o que garantiu a vitória de outubro porque foi a que viabilizou a queda de czar e construiu o partido bolchevique. O moreno agarrou essa linha do abaixo o czar. Ele aplicou na Argentina com “Abaixo a ditadura” armou o partido . O trotkismo foi muito forte na Argentina e ainda é forte após uma explosão . E a argentina fez uma revolução. Depois o Moreno estendeu essa caracterização e disse que no Brasil havia tido uma revolução. Nisso eu acho que ele errou, exagerou. Mas na Argentina de fato houve uma revolução democrática.
O Moreno não foi da linha esquerdista de botar programa socialista, que tem que se fazer das medidas econômicas e sociais o eixo da luta. Por isso às vezes ele foi criticado como oportunista pelos marxistas europeus. Por que ele defendia a linha de unir a todos para derrubar a ditadura, para fazer a revolução democrática. Mas o Moreno tinha a tese da revolução democrática que se transforma em revolução socialista. O Moreno já era uma síntese do Lênin e do Trótski e tinha elaborada esta idéia. Ele não tinha como cair no erro do Stálin e Kamenev de participar do governo, isso estava descartado .
Então voltemos ao Egito de hoje. Qual a política certa para o Egito, e para os demais países árabes? Tem setores esquerdistas que não dão bola pra a revolução democrática, que acham que se não é socialista então não é grande coisa, o povo não tá muito avançado, é perigosa… Conversa. O Moreno não comete este erro. E a situação da Argentina de hoje só se explica por que lá teve uma revolução democrática em 1982. Se não tivesse sido assim, o Argentinazo de 2001 teria possivelmente resultado em tentativas de golpe militar, Não teve por que o exército argentino sofreu uma derrota histórica em 1982. Os oficiais burgueses não podiam sair na rua, foram presos, até hoje respondem processos. A história brasileira foi totalmente diferente. O grau de organização estado burguês brasileiro é muito superior ao grau de organização do estado burguês argentino. Argentina vai dar muito que falar no próximo período.
Sigamos. O moreno viu a revolução democrática . Nós valorizamos muito as tarefas democráticas, valorizamos muito que no Egito tenha tido uma revolução democrática. Não foi uma revolução de outubro mas foi uma revolução e portanto houve uma alteração na correlação de forças entre as classes. Há uma situação muito melhor para construir um partido revolucionário , uma situação melhor para a classe lutar pelos seus interesses.
Aí entra a nossa discussão. Na Argentina teve a revolução democrática em 1982. O Moreno armou um programa correto , escreveu um livro “1982- começa a revolução” . Ele arma o partido para agora que já cumpriu-se a tarefa democrática o desafio é começar a lutar pela revolução socialista. Então, ele se apoiou na tese de fevereiro e outubro. Isso é do Moreno. Mas quando ele fez esta tese, ele tava obcecado para que o processo continuasse, mas não se deu assim. Ou seja, também na Argentina não se deu o fevereiro e o outubro. Já não foi no mesmo tempo a primeira e a segunda revolução. O interregno foi maior e até hoje, aliás, não se deu. E o Moreno se deu conta disso. Em 1987, quando o Moreno morreu e le já tava pensando este problema de que não é o mesmo tempo. Segundo me disse o pedro fuentes, então ele passou a dar mais bola para o Gramsci. O Gramsci foi um político que embora não tenha uma teoria da revolução tão completa como a do Trotski e do próprio Moreno, e nem tenha tanto texto de análise concreta porque viveu preso muito tempo, mas ele foi um marxista da cultura da terceira que não aderiu ao stalinismo e que viveu a experiência da Itália. Gramsci pensava o problema da revolução nos países do ocidente. Ele elaborou a idéia de diferenciação entre ocidente e oriente, de que um estado mais policial é mas fácil de derrubar do que um estado mais sustentado pela sociedade civil , como é no ocidente. Portanto há maior dificuldade de se aplicar no ocidente a mesma tática de insurreição tal como o leninismo defendeu.
Dessas teses do Gramsci todo um setor reformista começou a vender a idéia de que o Gramsci havia minimizado a importância da insurreição , coisa que não é verdade . O Gramsci problematizou que em estados ocidentais era mais difícil ter uma insurreição. E é. Era mais fácil tomar o poder neste processo de quebra do czrismo, e avançar ao socialismo do que em países onde as instituições são mais fortes nas sociedade, mais enraizadas na sociedade e portanto não é um estado tão distanciado do povo, é um estado que se reproduz também com o peso da ideologia e da superestrutura.< /span>
Esse é um debate importante por que é evidente que para nós o processo é esse. Para nós a formula do fevereiro outubro não pode ser encarada como lei. Não é um dogma. Trata-se de uma analogia, mas não se pode desprezar as revoluções, minimizar as revoluções porque não são de “outubro”, ou porque não são diretamente socialistas. E tem setores que exigem que o povo faça a revolução de outubro em seguida da de fevereiro, uma espécie de ultimatum ao povo. Mas o povo tem sua consciência e sua história. Olha o que o Lênin falava depois de fevereiro: “a peculiaridade do momento atual da Rússia consiste na transição da primeira etapa da revolução, que deu o poder à burguesia por faltar ao proletariado o grau necessário de consci ência e organização para sua segunda etapa, que deve colocar o poder nas mãos do proletariado e das camadas pobre do campesinato”. Mas não é este, por exemplo o caso do Egito. Seria um erro dizer que o Egito está se preparando para a segunda etapa da revolução onde o poder passará para o proletariado. Podemos ter esta estratégia, mas não necessariamente esta caracterização. No Egito nada que ver. O proletariado nem pensava no tema de tomar o poder, nem partido tem , mas teve uma revolução. Só que provavelmente pela ausência de partido revolucionário, pela ausência de organismos, parece pouco provável que no Egito tenha um outubro. Teve um fevereiro mas outubro não vai ter, pelo menos agora. Nossa política é tentar desenvolver, mas seria uma bobagem no Egito ficar discutindo apenas baseado na analogia fevereiro e outubro; isso é de uma pobreza total.
Até a queda do Mubarak a tarefa era derrubar a ditadura. Se encerrou e agora tem outras tarefas. Mas essa analogia fevereiro /outubro, que é a analogia que arma , ela não está dada. Por que tem tanta importância a idéia de regimes intermediários? Por que pode ser que continue a revolução egípcia, temos que apostar que sim. Se ela continuar é provável que o que tenhamos não seja uma revolução de outubro, mas que tenhamos uma nova revolução. Os que estão governando não vão sair sem luta, a revolução deu o poder à burguesia. Eu imagino que se a luta continuar vai ter novo choq ue , se continuar, se não se normalizar dentro do que pode ser normal uma situação de ascenso do movimento de massas e revolução no mundo árabe. Mas se continuar pode ser que se de um processo de regime intermediário. Eu não vejo outra coisa a não ser a possibilidade de regimes intermediários. Não é o que temos agora. Agora é uma junta militar que quer “normalizar” o estado burguês. Nós devemos ter uma política revolucionária cujo objetivo estratégico final é o poder dos trabalhadores, mas não se pode desprezar regimes intermediários, ou seja que não sejam nem o de Kerensky nem bolchevique, porque isso significaria desprezar regimes que de um jeito ou outro se chocam com os interesses do imperialismo e da burguesia. Seria, em ultima instância desprezar a idéia, e que o moreno tão corretamente defendeu, que mesmo sem o partido bolchevique, mesmo sem o sujeito social do proletariado sendo o protagonista principal , se pode ir além na ruptura com a burguesia. Portanto regimes intermediários como o do Chávez, Evo Morales podem sim ir além. Não é o caso de definir que o regime de Mão foi assim, uma espécie da ditadura democrática do proletariado e do campesinato?
Nós não somos seguidistas de Chaves, mas desconhecer este processo é desconhecer que se pode ter avanços da revolução sem o partido bolchevique , sem os sovietes, com a revolução sendo feita como ela é no concreto, não como nós desejamos que ela seja. Seria não entender justamente o caráter permanente do processo e como se pode acumular e ao mesmo tempo dar saltos. Digo isso pra fechar e seguir debatendo. Não temos resolvido. O esquema fácil não dá.
Nós temos que discutir com a vanguarda a realidade concreta e temos que armar um programa revolucionário para o Brasil . Se na Rússia de 1917 o Lênin não defendia a idéia de que tinha que passar diretamente para socialismo imagina o que temos que discutir aqui no Brasil, onde as forças produtiva estão se desenvolvendo?
( fala das questões concretas da realidade do RS e Brasil )
Qual é o segredo do marxismo? Nós achamos que tem que fazer a revolução, só que fazermos política numa realidade concreta, então temos que fazer a análise concreta da situação concreta, da correlação de forças. Se é desfavorável não dá pra propor coisas que não tem nada que ver. Então temos que estudar a realidade e ver quais são os elementos para realmente desenvolver o país, desenvolver as forças produtivas do país e melhorar a vida do povo. Em última instancia por que é necessário fazer uma revolução? Porque é preciso< span class=”apple-converted-space”> desenvolver as forças produtivas, por que o capitalismo faz com que as forças produtivas sejam travadas . Os bancos , o capital financeiro, a corrupção, são travas das forças produtivas. São as maiores travas das forças produtivas. E quando elas se desenvolvem, como agora, é apenas para servir ao capital. Mas mesmo no Brasil de hoje, quando a situação é não revolucionária, e quando o capital está se acumulando, há travas nas no desenvolvimento das forças produtivas e sobretudo ataque ao povo. Ou não é isso que explica que o estado faz ajuste fiscal ? Tem uma quantidade enorme recursos do trabalho dos brasileiros que sustenta os bancos, que nunca tiveram tanto lucro, lucro que é usado para sustentar as empresas capitalistas numa associação da indústria e dos bancos que a gente conhece no que dá.