G1, 23 de setembro de 2010
G1, 23 de setembro de 2010

| Saiu na Imprensa

Plínio é entrevistado pelo Bom Dia Brasil
Marina, Dilma e Serra foram ouvidos nesta semana.
Candidatos apresentaram propostas e falaram de temas polêmicos.

O candidato do PSOL à Presidência da República, Plínio de Arruda Sampaio, foi entrevistado nesta quinta-feira (23) pelo Bom Dia Brasil. Marina Silva (PV), Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) já foram ouvidos nesta semana.

Tonico Ferreira – O senhor e o seu partido defendem um regime socialista para o Brasil, mas a história mostra que todos os regimes socialistas desbancaram para a ditadura, para o estado policial. Não é uma contradição no seu caso, que é um político que sempre defendeu a democracia e a liberdade?

Plínio de Arruda Sampaio – O socialismo teve uma experiência e essa experiência não foi boa. Exatamente porque faltou a liberdade. Mas uma grande ideia, ela não se encerra na perda de uma experiência. Ela não se liquida. É preciso refazer essa ideia de novo aproveitando os erros da experiência passada. É isso que nós vamos fazer.

Tonico – Mas nós tivemos mais de 20 países que optaram pelo socialismo, todos foram para a ditadura, todos abandonaram, com a exceção de Cuba e Coréia do Norte hoje.

Plínio – Eu digo que foi a experiência em uma época histórica. Em uma época completa. Então, todas essas experiências formam uma experiência que não deu certo.

Tonico – A Petrobrás está vendendo ações ao público para se capitalizar. Mas o seu programa de governo diz que a Petrobrás tem que ser 100% estatal. Portanto, todos os investimentos que a Petrobrás pretende fazer tem que vir de onde? De dinheiro público? Por que desprezar o financiamento privado, para quê?

Plínio – Porque uma empresa da importância da Petrobrás, que é estratégica para fazer política econômica, ela precisa ser inteiramente do estado, para ter total liberdade de agir a fim de promover o desenvolvimento. São empresas estratégicas.

Tonico – Mas o governo tem 51% da Petrobrás, vai continuar tendo mesmo com a abertura maior do capital. Portanto, com 51% ela faz o que quiser e ao mesmo tempo o senhor recebe um dinheiro que não tem custo, que é o dinheiro do investidor.

Plínio – Mas a presença do capital privado em uma empresa pública é mais do que a  percentagem acionária, é a informação. O governo tem que agir também com a formação própria.

Tonico – Mas o governo vai conseguir mais de R$ 100 bilhões com essa venda de ações, que não custa nada a Petrobrás.

Plínio – O problema do Brasil não é dinheiro, Tonico. O problema do Brasil é a distribuição do dinheiro. De modo que mais R$ 100 bilhões para a Petrobrás não quer dizer grande coisa. O que é importante é que o governo tenha na mão as empresas estratégicas.

Tonico – Mas ele tem, candidato. Com 51%, tem na mão.

Plínio – Mas é o que eu digo, não terá a informação. Porque dentro de uma empresa o que se discute é uma estratégia. Essa estratégia é para conduzir o capital privado para um lugar que se deseja. Se o capital privado está presente, ele pode neutralizar a ação da companhia.

Tonico – O seu programa propõe o fim das organizações sociais de saúde, que são entidades filantrópicas que administram hospitais públicos. Por que o senhor quer acabar com a filantropia na saúde?

Plínio – Pelo seguinte: porque enquanto houver saúde pública e saúde privada, o pobre vai levar quatro meses para fazer um exame, um ano, dois anos para fazer uma cirurgia. E no princípio da igualdade é preciso que tudo seja público. Aliás, nós temos um exemplo no Brasil extraordinário que é a Rede Sarah Kubitschek. É um hospital público administrado descentralizadamente, com enorme autonomia.

Tonico – Mas no caso continuaria sendo hospital público, eles são hospitais públicos, só que feitos com entidades sociais filantrópicas. Só a administração é que muda para torná-la mais dinâmica.

Plínio – Mas é uma maquiagem. Outro dia eu estive em uma dessas que fez o seguinte. A coisa que não dava recurso, que tinha problemas, eles tiraram, que era um centro de estudos lá de problemas médicos. Aí eles tiraram e jogaram para fora, entendeu? Porque na verdade é uma forma de embutir, de enganar a extração do lucro.

Tonico – O senhor quer acabar com essas organizações filantrópicas, vai comprar fazendas ou pelo menos desapropriar grandes fazendas, vai recomprar empresas que foram privatizadas e ao mesmo tempo o senhor pretende dobrar os gastos com educação, aqui nesse ponto é até louvável. Mas de onde virão os recursos, porque se não tem de onde vem os recursos, eu posso até dizer o seguinte, melhor triplicar o dinheiro para saúde, para educação.

Plínio – Trinta e seis por cento do orçamento da União vai para o pagamento de juros da dívida. Uma auditoria nesta dívida faz cair tremendamente a quantidade do que o governo deve pagar e sobrará recursos tranquilos para duplicar a saúde, duplicar a educação. O problema do Brasil não é falta de dinheiro, o problema do Brasil é má distribuição do dinheiro.


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