Jornal do Comércio, 9 de março de 2009
Jornal do Comércio, 9 de março de 2009

| Saiu na Imprensa

Feijó negou apoio ao P-Sol para impeachment de Yeda

Empresário bem-sucedido, o vice-governador Paulo Afonso Feijó conta, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, como iniciou na política, integrando o antigo PFL, hoje DEM, a convite do deputado federal Onix Lorenzoni. Feijó revela também que, durante visita da deputada federal Luciana Genro e do vereador Pedro Ruas, do P-Sol, no Palacinho, eles informaram que iam solicitar o impeachment da governadora Yeda Crusius na Assembleia Legislativa, diante das irregularidades ocorridas na campanha eleitoral de 2006.

“Eles queriam o meu apoio e, se a governadora fosse afastada, solicitaram que eu renunciasse ao cargo de vice”. Segundo Feijó, sua reação foi imediata e firme: “Vamos botar as cartas na mesa. Eu fui eleito como vice-governador. Não contem comigo para qualquer ato no sentido de pedir impeachment da governadora”.

Ele observa que é governo, mas está fora do governo, numa referência a seu isolamento decretado pelo Piratini, e lamenta que sua relação com a governadora Yeda Crusius nunca tenha sido de proximidade.

Além de defender uma administração transparente, Feijó define que governo eficiente é o que presta à sociedade uma boa saúde, segurança e educação. “Eu vejo o atual governo como uma mesmice”. O vice-governador avalia que “a economia gaúcha cresceu por causa da iniciativa privada, e não pela ação do governo”.

Jornal do Comércio – Como o senhor esclarece a polêmica visita ao seu gabinete da deputada federal Luciana Genro e do vereador porto-alegrense Pedro Ruas, do P-Sol?

Paulo Afonso Feijó – Recebi o vereador e a deputada diversas vezes, assim como outros vereadores e deputados. Nunca iria recebê-los às escondidas. Em uma ocasião, quando assumi o Executivo substituindo a governadora, por exemplo, fui visitar a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo do Rio Grande do Sul (Fase-RS) a pedido de Luciana. Convoquei o secretário da Justiça e do Desenvolvimento Social, Fernando Schüler, para ver comigo em que condições os menores estavam instalados. No final do ano passado, Ruas e Luciana também estiveram no Palacinho para me informar que entrariam com o pedido de impeachment na Assembleia. Queriam o meu apoio e, se a governadora fosse afastada, que eu renunciasse. Disse: “Vamos colocar as cartas na mesa. Eu fui eleito como vice-governador. Não contem comigo para qualquer ato no sentido de impeachment contra a governadora”. Foi isso o que aconteceu.

JC – E quanto à informação do P-Sol de que seus representantes estiveram com o senhor para fazer a coleta de informações antes das acusações contra o governo? Houve esta conversa?

Feijó – Houve tratando de corrupção de um modo geral. Ou, em tese, de que eles são favoráveis a uma maior transparência.

JC – E sobre a governadora Yeda Crusius?

Feijó – Não existiu uma conversa abordando a governadora. Me admiro do fato de algumas pessoas pensarem dessa forma. Se o governo cair, eu caio junto. Ingressei na política agora. Tenho dois anos de Executivo e iria cair junto com a governadora. Mas se houve irregularidade, que sejam apuradas.

JC – O que o senhor tem a dizer sobre as denúncias do P-Sol?

Feijó – Estou chocado com o que está acontecendo no Estado. Isso não agrega em nada à sociedade gaúcha. Mas não estou surpreso. Não cabe a mim fazer análises. Confio nas instituições e, certamente, se Pedro Ruas ou a Luciana Genro fizeram essas acusações sem provas terão de pagar pelo erro.

JC – Mas por que não se sentiu surpreso?

Feijó – Porque é do perfil do P-Sol, que agrega muito à política, à transparência e à busca da verdade. Acho isso favorável para a atividade política. Nós, como homens públicos, não podemos nos apertar. Temos de ser o mais transparentes possível nesse sentido. Mas não posso julgar o que Pedro Ruas viu ou não. Não abordei esse assunto e não vou abordar. Não é meu papel. Confio nas instituições e entendo que, se as provas existem, virão a público no tempo adequado, após as investigações.

JC – A resposta enviada pela governadora sobre as acusações foi adequada?

Feijó – Acho que esta é uma questão pessoal. Não sou eu quem tem que analisar este fato. Talvez a governadora tenha mais informações do que eu sobre tudo isso. É uma decisão pessoal. Certamente, ela deve tomar a decisão adequada no momento certo.

JC – A utilização de caixa-dois na campanha de 2006 e o pagamento de contas pessoais da governadora podem ter ocorrido?

Feijó – Não sei. Eu não estou dentro do governo. Sou governo, mas estou de fora. Não cabe a mim fazer essa análise. Hoje, existem instituições e tecnologias para avaliar isso e tornar público no momento em que entender que são fatos concretos.

JC – Durante a campanha, algum indício de irregularidade chegou ao seu conhecimento?

Feijó – Enquanto eu participei, não. Até porque existe um acordo entre o PFL e o PSDB, desde a pré-campanha, quando foi lançado o nome da governadora. Estabelecia o compromisso de o PFL não se envolver com recursos na campanha. Legalmente, perante o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), quem prestou contas foram as pessoas ligadas ao PSDB. Nenhuma pessoa ligada ao PFL participou deste processo. Foi o presidente estadual do partido, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM), quem me indicou para ser o candidato a vice. Não tinha interesse em concorrer. Sou muito ligado à família, tenho minha atividade empresarial. Onyx alegou que a candidatura ajudaria o partido, sendo eu um líder empresarial. Disse então que aceitava ser candidato, desde que fosse para algo a que eu não fosse eleito. Me foi sugerido então, a candidatura ao Senado. Comecei a fazer meu trabalho de candidato ao Senado quando Onyx, depois de uma reunião em Brasília com a Yeda, o Bornhausen, o Roberto Freire (PPS) e o Tasso Jereissati (PSDB), me disse que a campanha não estava indo bem. Tínhamos 3% na época e precisávamos fazer algumas mudanças. O Onyx disse: “Todo mundo acha importante o teu nome para vice, dorme pensando nisso”. Fui dormir e, no outro dia, já era o vice.

JC – E durante a campanha eleitoral?

Feijó – Minha relação com a governadora nunca foi de proximidade. No primeiro turno, foram atribuídas a mim algumas atividades de campanha. Para a nossa surpresa e de todo mundo, fomos para o segundo turno, e em primeiro lugar. Vencemos o primeiro turno em um domingo e, na segunda-feira pela manhã, a então candidata, chamou a mim e ao Onyx e disse: “Informo que a partir deste momento o Feijó não precisa mais participar da campanha. E o Onyx também não. Agora vou precisar dos partidos grandes, o PFL é um partido pequeno. Muito obrigado”. Uns três ou quatros dias depois, ela pediu que eu renunciasse e me disse: “Tu não és governo, tu não és da área, podes até atrapalhar”. Disse que consultaria o partido. Ela disse que não, que eu não deveria consultar ninguém porque eu era um homem de posição. Eu disse que havia sido convidado pelo partido e que tinha compromisso com quem votou na nossa chapa. Isso foi na semana que eu dei uma entrevista criticando a gestão do Fernando Lemos, no Banrisul. Defendi que o banco deveria ser administrado por técnicos. Isso causou problemas com o PMDB.

JC – E depois?

Feijó – Ganhamos a eleição e ela nunca mais nos chamou para o governo, mesmo para saber se indicávamos alguém para compor o secretariado. Ela fez toda a transição com Germano Rigotto sem ouvir, chamar ou dialogar com o PFL. Quando praticamente 70% do secretariado estava definido, ela me chamou e disse que o Aod Cunha gostaria de falar comigo, que certamente seria um secretário (ainda não estava definido que seria da Fazenda). O Aod me apresentou um plano de tarifaço. Eu disse para não contarem com o nosso apoio. Que eu não rasgaria o meu discurso para defender o aumento da carga tributária em hipótese alguma. A governadora disse que o projeto não seria encaminhado por nós, que o Rigotto havia se proposto a encaminhar ainda na sua gestão. Que nesse caso, o desgaste político não seria nosso. Para mim, era mesma coisa, ia refletir na nossa gestão. Então fui à Assembleia e trabalhei contra. Nós, governo, fomos derrotados, mas a sociedade ganhou. A partir daí, houve mais um racha. Ela me carimbou como oposição. Em seguida, quando estava para ser nomeado o presidente do Banrisul, encaminhei as denúncias que eu havia recebido. A governadora não quis receber.

JC – Longe do núcleo do governo tucano, quais têm sido suas atividades no Palacinho?

Feijó – A atribuição legal do vice é a de substituir a governadora quando ela estiver fora do País ou em viagens de mais de 15 dias. Sempre me coloquei à disposição com o objetivo de contribuir e ajudar o nosso Estado. Tenho recebido prefeitos, associações, movimentos, donas de casa, vereadores, deputados estaduais, federais e até de outros estados. No governo anterior, os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) estavam no palácio do vice-governador. Neste não. Os Coredes estão com o secretário Celso Bernardi, na Secretaria de Relações Institucionais, por deliberação da governadora. Yeda, de fato, não chamou o DEM e tenta me isolar o máximo possível.

JC – Se a governadora o convidasse para uma chapa de reeleição, qual seria a sua reação?

Feijó – Não teria o meu apoio, nem o do meu partido. Isso já foi dito, é público.

JC – O senhor será o candidato do DEM para as eleições estaduais em 2010?

Feijó – Não sei. Não tomei uma decisão pessoal, familiar, e também tem o partido para tomar uma decisão. Há muito o que acontecer até 2010. Mas se fosse hoje, eu diria não, não sou candidato.

JC – E uma candidatura a deputado estadual?

Feijó – A nada. Eu vejo que agreguei pouco e não consegui fazer nada. Se visse um horizonte em que eu possa agregar à sociedade, eu aceitaria o desafio.

JC – Qual a sua opinião sobre a administração estadual?

Feijó – Para mim, o bom governo é aquele em que a população tem o sentimento de melhora. Avalio o governo como a mesmice, não melhorou nada. Não defendo um estado mínimo, defendo um estado eficiente. Um governo eficiente é o que presta uma boa segurança pública, boa saúde pública, boa educação. Acho que o governo gasta muito recurso e energia em atividades que não geram recursos à sociedade. Enxergo a sociedade como cliente, até porque venho do meio varejista. A única diferença é que o governo não tem concorrente. Como contribuinte, pago impostos e não recebo os serviços. O governo gasta os centenas de milhares de reais que arrecada em atividade político-partidária. Partidariza a máquina em favor dos partidos e não da sociedade. Eu vejo o governo na mesmice. A economia gaúcha cresceu por causa da iniciativa privada, e não por causa dos governos. Quer impactar o Estado? Dê mais poder de compra para as pessoas, zere o ICMS dos produtos da cesta básica. Esses são benefícios efetivos que o governo poderia fazer. Também não tenho dúvida de que há um excesso de secretarias. Dá para fundir várias delas. A nossa proposta de campanha era a da redução. Mas, ao contrário. Acabou que o número foi ampliado. Por quê? Para satisfazer interesse partidário e distribuir cargos.

JC – E o déficit zero?

Feijó – O esforço é satisfatório. Mas acho que tem mais marketing do que déficit zero. É muito jogo contábil e de marketing. Mas houve melhoria. Diria que há equilíbrio efetivo. Até porque estamos entrando em uma época de depressão. Essa recessão vem para ficar e nem começou ainda no Brasil. Será muito mais impactante do que está sendo. No meu entender, é um ciclo de três ou quatro anos para recuperar tudo isso. É responsabilidade do governo apertar o cinto, gastar o mínimo. Por que o Estado tem publicidade? Será que esse dinheiro não seria mais útil na saúde pública e na educação? Hoje, é a sociedade quem sustenta o governo, e não o governo que sustenta a sociedade. Será que o governo precisa de tantos cargos de confiança?

JC – E o governo Lula?

Feijó – O governo federal, pelo contrário, está dizendo para gastar.

JC – A respeito da crise, como um liberal, o senhor avalia que o modelo ocidental de capitalismo e liberalismo foi abalado?

Feijó – Acho que não. Se fortaleceu pois a crise se deu em função, basicamente, da intervenção do governo democrata dos EUA nas gigantes do setor hipotecário. No governo Bush, os democratas ficaram com o BNH deles. Eles intervieram cedendo crédito para quem não podia pagar. O que aconteceu? Os liberais previram o colapso. Isso é uma intervenção do setor mobiliário e, em três ou quatro anos, vai levar ao colapso. E houve. Está claro de que aquelas eram duas empresas com gestão majoritária do governo democrata. É a mesma coisa que chegar aqui no Brasil e dizer para as revendas de automóveis e lojas de eletroeletrônicos, por exemplo, que fechem seus departamentos de crédito e vendam para todo mundo, não interessando a renda. A causa é intervenção. Como liberal, avalio que o dinheiro do contribuinte está sendo colocado em empresas podres. São bilhões e bilhões de dólares. Isso é Liberalismo? Capitalismo? Isso é intervenção de governo. Como o governo não gera recurso, ele tira do contribuinte. A crise será mais duradoura porque o remédio dá sobrevida à má atividade econômica. Deixa quebrar, que os bons vão permanecer e a sociedade não vai pagar o preço da má gestão. As pessoas gostam de dizer que é o capitalismo, o livre mercado. Livre mercado é: a empresa está mal? Deixa quebrar, que outro assume.