Centenas de militantes, filiados e apoiadores do PSOL se reuniram no último sábado (26/03) na primeira reunião aberta de 2022 dos mandatos das deputadas Luciana Genro e Fernanda Melchionna. Como o tema “Transformar o #EleNão em #BolsonaroNuncaMais”, o encontro ocorreu no auditório Dante Barone, da Assembleia Legislativa, e contou com falas de companheiros de luta que atuam nas diversas pautas que movem o trabalho político das duas parlamentares, dentre as quais as lutas LGBT, antirracista, feminista, sindical, a defesa do meio ambiente, a luta por moradia e dignidade nas periferias, o acesso a educação, esporte e cultura.
“Nossos mandatos só fazem sentido nessa luta, que é muito mais ampla do que estar no Parlamento. Uma luta para construir uma alternativa política no país, uma esquerda coerente. A situação política do país demanda uma luta incansável para derrotar a extrema direita, derrotar o Bolsonaro. E transformar o ‘Ele Não’ em ‘Bolsonaro nunca mais’ é a tarefa que temos pela frente”, convocou Luciana Genro, em sua fala inicial no evento, após abertura feita pela bateria do coletivo de juventude Juntos!. As deputadas destacaram a importância do PSOL ser uma alternativa de esquerda diante dos desmontes provocados pelo governo Bolsonaro.
“No bojo da grande unidade que faremos para derrotar Bolsonaro, precisamos construir o PSOL como um partido independente, que não aceita governar com a burguesia, não aceita a conciliação de classes, não aceita a corrupção, venha do lado que vier. O enfrentamento vai precisar seguir sendo feito”, apontou Luciana Genro. Fernanda Melchionna lembrou da condução desastrosa de Bolsonaro na pandemia e na economia, que faz com que a população esteja pagando preços absurdos por produtos básicos.
“Não teríamos perdido 650 mil vidas se não tivesse um negacionista sentado no Palácio do Planalto, que transformou o Ministério da Saúde num gabinete paralelo de delinquentes da extrema-direita, que infelizmente boicotaram todas as medidas sanitárias, a vacinação, boicotaram o povo brasileiro. Ele tem atrapalhado muito o Brasil, devastado o meio ambiente, piorado a vida do povo”, elencou, acrescentando em seguida as lutas da população que resistiu a essas políticas, como o tsunami da educação e a mobilização popular que garantiu a proibição de despejos durante a pandemia.
O vereador Pedro Ruas, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo PSOL, também fez uma fala inicial sobre a temática principal da reunião. “O ano de 2022 é um ano para mudar o Brasil e isso inclui nosso estado. Aqui, vamos ter candidatura própria, para chamar o Heinze de fascista, o Lorenzoni de picareta, chamar do que eles são na frente de todo mundo. O PSOL existe para isso, para confrontar, para fazer diferença, para ajudar nosso povo, para ter mandatos como da Luciana e da Fernanda”, afirmou.
O papel do PSOL no contexto político brasileiro também foi destacado por Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre. “Sem alterar a estrutura política do país, sem fazer com que os bilionários paguem pela crise, sem lutar por um poder real pra classe trabalhadora, nós não teremos mudanças profundas para realmente melhorar a vida do povo. Isso nós já sabemos. Vamos continuar herdeiros da Rosa [Luxemburgo], do Maio de 68, e vamos seguir lutando, seguir exigindo a realização do impossível”, colocou.
Revogar as reformas, nenhum direito a menos
O primeiro bloco de militantes e convidados que falaram no evento foi composto por trabalhadores que estão na linha de frente na luta por mais direitos e contra as reformas promovidas por Bolsonaro. Representando o movimento sindical e os trabalhadores da saúde, Júlio Jesien, do Sindisaúde, destacou os ataques dos governos e as vidas perdidas na pandemia. “Estima-se mais de 14 mil trabalhadores da saúde morreram no Brasil, enquanto brigamos pela falta de reconhecimento daqueles que nos empregam, principalmente o governo federal. Não basta simplesmente aceitar as palmas, a gente quer valorização, palmas não bastam”, afirmou.
A trabalhadora do IMESF Daniele Galdino relatou a luta desses servidores, muitos dos quais em plena pandemia se viram desempregados com o desmonte do instituto. “Eu sou agente de saúde, nós trabalhamos diretamente com a população e não tivemos direito algum. Sabemos que a saúde precisa de mais gente trabalhando, e não menos”, destacou, colocando sua admiração por Luciana e Fernanda.
O dirigente sindical do Sindicaixa e da Construção Socialista, Érico Corrêa, abordou a luta em defesa do IPE Saúde, que Luciana Genro vem encabeçando, e pelos servidores em geral. “A Luciana, inclusive, desde que a Caixa Estadual foi fechada ela já votou contra, e neste momento ela encabeça e lidera essa luta para salvar o IPE Saúde. Isso nos dá muito orgulho”, disse.
A luta dos municipários de Viamão foi representada por Maria Darcila Tinoco, que relatou os embates com a prefeitura da cidade para assumir a presidência do Conselho Municipal das Mulheres, após a determinação de que sindicatos não poderiam mais estar no órgão. “A Fernanda enviou um ofício ao prefeito de Viamão e a Luciana fez um vídeo em apoio a nós. As mulheres de Viamão que hoje sofrem violência estão sem atendimento, porque eram encaminhadas para o Condim”, relatou.
Katia Bortolini, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Educação de Sapucaia do Sul (Sintesa), contou como se sentiu inspirada ao conhecer Fernanda, quando estava desiludida com a política após fazer parte de outro partido. “A nossa luta lá em Sapucaia é grande, tivemos luta gigante com todos os partidos na prefeitura. E Fernanda e Luciana estão na luta com a gente sempre”, afirmou.
Presidente do sindicato de trabalhadores da Gerdau em Charqueadas, Luis Carvalho, o Luisão, agradeceu às deputadas pelo apoio à ocupação que os funcionários realizaram na empresa, em luta contra a mudança de turnos que resultou em perdas salariais. “A Fernanda, a Luciana, o Robaina e o Ruas sempre estiveram junto conosco nas lutas. Tivemos um enfrentamento muito grande do polo naval de Charqueadas que o PSOL aderiu e foi profundamente responsável e parceiros nessa luta. Temos uma luta contra o império Gerdau e eles divulgaram, denunciaram”, colocou Luisão.
A mesa também contou com um depoimento por vídeo do soldado Ederson Rodrigues, brigadiano de Pelotas, fundador do movimento União dos Praças, que agradeceu o envolvimento de Luciana com a pauta. “Dentre todos os parlamentares, uma apenas vestiu a camisa, procurou se inteirar sobre a nossa situação e nos defendeu como se fosse a nossa comandante. A deputada Luciana Genro. E foi através dela que nosso movimento ganhou força e adquiriu respeito. Hoje dentro da instituição, entre os praças ela é símbolo de luta e de representatividade na Assembleia”, contou.
Derrotar a extrema direita e avançar em direitos
Representantes de movimentos de mulheres, da negritude e LGBTs estiveram presentes na segunda mesa da tarde. Lucélia Gomes, da ONG Sempre Mulher, relatou a luta que a organização travou contra a prefeitura de Porto Alegre pelo pagamento referente ao contrato de provimento de equipe do Centro de Referência ao Imigrante (CRIM). “Depois da ordem de início, recebemos a informação de problemas orçamentários. Apesar de não receber, a equipe continuou trabalhando por 3 meses. O Robaina e a Luciana Genro foram fundamentais nessa luta. Fizemos reuniões com o prefeito e conseguimos receber o valor proporcional ao período que trabalhamos. Foi uma luta que sem a bancada do PSOL a gente não teria conseguido resolver essa demanda”, afirmou.
Coordenadora da Emancipa Mulher, escola feminista e antirracista fundada por Luciana Genro em 2017, Carla Zanella saudou as iniciativas de ambas as deputadas nessa temática, como a destinação de emendas para abrigamento de mulheres vítimas de violência e a lei que destinou duplo auxílio durante a pandemia para as mães chefes de família. “Estivemos juntas distribuindo absorventes, a Fernanda travando a luta para derrubar o veto do Bolsonaro e a Luciana lutando por um projeto para distribuição de absorventes aqui. No governo Bolsonaro, ter duas vozes como da Luciana e da Fernanda nos representando é necessário. É urgente que elas possam continuar fazendo esse trabalho”, disse.
Carla, que é filha de santo, também falou sobre a temática dos povos de matriz africana. Ela destacou o trabalho de Luciana Genro na cartilha do povo de terreiro e em defesa das religiões de matriz africana. O trabalho das duas parlamentares para a população LGBT foi abordado pela militante Taynah Ignácio, que citou as políticas públicas que foram tornadas possíveis por iniciativas delas. “Com a ajuda desses mandatos e do vereador Robaina, temos um ambulatório trans, com destinação de meio milhão de reais, temos uma casa de acolhimento LGBT que está em vias de sair, fruto da emenda da Fernanda. Vai ter um centro de acolhimento também”, elencou.
Irmão do jovem Gustavo Amaral, morto em uma ação da Brigada Militar em 2020, Guilherme Amaral foi homenageado no evento e fez uma fala sobre o combate ao racismo. “Negro correndo no campo de futebol é ídolo, mas correndo na rua é bandido na visão de alguns policiais, como aconteceu com o meu irmão. Pra coibir isso, teve a lei das Câmeras da Luciana, da qual não vamos desistir. O PSOL mostra que é do povo, é de todos. O PSOL que me procurou, isso mostra o quanto vocês pensam nas causas sociais e se importam conosco”, colocou.
Luciana Genro entregou a ele um quadro do Malcolm X, símbolo na luta pelos direitos civis, pelos direitos da negritude nos EUA. “Ele se transformou num ícone da negritude para enfrentar a violência, a discriminação. O Gustavo vive, assim como as outras vítimas do racismo e do genocídio do povo negro, nas nossas lutas e na nossa resistência”, afirmou a deputada.
A educação é a nossa arma
Após a performance “Nos queremos Vivas!”, da Tânia Farias, integrante do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, que emocionou os presentes com sua forte mensagem sobre feminicídio, educação foi o assunto a ser discutido, com a presença de dois ex-alunos e um coordenador do cursinho popular Emancipa. “O cursinho não representa só um espaço para colocar milhares de jovens pra dentro da universidade, mas também pra propor um outro tipo de educação que seja emancipatória”, exprimiu Bryan Rodrigues, que hoje é estudante de Economia da UFRGS e militante do coletivo Juntos!
A estudante de Matemática, coordenadora-geral do DCE da UFRGS e também integrante do Coletivo Juntos!, Ana Paula Santos, se somou à fala de Bryan: “Precisamos exigir assistência, permanência nas universidades. É fundamental que a gente mantenha o mandato da Fernanda e da Luciana, porque a gente sabe que é importante travar a luta dentro do Parlamento. São mandatos combinados com a luta do povo, elas estão nas ruas, nos atos, e tem um compromisso de defender a educação pública, pra que todo mundo aqui estude numa escola que tenha professor, laboratório, que tenha universidade. A gente acredita que a educação é nossa arma de transformação”.
O professor Marcus Vianna, que também leciona na rede municipal e é coordenador-geral da Atempa, a associação municipal dos trabalhadores em educação, falou da violência que vem ocorrendo nas periferias de Porto Alegre. “Estamos enfrentando um choque de facções, tivemos um tiroteio durante a manhã na frente de uma escola, em que mataram um ex-aluno da escola na luz do dia. Precisamos ter representantes da política de esquerda socialista que vão no Parlamento e combatam os cortes da educação, que façam como a Luciana, que está detonando essa proposta do novo Ensino Médio, que é estudar só português e matemática”, disse.
Periferia é o centro: dignidade para todos!
Em seguida, foram ouvidos representantes de movimentos de luta por moradia e pela dignidade nas periferias. Integrante da Frente Nacional de Luta (FNL), Claudia Favaro destacou as dificuldades pelas quais as periferias têm passado com os governos atuais. “Bolsonaro vem atacando todos os nossos direitos. Quero fazer ecoar a voz do Marcus, que veio trazer a questão da guerra do tráfico de drogas, que tem atingido diversas comunidades. E para além disso dizer que a FNL também tem sofrido ataques na luta do campo. A violência no campo em 2021 cresceu 1056%, então queria a solidariedade de todas e todos”, colocou.
Juliano Fripp, do Conselho Regional de Moradia Popular, relatou que as ocupações São Luis e Império estavam em peso no evento, “e atendem o chamado porque entendem que é aqui o lugar de lutas”. Os moradores levavam cartazes de apoio a Fernanda Melchionna, que encabeçou a luta em defesa das ocupações da cidade na Câmara de Porto Alegre quando era vereadora.
“É de anos que a gente tem tido o apoio da Fernanda e da Luciana. E por isso as pessoas estão aqui, porque acreditam que lutar é preciso, mas do lado certo. Luciana tem uma Frente Parlamentar em Defesa da Moradia Digna, que a gente usa para combater os burgueses que querem tirar a nossa moradia. Não posso deixar de citar as AEIS da Fernanda que manteve esse povo todo nas ocupações, e agora a ADPF, que segurou as pessoas nas suas casas durante a pandemia”, mencionou.
Líder comunitário do Rubem Berta, Cleusi Coelho relatou que conheceu o PSOL em circunstâncias trágicas, quando perdeu seu filho em 2013. Mas, agora, faz parte de um partido que “é uma família”: “E eu ‘tô’ com essa família, da Fernanda, da Luciana, Robaina, Ruas. O sobrenome deles é segurança, cultura, juventude, educação, saúde, idosos, saneamento básico e comida na mesa”.
Do outro extremo da cidade, Benhur Pedroso é líder comunitário na Restinga e destacou o trabalho das deputadas nas lutas contra o racismo, pelos LGBTs, pelas religiões de matriz africana. “A Luciana fez uma cartilha que fala do nosso povo de terreiro. E quero dizer que a Restinga está junto com a Fernanda, com a Luciana, e dizer que ele não, ele nunca!”, entoou.
Carregando as bandeiras do Haiti e da Venezuela, que representam a luta dos migrantes, Fátima Cardoso falou enquanto líder comunitária e coordenadora do Emancipa Santa Rosa de Lima. Ela entregou a prestação de contas da entidade para as deputadas. “Quando forem dizer que elas só vêm quando tem eleição, aqui é a prova de que estamos lá todos os dias, levando solidariedade ativa, educação, assistência social. Hoje o PSOL não é só a Luciana e a Fernanda, é essa camada de lutas e principalmente dos que mais estão precisando. Temos uma luta árdua com os migrantes, eles não têm casa, nem comida, nem moradia. Mas nós estamos aqui”, afirmou Fátima.
Queremos comida, diversão e arte!
O coletivo Embolamento Cultural realizou uma performance de hip hop, rap e street dance, que foi seguida da fala de Tiry Coelho, representante do projeto cultural Cohab É Só Rap. “Hip hop, música e cultura estão diretamente entrelaçados à política quando estamos dentro de um partido que tenha pessoas que têm responsabilidade com movimentos. Fico muito contente de estar num partido que arquiteta isso para a periferia realmente estar fazendo cultura”, colocou.
Ele narrou a luta pela permanência no espaço do Embolamento Cultural, que foi cedido por Sebastião Melo quando era vice-prefeito e, agora, está ameaçado pela própria prefeitura. Luciana Genro articulou para que o assunto fosse levado à Comissão de Direitos Humanos, o que fez com que houvesse uma reunião com a prefeitura sobre o assunto.
O esporte também foi tema da mesa, com a presença da Adélia Atti, a Mestra Didi, de capoeira. “Na pandemia, fomos os primeiros a parar e os últimos a voltar, muitos não voltaram. E ficamos fazendo uma série de ações e atendendo o pessoal. A questão da mulher, da luta antirracista, da intolerância religiosa, tudo isso aparece no meu trabalho com jovens”, relatou ela, que realiza projetos sociais com jovens de periferia e já recebeu uma Medalha da Legislatura entregue por Luciana Genro. “Todas as vezes que a gente pede socorro, Luciana prontamente atende. Esses mandatos nos fortalecem e nos fazem seguir”, elogiou.
O presidente do Sport Club Magia, Carlos Renan dos Santos Evaldt, destacou a importância dos mandatos de Fernanda e Luciana na luta pelas pessoas LGBTs. “Sabemos que sempre podemos contar com vocês, que levantam nossas bandeiras e nossas lutas. É muito importante termos representantes como vocês pelo tanto que nós sofremos, pelo tanto que nós precisamos de ajuda simplesmente para sobreviver. Ter vocês levantando essas bandeiras, nos defendendo, isso nos salva”, afirmou.
Preservar a Vida! Pelo ecossocialismo e a defesa dos animais
Representando a setorial Ecossocialista do PSOL, Ricardo Sommer falou da importância de se ter mandatos comprometidos com a causa do ambiental. “O capitalismo não pode solucionar a crise climática e ambiental. Além de movimentos, precisamos de mandatos que reivindiquem o ecossocialismo. Por sua atuação contra a política ambiental do governo Bolsonaro, Fernanda foi eleita pelo Observatório do Clima como parlamentar mais atuante nas mudanças climáticas. E aqui no estado, o mandato da Luciana contribuiu muito para derrotar o projeto Mina Guaíba”, resgatou.
A ativista causa animal Lúcia Helena da Luz destacou sua história com Luciana, que tem sido parceira do projeto Cão da Guarda, que ela administra. “A causa animal é muito utilizada de forma oportunista e isso é uma grande frustração. E aqui, sem querer, encontrei na Luciana um parceira, que é amante dos animais também e já desenvolvemos muitas ações. Estamos crescendo bastante em um curto espaço de tempo”, disse.
O vereador de Pelotas, Jurandir Silva, fez uma fala lembrando sua trajetória no partido e a relevância do PSOL nessas eleições e para o Brasil em geral. “Em 2022, completo 20 anos militando no MES. O que eu vi e ouvi hoje faz com que eu tenha muito orgulho de ter dedicado cada dia da minha vida a construir o MES, e faz com que eu tenha mais disposição para fazer o mesmo nos próximos 20 anos, no mínimo. É a força da coletividade que está aqui colocada, representada, diversa, maravilhosa”, refletiu, acrescentando ter aprendido que conquistar espaço nas eleições é muito difícil.
“Cada espacinho que a gente tem, a gente lutou muito para conquistar e tem que lutar muito para manter. Queremos fazer com que a política responda aos interesses do povo e não dos empresários. E isso a gente faz construindo mandatos como o da Luciana e da Fernanda”, destacou.