A matéria sobre a suposta facilidade em fazer partidos políticos, publicada pela ZH de domingo, é um exemplo de como não se faz jornalismo: o repórter é pautado por uma tese, e tem que fazer a realidade se encaixar nela. Foi isso que aconteceu. Leiam o e-mail que enviei à editora de política do jornal, Rosane de Oliveira, ainda no sábado à noite. Nada foi publicado nesta segunda-feira.
Rosane,
Te escrevo para um protesto veemente em relação à matéria de ZH dominical, sobre ser fácil fazer um partido. Vocês passaram por cima de informações importantes. O fato é que ERA fácil fazer um partido. A lei mudou recentemente, e um dado que vocês colocaram sem muita importância na matéria é fundamental: a necessidade de coletar cerca de meio milhão de assinaturas, com nome completo, data de nascimento e número do título eleitoral, que são devidamente checados pelos cartórios eleitorais. Cada uma das assinaturas tem que bater com a assinatura do cidadão lá na sua zona eleitoral, ou ela não é validada. Somente o PSOL e o PR, do vice José Alencar, tiveram que passar por esse processo. Os demais partidos foram formados pela lei antiga, onde bastava os 101 fundadores. Aí sim fica fácil. Tu não tens idéia do que é coletar meio milhão de assinaturas, sem ter dinheiro nem nenhuma estrutura partidária. Aqui no RS nós coletamos 100 mil, só com trabalho militante. O processo de formação e legalização do PSOL levou 1 ano! Muitas assinaturas eram devolvidas pelos cartórios pois a pessoa tinha assinado diferente do que constava na zona eleitoral. Aí tinha que ser refeita. Seria justo que os demais partidos também tivessem que coletar essas assinaturas! É claro que para quem tem dinheiro, ou a igreja como no caso do PR, pode não ser tão complicado, mas para nós foi um verdadeiro PARTO! Por isso não posso deixar de registrar a minha discordância das facilidades vendidas na matéria de ZH, até em respeito aos militantes que passaram um trabalhão, debaixo de chuva e sol, enfrentando o ceticismo e a legítima repulsa das pessoas aos partidos políticos, para poder por de pé uma nova alternativa de esquerda para o Brasil.
Obrigada pela atenção,
Luciana
Luciana