20 de Novembro é dia de reflexão
20 de Novembro é dia de reflexão

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Hoje, 20 de novembro, é o Dia da Consciência Negra no Brasil, e deve ser dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade. A data foi escolhida por coincidir com a morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, principal líder da resistência negra à escravidão. Nos dias atuais, os negros ainda seguem sua luta contra discriminação e por inclusão, seja por inserção no mercado de trabalho ou cotas universitárias, seja na busca de respeito ou de sua identificação na moda, na cultuta etc. Essa luta, num país miscigenado como o Brasil, não é de uma só etnia. Todos devemos lutar por igualdade – social, entre raças, entre gêneros… O 20 de Novembro deve ser um dia de reflexão sobre seus valores para toda a sociedade!

Confira texto de Edilson Silva sobre esta data:

Povo negro: queremos mais que simbologia

Mais um 20 de novembro. Dia de lembrar e comemorar a imortalidade de Zumbi dos Palmares e tudo o que representou e representa sua luta e de seus herdeiros. Dia da Consciência Negra, dia de reflexão maior sobre os desafios dessa gente que foi trazida à força do continente africano para o Brasil e aqui, também à força, foi deixada à margem do acesso a condições dignas de existência, estabelecendo-se assim um passivo histórico do Estado brasileiro com estes.

É um dia propício, portanto, para se fazer um mínimo balanço das ações desta chamada esquerda que está no poder. O que mudou efetivamente para o povo negro no Brasil na era Lula?

Dizer que nada mudou seria injusto. Quando antes um negro chegou à posição de ministro no Supremo Tribunal Federal? Quando antes se teve uma secretaria federal com status de ministério para tratar exclusivamente da promoção da igualdade racial? Quando antes se teve uma lei federal que “obriga” o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas públicas? Há inúmeros outros avanços e são, inegavelmente, méritos do governo Lula.

No entanto, o passivo do Estado brasileiro com o povo negro não será minimamente resolvido apenas com simbologismos. A presença de Joaquim Barbosa, um ministro negro no STF, é uma exceção importante que confirma a regra. O ministro Joaquim, segundo artigo publicado pelo professor Eduardo Diatahy B. de Menezes, da Universidade Federal do Ceará, era um faxineiro que durante o trabalho no TRE do Distrito Federal cantava em inglês com fluência invejável, o que chamou a atenção de seus superiores, que o incentivaram materialmente, trocando-o de função, ganhando mais e com menos esforço físico.

Deram-lhe oportunidade e ele pode colocar em prática, com esforço também invejável, todo o seu talento. Joaquim Barbosa é ministro do STF por méritos próprios. O mérito de Lula foi não ter-lhe discriminado.

Outro exemplo de simbologismo insuficiente são as leis federais 10.639/03 e 11.645/08, que tratam da obrigatoriedade do ensino da cultura e história afro-brasileira e indígena nas escolas públicas. Essas leis não saem do papel, são apenas mais um reconhecimento cínico de que existe uma engrenagem cultural de perpetuação do preconceito racial no Brasil. Estas leis, para saírem do papel, precisariam de um mínimo investimento em capacitação dos professores, uma perseguição obstinada pela alteração dos currículos escolares, livros didáticos, etc.

Muitos foram os profissionais do âmbito da pedagogia, comprometidos com a causa da difusão e resgate da história e cultura afro-brasileira e indígena, que, ao verem aprovadas estas leis, apressaram-se em preparar especializações e capacitações em todos os recantos brasileiros. No entanto, esta é a dura realidade, a secretaria do governo federal, que deveria tratar de promover a igualdade racial, aquela com status de ministério, não tem disponíveis os recursos mínimos para que estas atividades aconteçam. Ou seja, só discurso.

Os recursos que faltam para investir na aplicação concreta destas leis sobram no orçamento federal para o pagamento de juros, amortizações e rolagem da dívida pública aos agiotas de plantão. São estes recursos públicos que faltam para o governo Lula sair da mera propaganda enganosa. São estes recursos que faltam para que nem todos os negros deste país precisem nascer com a genialidade de Joaquim Barbosa e com a mesma sorte que ele para “vencer na vida”.


Edislon Silva, negro, presidente do PSOL-PE
www.twitter.com/EdilsonPSOL