| Antirracismo

Na data em que muitas tradições afro-brasileiras homenageiam a orixá Oxum, a historiadora e ativista Fernanda Oliveira recebeu das mãos da deputada Luciana Genro (PSOL) o Troféu Carlos Santos, reconhecimento concedido a personalidades que dedicam sua trajetória à luta antirracista e à valorização da memória negra no Rio Grande do Sul. A cerimônia aconteceu em frente ao Mercado Público de Porto Alegre, território simbólico e profundamente marcado pela resistência do povo negro gaúcho, e reuniu dezenas de pessoas.

Além de reconhecer a ampla produção acadêmica de Fernanda Oliveira e seu compromisso em devolver ao povo negro o protagonismo historicamente negado, a homenagem ocorre no momento em que a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul é uma das pesquisadoras e coautoras que contribuem para o desenvolvimento do enredo da Portela, que desfilará em 2026 em homenagem ao Príncipe Custódio de Bará, figura central da história afro-gaúcha.

“Assim como Carlos Santos enfrentou a discriminação racial dentro da política institucional, Fernanda enfrenta, com inteligência e vigor, o racismo que atravessa o pensamento histórico, a universidade, a mídia e toda a vida pública. Ela produz história para devolver humanidade onde houve negação, reconstitui memória onde houve apagamento. Escreve com rigor, mas também com afeto porque sabe que a história é um campo de disputa e disputar a história é disputar o presente e o futuro”, pontuou Luciana Genro durante o evento.

“É a partir desse compromisso ético e historiográfico que as novas gerações poderão conhecer as verdadeiras origens da nossa identidade e compreender que a presença negra não é um capítulo à parte, mas o fundamento da história do Rio Grande do Sul e do país”, compartilhou a homenageada ao se dirigir ao público.

“A luta antirracista não é apenas cultural, acadêmica ou moral. Essa luta é política! Exige ação, orçamento, legislação e prioridade. Exige que a política faça o que Carlos Santos fez ao desafiar estruturas injustas, e que a pesquisa de Fernanda reafirma diariamente: o Brasil só será um país democrático quando a população negra puder viver com o direito à igualdade real”, finalizou a deputada. 

A entrega do Troféu Carlos Santos a Fernanda Oliveira simboliza o reconhecimento a memória, a luta e a força daqueles que fazem da pesquisa e da ancestralidade um instrumento de libertação, essa essencial para que o Brasil reconstrua sua história com os devidos créditos aos negros gaúchos e à realeza africana que moldaram cultural, espiritual e politicamente o país. 

Príncipe Custódio de Bará

Nascido no Benim e trazido ao Brasil em condição de escravização, Custódio integrava uma linhagem da realeza africana e tornou-se referência espiritual e política para a comunidade negra no Sul do país. Sua trajetória, marcada pelo culto aos orixás, pela organização comunitária e pelo enfrentamento às violências coloniais, é um dos pilares da memória e da resistência negra gaúcha.

Carlos Santos

O troféu leva o nome de Carlos Santos, o primeiro deputado negro na história do parlamento gaúcho, eleito em 1935. Precursor na luta pela igualdade de raças, neto de pessoas escravizadas alforriadas, Carlos Santos nasceu em 1904, na cidade de Rio Grande. Sua liderança como metalúrgico lhe rendeu o seu primeiro mandado como deputado estadual. Aos 31 anos deu início a sua carreira política e, em janeiro de 1967, Carlos Santos elegeu-se também presidente da Assembleia Legislativa.

Luciana Genro entrega troféu Carlos Santos para Fernanda Oliveira