Esta é a dura realidade da maioria dos jogadores de futebol. Para alegrar, vai o link do último gol do Fernando no Ferroviário! Tomaram dois, mas pelo menos o Fernando fez um!!
http://verdesmares.globo.com/v3/canais/noticias.asp?codigo=285947&modulo=173
No país da bola, futebol se torna um subemprego
Dois terços dos contratos registrados na CBF têm duração de até 4 meses, fazendo da profissão um serviço temporário
Jogadores cruzam o país para viver amontoados em alojamentos antes de sua entressafra, que começa com o final dos Estaduais
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO
Viajar milhares de quilômetros, muitas vezes de ônibus por estradas esburacadas. Dormir em alojamentos com menos de 100 m2 com outros 20 homens. Deixar a mulher, filhos, na cidade de origem. Tudo isso para trabalhar por três ou quatro meses a troco de, na média, menos de dois salários mínimos por mês e, depois, só levar incerteza de volta.
Parece a rotina de um boia- -fria que deixa o Nordeste para ganhar a vida nos canaviais paulistas. Mas essa é a realidade da imensa maioria dos praticantes da profissão que é sonho de quase todo menino do país.
Longe do minú sculo mundo dos grandes, o futebol do Brasil tem hoje uma estrutura de trabalho tão precária como as do camponeses que cruzam o país em busca de empregos temporários e mal remunerados.
A Folha fez um levantamento nos mais de 10 mil contratos registrados pela CBF em 2010. Nada menos do que 73% deles têm validade de, no máximo, seis meses, sendo que quase dois terços deles expiram em apenas quatro meses.
Como a maioria dos Estaduais acaba antes do encerramento do primeiro semestre, não é exagero dizer que pelo menos metade dos jogadores profissionais do país -são 23 mil, segundo a CBF- não tenha um emprego na segunda metade da temporada.
“Isso é horrível. Na realidade, a profissão de jogador de futebol virou um emprego temporário”, afirma Alfredo Sampaio, o presidente da Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol).
O sindicalista nem culpa os clubes pela situação. “É o mercado. Eles não vão fazer contratos de um ano se têm jogos por apenas quatro meses. A culpa é do calendário.”
Em todo o país, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, mas também no rico interior paulista, a tática é recrutar um batalhão de atletas em outras partes do país, alojá-los juntos em casas alugadas e dispensá-los quando o torneio acabar. “Precisamos questionar quanto vale ter a pena clubes como esses. Acaba sendo só um subemprego para os atletas”, declara Sampaio.
Em muitos casos, o fim dos contratos curtos pode acontecer ainda antes. Segundo os dados da CBF, na primeira semana de março aconteceram quase 200 rescisões de contratos, sendo que a maioria deles foi assinada já em 2010.
A precariedade do emprego não assusta os milhares de brasileiros que cruzam o país em busca de uma vaga que não vai existir em três meses. E um deles, o baiano Dênis, 29, que tem no Shallon de Rondônia o seu 11º clube, aponta um motivo prático para a realidade do mercado. “Se o seu nome está no BID [o boletim da CBF que mostra quem tem contrato válido], você tem mais chances de conseguir um outro emprego.”