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O Congresso do PSOL acontece em meio a maior emergência sanitária do nosso tempo. No Brasil, a gestão genocida da pandemia de Covid-19 tem contribuído para aprofundar a crise econômica, social e política. Não há dúvida que a nossa prioridade central é derrotar Bolsonaro. O MES e o CB têm dado essa batalha todos os dias, consciente que esta luta democrática exige a mais ampla unidade com todas as forças, especialmente com as forças que reivindicam a classe trabalhadora.

Além disso, neste cenário de crise multidimensional, a tarefa de postular o PSOL como uma ferramenta de luta para os trabalhadores torna-se ainda mais urgente. Para isso, precisamos nos afirmar como um projeto político independente, com um programa anticapitalista. Esta é a batalha central do VII Congresso e que tem dividido a direção nacional do partido. Diante deste contexto social difícil, nos orgulha muito que o PSOL esteja crescendo no Rio Grande do Sul e que a posição em defesa de um partido independente, que une diversas tendências internas, tenha uma clara hegemonia em nosso estado, onde certamente terá o apoio de mais de 90% dos militantes.

Para ajudar o crescimento do PSOL gaúcho, com maior enraizamento e fortalecimento dos diretórios do interior, estamos apresentando o nome da nossa dirigente nacional e deputada estadual Luciana Genro como candidata a presidenta do partido no Rio Grande do Sul. Luciana carrega consigo a marca de um PSOL coerente e independente, que não negocia direitos. Como deputada e dirigente, tem defendido os interesses da classe trabalhadora e do povo gaúcho na Assembleia Legislativa e tem ajudado a articular as lutas sociais em diálogo com as comunidades dos bairros de Porto Alegre e diversos municípios do estado. Através da bancada do PSOL, tem se reunido com ativistas e diretórios das cidades do interior para articular política. Por conta da pandemia, as reuniões estão sendo online, mas a ideia é que quando possível sejam presenciais.

Considerando que:

1. A situação nacional é trágica por uma combinação entre a pandemia, o governo da extrema-direita de Bolsonaro com seu negacionismo ativo e uma crise econômica que se aprofunda desde 2014 no país, ainda com Dilma no governo. Uma saída às ruas é uma necessidade, ainda que encontre dificuldades pela emergência sanitária, há resistência e bastante ódio contra o governo por milhões de brasileiros. A burguesia atua como cúmplice do genocídio e segue com uma tática de “desbolsonarizar” o governo, retirando os ministros das alas mais associadas às estruturas da extrema-direita, mas sem a decisão de tirar o chefe. Entretanto, os fatos decorrentes da condução criminal na pandemia de Covid-19 dividiram a classe dominante, fazendo com que o governo perdesse força em setores-chave, como nas Forças Armadas, e tenha que enfrentar uma CPI no Senado. Já foram abertas algumas janelas para o impeachment e não se descarta que possa se abrir novamente, esta é a batalha que temos que dar, buscando a maior unidade de ação possível, sem perder a independência de classe. Bolsonaro está mais enfraquecido, o que não significa menos perigoso com o poder que ainda conserva. Há resistência social, mas o movimento de massas ainda não passou à ofensiva. Reafirmamos que a nossa tarefa número 1 é derrotar Bolsonaro. Aqui no Rio Grande do Sul em particular, o PSOL é parte importante dela, como abordaremos mais adiante.

2. Há miséria, desemprego e desespero na classe trabalhadora, uma ofensiva contra os direitos. As direções reformistas, bastante desmoralizadas, são incapazes de dar uma direção ao movimento, apostando todas as suas fichas no terreno eleitoral para voltar ao governo. A restauração dos direitos políticos de Lula dá materialidade a esta orientação. A restituição de Lula significou uma vitória democrática e se apresenta como uma possibilidade do movimento de massas obter uma vitória eleitoral sobre Bolsonaro, o que é importante. Por outro lado, este possível cenário Lula versus Bolsonaro leva o primeiro, sendo um líder conciliador, a apresentar um programa de colaboração de classes, como foi durante 13 anos de governo, porém agora com menos espaço econômico para concessões aos trabalhadores. Há setores da burguesia dispostos a embarcar no projeto de Lula? Ainda não está tão claro quais, mas o fato é que Lula está em sua busca. Por isso, se coloca a necessidade de afirmação de um programa coerente com nossa existência enquanto partido. Nascemos da experiência que demonstrou que “quando se governa com a burguesia, quem governa é a burguesia”, como disse

AugustBebel.SaímosdoPTpela mesmaportaqueentrouoPMDBdeTemer,que fez o que fez. Somos produto desta experiência e devemos convencer os trabalhadores e ajudar em sua organização para que ela seja superada pela esquerda, que é a única saída de fato para a crise atual.

3. É certo que há uma situação sanitária que dificulta a ação independente de massas, mas a orientação para os ativistas anti-Bolsonaro não pode ser aguardar 2022, quando um genocida governa o país. É preciso derrotar Bolsonaro o quanto antes. Sabemos que não há unidade na burguesia em apoio a Bolsonaro, mas há unidade em esfolar os trabalhadores. O que inclui governos como o de Eduardo Leite. A pandemia aumentou a miséria, mas também aumentou o número de bilionários brasileiros. Escancarou a desigualdade do país e o caráter infame de sua classe dominante. Por isso mesmo, é preciso afirmar um programa que taxe os milionários para que os pobres não paguem o boleto da Dívida Covid. Um governo que faça a Auditoria Cidadã da Dívida Pública que na pandemia passou de R$ 5 trilhões. Que enfrente o latifúndio, taxando a exportação que encarece o pão de cada dia dos brasileiros, fazendo a reforma agrária junto aos camponeses. Que nacionalize o sistema financeiro, enfrentando o capital rentista que consome o dinheiro público a juros e dividendos, sem pagar impostos por suas “tenebrosas transações”. Que combata a corrupção, seja de onde vier, sem seletividade. Que faça uma reforma urbana e garanta moradia digna às populações das comunidades. Que seja antirracista, contra o machismo, contra a discriminação das comunidades LGBTQI+ e não troque estas bandeiras por alianças de ocasião. Que defenda o emprego, o salário e os direitos dos trabalhadores. Que combata as privatizações e afirme o compromisso com os serviços públicos e seus servidores. Que tire das mãos dos acionistas privados a Petrobras e sua política de preços que impede cerca de 15 milhões de brasileiros de comprarem um botijão de gás.

4. Apontar uma saída pela esquerda e antirregime é a tarefa do PSOL desde sua árdua fundação. Com perfil independente e classista, o PSOL tem se fortalecido muito. Temos mais de 250 mil filiadas e filiados, que possibilitam que as lutas da classe trabalhadora e da juventude se encontrem no PSOL. Temos uma bancada de 10 parlamentares no Congresso Nacional, ganhamos peso nos parlamentos estaduais e municipais, inclusive dirigimos a prefeitura de Belém do Pará. Em Porto Alegre fomos o partido mais votado para vereador na cidade, por exemplo. Mas nosso crescimento não é só parlamentar ou eleitoral. Acumulamos uma grande

responsabilidade no país, no estado, nas cidades e temos criado referências importantes para os setores mais avançados da classe trabalhadora, dirigindo sindicatos, DCEs, associações comunitárias, ocupações urbanas e rurais. Diante disso, em um cenário de polarização social e política que marca a conjuntura nacional e mundial, mais do que nunca precisamos apresentar nosso programa anticapitalista de forma independente, fortalecendo uma saída pela esquerda para responder às demandas da classe trabalhadora.

5. A partir deste enquadramento, nós que subscrevemos esta tese e temos dedicado os nossos esforços para derrotar Bolsonaro, defendemos que o PSOL tenha candidatura própria à presidência da República em 2022 e apoiamos o nome do companheiro Glauber Braga, deputado federal do Rio de Janeiro, para encabeçar a tarefa. Fazemos essa defesa, ao mesmo tempo que orientamos o conjunto das nossas atividades para a luta contra Bolsonaro, na tentativa de derrotá-lo antes da eleição ou nela se necessário. A batalha diária contra Jair Bolsonaro ainda não resultou em seu impeachment. Mas tem levado ao seu enfraquecimento. Sendo possível afirmar que, mesmo que Bolsonaro seja candidato em 22, a tendência mais provável é que tenhamos uma eleição em dois turnos. Logo, não estando no segundo turno, evidentemente o PSOL irá apoiar um candidato contra Bolsonaro. Melhor que seja o PT e não de um partido burguês, por conta do caráter das bases com as quais o PT dialoga e ajuda a movimentar. Mas o PSOL tem a obrigação de apresentar seu programa e seu perfil ao povo, num momento ímpar em que falamos com milhões e podemos denunciar os negócios dos patrões e seus aliados políticos, assim como apontar um caminho independente dos partidos da ordem, que proponha mudanças estruturais para a transformação real da sociedade, como muito bem fez nossa companheira Luciana Genro em 2014.

6. Por fim, consideramos um grave erro a flexibilização do nosso programa e o apagamento da história do PSOL, de coerência e enfrentamento a qualquer medida e governos que ataquem os direitos dos trabalhadores, para nos diluirmos no programa da Frente Popular. Ou pior, para a entrada em um possível governo Lula. Para nós isso significaria uma mudança na natureza do PSOL. A direção partidária que encabeçar tal virada de orientação responderá na base e publicamente por este grave erro. A luta de classes costuma surpreender os

centristas. Devemos seguir construindo o nosso projeto sob os marcos da afirmação do PSOL como um partido anticapitalista e independente.

CONJUNTURA ESTADUAL

Vivemos no Rio Grande do Sul uma crise profunda, que teve como marco a assinatura da dívida do Estado com a União ainda na era Brito/FHC. Uma dívida que em 1998 era de 9 bilhões, que atualmente está em 69 bilhões (o que representa 84,9% de toda a dívida interna do RS), sendo que desde 98 já foram pagos mais de 30 bilhões. Soma-se a isso, as perdas de receitas estaduais com o impacto da Lei Kandir no RS sem a devida complementação da União e os benefícios e isenções fiscais a grandes empresas sem nenhum controle público de suas contrapartidas. Problemas nunca enfrentados por nenhum dos governos.

A situação gravíssima das finanças estaduais, comprometidas com uma dívida impagável e baseada numa dinâmica de agiotagem da União com o Estado, tem sido denunciada pelo PSOL gaúcho desde 2006. A luta para abrir a caixa preta das isenções bilionárias de impostos no Rio Grande do Sul também é uma das nossas bandeiras históricas. Além disso, temos apresentado propostas importantes para mudar a lógica da tributação estadual, para ampliar a contribuição dos milionários, e desonerar os trabalhadores e a classe média. Defendemos a taxação dos artigos de luxo, aumentando para 25% a alíquota de ICMS sobre a compra de bens como aviões e helicópteros e de automóveis e motocicletas acima de R$ 140 mil e R$ 60 mil, respectivamente. Também defendemos a isenção do imposto sobre heranças de até R$ 200 mil, e o aumento da cobrança sobre as heranças acima de R$ 1 milhão.

Ao apresentar medidas de enfrentamento à crise econômica e propostas para melhorar a situação financeira do Rio Grande do Sul, também expomos que cobrar a conta dessa crise do conjunto do funcionalismo e entregar o nosso patrimônio público para a iniciativa privada é uma escolha política dos governos neoliberais, para atender aos interesses das grandes empresas e das famílias mais ricas do estado. Como é o caso do governo Eduardo Leite, que embora não seja de extrema-direita, nem anticiência ou negacionista, segue a mesma agenda econômica nacional e as suas pressões. Foi rápido em aprovar a reforma da previdência, espoliando ainda mais os professores, policiais militares e o conjunto

do funcionalismo estadual. Luciana Genro, representando a bancada do PSOL na Assembleia, esteve na linha de frente do enfrentamento aos ataques de Leite aos servidores civis e brigadianos de nível médio, fortemente atacados.

Por conta dessa lógica nefasta de cobrar a conta da crise dos de baixo, o conjunto do funcionalismo teve quase 5 anos de parcelamento de salário, sem contar a perda real de poder de compra com o congelamento dos salários nesse mesmo período. Situação que será piorada com a aprovação da PEC 186 pelo Congresso Nacional, acionando os gatilhos de congelamento de aumentos de salários, inclusive reposição da inflação, até 2036 aos Estados com mais de 95% das receitas comprometidas, caso do RS. Significa que trabalhadores em educação, saúde e policiais militares terão previsão de mais arrocho por um largo período de tempo se não alterarmos a correlação de forças a favor dos trabalhadores e revogar esses ataques.

Eduardo Leite ainda avançou de forma célere na retirada da obrigatoriedade de plebiscito para a privatização da CEEE, Sulgás, CRM. Mesmo com a coleta de mais de 84 mil assinaturas para a realização do plebiscito, a Assembléia Legislativa ignorou a vontade do povo gaúcho de decidir. E em meio à pior pandemia da nossa história, o governo Leite vendeu a preço de banana a CEEE – D, por apenas 100 mil reais para uma empresa equatoriana. Na mesma esteira, apoia a PEC 280 na ALRS, que é de autoria de Sergio Turra, mas encomendada pelo Palácio Piratini, preocupado em abrir caminho para privatizar Corsan, Banrisul e Procergs. Aliás, as duas primeiras tiveram a “palavra” do então candidato Eduardo Leite de que não seriam privatizadas. Não só comete estelionato eleitoral com os que acreditaram não estar nos planos do PSDB gaúcho vender Corsan e Banrisul, como quer tirar do povo a possibilidade de decidir sobre seu patrimônio.

Na gestão da pandemia, o governador Eduardo Leite não seguiu as orientações da OMS de testagem em massa para o monitoramento do vírus e, sem dados concretos e atendendo a pressão de prefeitos e empresários, Leite optou pela flexibilização das restrições. Desta forma, o Rio Grande do Sul já ultrapassou a marca de um milhão de casos confirmados de infectados por coronavírus e mais de 25 mil pessoas perderam a vida. Estamos há semanas operando com capacidade superior a 80% dos leitos de UTI e, durante março, superamos 100%. Chegamos a triste realidade de que, pela falta de leitos, pessoas morreram esperando na fila.

Para piorar, o sistema de distanciamento controlado, organizado por classificação de bandeiras, que já tinha muito peso de indicadores econômicos, foi substituído por pelo sistema Triplo A (aviso, alerta, ação). Evidenciando que o governador e os prefeitos fizeram um pacto de omissão mútua na crise para diluir as pressões do empresariado e permitir a flexibilização das restrições de forma descontrolada.

Sem uma gestão eficiente da crise em nível estadual, e a catástrofe em nível nacional, vivemos uma situação dramática. A pandemia aumentou as desigualdades e leva a população ao desespero, sem ter como colocar comida na mesa. O enfrentamento à Covid-19 depende da ampliação do plano de vacinação, de protocolos sanitários científicos e de políticas públicas que garantam emprego e renda para a população e auxílio para pequenos e médios empresários. A luta por vacina para todos também foi uma marca do PSOL na Assembleia Legislativa, em coordenação com os diretórios municipais do partido em todo o Estado realizamos uma reunião virtual e lançamos um abaixo assinado pela vacina, além das nossas deputadas Luciana e Fernanda terem reunido com o governador para fazer esta exigência, ambas também destinaram emendas parlamentares para a compra da vacina.

Eduardo Leite é a cara nova da velha política, da velha burguesia, e ao se alçar a concorrer a presidente acelera o conjunto de maldades contra os trabalhadores e servidores públicos para mostrar “serviço” ao mercado e à burguesia brasileira.

Construção do PSOL RS

1. O PSOL gaúcho é uma peça fundamental para a própria existência do partido nacionalmente. Além de grande parte da elaboração e da aposta às quais dirigentes do RS foram responsáveis após a expulsão dos Radicais do PT, até o esforço hercúleo de coletar as 600 mil assinaturas (válidas) para o PSOL nascer. Fomos o segundo estado que mais coletou assinaturas no país. Temos hoje 17.750 filiados no PSOL gaúcho em mais de 200 municípios. Embora a direção desses trabalhos seja um desafio permanente, temos crescido e nos espalhado. E mesmo sendo um partido pequeno em influência na totalidade do RS, temos um peso eleitoral importante, especialmente na capital, que nos possibilitou a conquista do

nosso segundo mandato estadual e a retomada de espaço na Câmara Federal e a eleição de vereadores em Pelotas e Viamão. Infelizmente, em Viamão a nossa experiência no parlamento foi interrompida, mas a participação dirigente no Sindicato dos Municipários (SINVIA), na coordenação do 22o Núcleo do Cpers, a construção do Movimento Negro SANKOFA e a forte interação militante com o movimento indígena, demonstram o fortalecimento do partido na base social daquela cidade. Também tivemos muita adesão para as nossas candidaturas em cidades-polo, como Santa Maria, Passo Fundo e Gravataí. E muitos candidatos foram a expressão das demandas da classe trabalhadora e da juventude e deram um bom combate na Região Metropolitana, na fronteira e na zona sul do estado. Em Caxias e Canoas ainda estamos com menos força orgânica do que corresponderia ao peso político e temos o desafio de avançar rapidamente.

2. Somos hoje um partido que dirige ou codirige sindicatos importantes no RS. O Sindisaúde/RS é um exemplo de trabalho insistente de construção e, nesse momento da pandemia, tem sido vanguarda nas ações e denúncias. O Sindicato dos Metroviários já há algum tempo tem companheiros do PSOL em sua direção e tem sido linha de frente das mobilizações (em plena pandemia) e na luta contra a privatização do Trensurb. Temos trabalhos em diversas categorias como parte da direção, como é o caso dos Municipários de Porto Alegre (SIMPA), presidimos o SINVIA, em Viamão, e somos parte da atual coordenação do 22o Núcleo do CPERS. De um trabalho bastante sólido na saúde da capital, dirigimos associações importantes na área como ASERGHC, ASHPS e a recém-nascida ASSERPV. Na área da educação também temos peso como partido, somos parte das oposições à direção no CPERS e dirigentes atuam em muitos núcleos pelo estado. Somos parte da direção da ATEMPA (trabalhadores em educação de POA), além de termos militantes atuando na linha de frente da Associação de Mães e Pais pela Democracia, que encabeçou as carreatas pelo Fora Bolsonaro na capital. O Emancipa e a Emancipa Mulher consolidaram-se como um movimento social de educação popular e já têm algumas cidades no RS que fazem esta experiência. Há companheiros do PSOL na direção do Sindicaixa, Sindisprev, da UGEIRM (policiais civis), ASSUFRGS (inclusive na FASUBRA), ANDES, entre tantos outros pelas diferentes cidades. Muitas vezes, mesmo não estando no sindicato, temos militantes importantes nas categorias. Como o caso dos rodoviários de Porto Alegre. É certo que necessitamos aumentar nossa inserção no terreno sindical, um ponto ainda

débil no PSOL nacionalmente, mas já acumulamos alguma experiência e um nível de intervenção de grande responsabilidade no estado. Para possibilitar uma intervenção decidida e unitária do partido sobre os setores mais organizados da classe trabalhadora, queremos fortalecer a nova TLS, tendência sindical impulsionada pelo MES.

3. Grande parte de nossa base social e política está na juventude. Herdeira de Junho de 2013, das ocupações de escolas em 2016, do Tsunami da educação em 2019. Somos parte da direção dos DCEs da UFRGS e da PUCRS. No movimento estudantil universitário, o PSOL tem intervenção em muitos IFs e universidades pelo estado. Com a pandemia, o movimento secundarista ficou represado, mas também há intervenção e presença nas entidades como a UBES e a UMESPA. A força que temos na juventude é combinada às bandeiras democráticas por liberdade e igualdade. Somos referência da luta feminista. As mulheres que fizeram a Primavera Feminista e estiveram no #EleNão têm nas parlamentares e nas dirigentes do PSOL uma ferramenta. Também o movimento LGBTQI+ e antirracista encontra no PSOL um instrumento para sua luta no terreno político. A campanha presidencial de 2014 teve também este mérito de estabelecer um canal de diálogo com os ativistas que combinam as lutas contra opressão e exploração. Opartidotemsidoumdosprincipaisespaçosdeencontro,organização e expressão eleitoral da causa LGBTQI+. Na Assembleia Legislativa essa luta também se expressou na primeira ação parlamentar da nossa deputada, conquistando a instalação de uma comissão especial de enfrentamento a violência contra a população LGBT e a aprovação de um relatório que condensa as principais demandas do setor. Na luta da negritude somos parte importante da vanguarda e das ações do movimento. Nos atos em referência ao assassinato de George Floyd, na denúncia aqui no estado do assassinato de Gustavo Amaral, na luta por João Alberto, assassinado por seguranças do Carrefour, nos atos antifascistas e com grande expressão eleitoral tanto em POA, como em Pelotas e Santa Maria. No movimento Hip Hop temos inúmeros ativistas de diversas cidades filiados ao partido e atuando em defesa da cultura da periferia.

4. Também no movimento popular e de luta pela moradia, com todas as dificuldades, temos avançado. Tanto por meio do Emancipa e da Emancipa Mulher quanto trabalhos nos bairros, especialmente em Porto Alegre, onde atuamos no movimento comunitário em bairros importantes da cidade, como Restinga, Belém

Velho, Rubem Berta, Santa Rosa de Lima, na assistência a imigrantes e também no Conselho Regional de Luta pela Moradia Popular (CRMP) em diversas ocupações urbanas e junto aos camelôs. São trabalhos que refletem as mazelas pelas quais passa a maioria da sociedade, seus trabalhadores mais precarizados, e também são fonte de expansão e conexão do partido com estes territórios.

5. A luta em defesa do meio ambiente é cada vez mais urgente, reorganizar o modo de produção social também demanda pensar em métodos que respeitem a capacidade do planeta e preservem o nosso ecossistema. Neste sentido, fomos parte da resistência da luta ambiental, combatendo os projetos de megamineração no estado, defendendo as áreas de preservação ambiental, como por exemplo em Canoas, e também estivemos ao lado das famílias assentadas da reforma agrária de Nova Santa Rita, que tiveram sua produção agroecológica atacada por ruralistas e atingida pela deriva da pulverização de agrotóxicos.

6. Hoje, o PSOL apresenta-se como uma alternativa política também para o campesinato, tendo o partido organizado em algumas cidades, como: Capão do Cipó, Santa Margarida e Piratini através de camaradas assentados da Reforma Agrária. Além de militantes em outras localidades do estado que atuam na agricultura familiar.

7. Ainda que de maneira distorcida, como é o terreno eleitoral, também aí o PSOL demonstra crescimento. Passaremos agora a uma breve análise do desenvolvimento eleitoral do partido no estado:

PSOL e as eleições

1. Desde o triunfo da legalização do partido, participamos das eleições afirmando um campo independente e anticapitalista. Em 2006 Heloísa Helena, nossa candidata a presidente naquele ano chegou a ter cerca de 440 mil votos no RS (6,6%), Luciana Genro foi eleita deputada federal com mais de 185 mil votos (2,8%), Roberto Robaina como candidato estreante ao governo do estado fez quase 70 mil votos (1%) e Pedro Ruas, o candidato mais votado do PSOL a deputado estadual, fez mais de 18 mil. Como produto da traição do PT no governo federal aquela foi a primeira eleição desde de 1989 em que Lula não venceu as presidenciais em terras gaúchas, já indicando um desgaste mais profundo que viria pela frente (em 2004, o PT já havia perdido as prefeituras de cidades importantes como Porto Alegre, Pelotas, Caxias, Canoas e Novo Hamburgo).

2. Em 2008, nossa acumulação política já se expressou em vitória eleitoral. Especialmente em Porto Alegre, onde elegemos a primeira bancada de vereadores do PSOL com Pedro Ruas (segundo mais votado da cidade) e Fernanda Melchionna, estreante no primeiro mandato. Luciana Genro fez quase 10% dos votos para prefeita. A companheira Sandra Feltrin (falecida em 2013) obteve mais de 10 mil votos como candidata a prefeita de Santa Maria. Tudo isso em uma conjuntura na qual Lula, ainda no governo, acumulava 70% de aprovação no país e já se beneficiava da situação econômica favorável à exportação de commodities pelos países dependentes, em meio a uma crise mundial que afetou os países centrais primeiro. O PSOL foi se instalando em Porto Alegre e ganhando peso político, pela qualidade do trabalho parlamentar, mas principalmente pela conexão entre nosso relativo peso político e o ativismo social na cidade. Onde há luta, lá está o PSOL. Assim foi em 2009 na defesa dos camelôs atacados pelo então prefeito Fogaça, assim foi na Luta pelo Fora Yeda no mesmo ano, na qual nossas figuras públicas foram os principais algozes da governadora e junto à mobilização da juventude fizeram o governo balançar e foram determinantes para a derrota eleitoral de Yeda em 2010.

3. Em 2010, o governo Lula chegava ao ápice de sua popularidade com mais de 85% de aprovação em todas as pesquisas de opinião. A economia doméstica havia sido muito beneficiada pela situação internacional e crescia a ilusão do “Brasil Potência”. Em 2010, o PIB brasileiro chegou a um crescimento de 7,5% (marca que não chegava desde 1986), Dilma após vencer as eleições contava com uma expectativa popular de 62% dos entrevistados, de que iria fazer um governo “ótimo ou bom”, segundo o Ibope. Nesse cenário, disputamos as eleições presidenciais com Plínio de Arruda Sampaio encabeçando e aqui no RS o companheiro Pedro Ruas como candidato a governador. Nesse cenário, Tarso Genro foi eleito governador e infelizmente tivemos uma derrota eleitoral ao não reeleger Luciana deputada federal, por uma margem muito pequena de votos para atingir o quociente eleitoral. Entretanto, esta situação mais adversa também levou a direção do partido a dar um giro para o enraizamento e interiorização do trabalho.

4. No ano de 2012, mesmo sem poder contar com Luciana Genro na disputa por impedimento legal, o PSOL aumentou ainda mais sua força eleitoral no estado. Além do reforço em Porto Alegre, onde Pedro Ruas foi eleito como vereador mais votado da capital, Fernanda Melchionna mais que dobrou sua votação e Robaina

como candidato a prefeito chegou a 4% dos votos, tivemos um fenômeno com o companheiro Jurandir em Pelotas, que conquistou 13%, com 25.272 votos como candidato a prefeito e consolidou a expansão do PSOL na cidade, que viria a se confirmar nos anos seguintes. Também em Viamão o companheiro Romer Guex ultrapassou os 13,5 mil votos e o PSOL elegeu seu primeiro vereador na cidade. O PT ainda contava com a máquina do governo federal, porém já começava a ter dificuldades nos grandes municípios do RS. Na eleição de 2012, elegeu prefeitos em 72 municípios (boa parte deles em aliança com os partidos de direita que compunham a base de Dilma no Congresso Nacional, incluindo o PMDB de Temer). Em Canoas, reelegeu Jairo Jorge (que viria a sair do PT depois) com uma aliança composta por 14 partidos! Elegeu em Alvorada, Esteio e Sapucaia, na Região Metropolitana e em algumas cidades importantes como Rio Grande, Bagé, Erechim, Livramento, Torres e Vacaria, entretanto perdeu em Pelotas, Santa Maria e Caxias. A economia nacional que vinha crescendo começava a dar sinais de estagnação, refletindo a crise mundial iniciada em 2008 (o PIB em 2012 cresceu apenas 1,92%). As Jornadas de Junho de 2013 viriam a escancarar o esgotamento do modelo econômico liberal-periférico e o condomínio do poder sustentado na conciliação de classes encabeçado pelo lulismo.

5. No ano de 2014, tivemos Luciana Genro encabeçando a chapa presidencial com uma candidatura que buscou levar ao debate eleitoral o legado das Jornadas de Junho de 2013, colocando no centro do debate um programa de ruptura com o capital financeiro e levando as bandeiras democrático-revolucionárias da juventude, das mulheres, da negritude e da comunidade LGBT. Aqui no RS Luciana obteve mais de 143 mil votos, Pedro Ruas se elegeu deputado estadual com mais de 36 mil votos em conjunto com nossa chapa que teve destaque de Jurandir Silva com 24.300 votos e Fernanda Melchionna com 23.400. Para federal, a campanha pela legalização da maconha, que teve Bernardo Corrêa como candidato, obteve 11.763 votos, chegando a uma base juvenil periférica que tínhamos dificuldade em entrar, além de setores da cultura. No RS, Dilma foi derrotada por Aécio no segundo turno. Assim como Tarso, que perdeu para Sartori, já indicando o enfraquecimento, que viria a ser brutal em 2018.

6. Como produto da campanha de 2014 e do crescimento que o partido acumulou ao longo de mais de 10 anos de existência, nossa intervenção eleitoral deu um salto em 2016. Luciana começou a campanha para a prefeitura de Porto

Alegre em primeiro lugar nas intenções de voto (com mais de 20%). A eleição foi atravessada pelo golpe parlamentar contra Dilma e também pela mudança na Lei eleitoral (conhecida por Lei Cunha), que prejudicou o PSOL enormemente ao reduzir drasticamente o tempo de TV, entre outras restrições. Ainda assim, conseguimos vitórias importantes. Mais de 86 mil votos para prefeita da capital, a eleição de Fernanda Melchionna como a vereadora mais votada da cidade, junto à eleição de Robaina e Professor Alex, ampliando a bancada. Em Pelotas, Jurandir fez quase 22 mil votos, chegando à frente da candidata do PT e o PSOL Pelotas elegeu a companheira Fernanda Miranda vereadora. Em Viamão, o companheiro Romer Guex fez mais de 10 mil votos também elegendo um vereador. Tivemos candidaturas em inúmeros municípios importantes, aumentando nossa presença no RS. A eleição de 2016 já mostrava indícios do interregno – no qual “o velho ainda não morreu e o novo ainda não pode nascer”, como definiu Gramsci – que caracteriza a situação nacional de intensa polarização social e política até os dias atuais.

7. Nas eleições de 2018, o PSOL ganhou peso nacional importante tanto na batalha contra Bolsonaro quanto na ampliação da bancada de deputadas e deputados federais, apesar das claudicações de programa e perfil da candidatura presidencial de Boulos. Chegamos a 10 deputados em uma bancada paritária entre homens e mulheres, a única do Congresso Nacional. Impulsionados pelo do #EleNão aqui no RS conseguimos eleger Fernanda deputada federal com 114 mil votos e voltar a ter uma deputada federal do PSOL RS. Elegemos Luciana deputada estadual e por um detalhe não conseguimos renovar o mandato de Ruas na ALERGS. A implantação do partido no RS deu mais um salto importante. Impulsionadas pelo crescimento do movimento negro tivemos candidaturas expressivas como a da companheira Karen Santos, em POA, e Alice Carvalho, em Santa Maria. Novamente Jurandir Silva e Fernanda Miranda em Pelotas tiveram grandes votações a deputado estadual e federal, Gravataí com o companheiro Rafael Linck e Viamão também tiveram votações expressivas. A derrota que o movimento de massas sofreu com a eleição de Jair Genocida Bolsonaro, no cenário de polarização supracitado, também colocou o PSOL em uma posição distinta na disputa política e aqui no RS podemos dizer que obtivemos uma vitória na derrota.

8. As eleições de 2020 tiveram algumas marcas importantes que também se refletiram em seus resultados no estado. Em primeiro lugar, a pandemia do

Coronavírus que dificultou bastante a campanha de rua e inviabilizou os debates, que são um terreno onde sempre crescemos. Por outro lado, havia um componente de imprevisibilidade de qual força o bolsonarismo poderia ganhar nesse quadro trágico da pandemia. A eleição expressou debilidade e não fortaleza da extrema direita. Outra marca importante foi o enfraquecimento do PT no RS, elegendo apenas 23 prefeitos, sendo que a cidade mais importante foi São Leopoldo, a ponto de a soma de votos para prefeito que foram para o PT é de pouco mais de 90 mil votos no estado. De nossa parte, o PSOL saiu bastante fortalecido nacionalmente e também aqui. Na eleição da capital, bastante polarizada entre Marchezan e Manuela, portanto com uma propensão enorme ao voto útil, conseguimos apresentar um programa de ruptura em nível municipal, construído a partir da mobilização de diversas frentes de atuação na cidade e reunindo mais de 500 pessoas em sua elaboração. Obtivemos cerca de 4% dos votos para prefeita com a chapa encabeçada por Fernanda Melchionna com Márcio Chagas de vice. O maior triunfo e expressão do enraizamento do partido na capital se deu na votação proporcional, sendo o PSOL o partido mais votado para vereadores na cidade, com quase 70 mil votos e ampliando a bancada. A companheira Karen Santos foi a mais votada da cidade, seguida por Pedro Ruas (segundo mais votado de POA), Matheus Gomes e Roberto Robaina. Em Pelotas, também ampliamos a bancada sendo a companheira Fernanda Miranda e o companheiro Jurandir Silva os dois mais votados da cidade. Em Gravataí a jovem companheira Tamires Paveglio fez cerca de 3% dos votos para prefeita e Rafael Linck foi o candidato a vereador da esquerda mais votado da cidade e não foi eleito por um detalhe. Em Passo Fundo, além da candidatura do companheiro Celso Dalberto a prefeito tivemos o fenômeno da jovem feminista Ingra Costa e Silva, que fez mais de 1200 votos e quase conquistou a primeira cadeira de vereadora do PSOL na cidade. Também em Santa Maria foi por muito pouco que a companheira Alice Carvalho não se elegeu, apesar de ter sido a candidata mais votada da cidade, demonstrando o enorme espaço de construção que o PSOL tem na cidade. Tivemos participações importantes também na Região Metropolitana, como em Cachoerinha com a companheira Ester como vice, Sapucaia do Sul com o companheiro André Luiz para prefeito e Laerte para vereador, além de diversas cidades no interior do estado onde tivemos candidaturas como Guaíba, Passo Fundo, Canoas, Pelotas, Rio Grande, Santana do Livramento, Bagé, Candiota, Capão do Cipó, Uruguaiana, Alvorada, Tapes. O PSOL participou

nas eleições de 2020 em 31 municípios, sendo que com candidatos à prefeitura em Alvorada, Bagé, Candiota, Canoas, Charqueadas, Dom Pedrito, Gravataí, Guaíba, Passo Fundo, Pelotas, Piratini, Rio Grande, Sant’Ana do Livramento, São Francisco de Paula, São Jerônimo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Taquaruçu do Sul, Uruguaiana, Viamão. Ainda com candidatos à vereança nos municípios: Alegrete, Cachoeira do Sul, Cachoeirinha, Capão do Cipó, Caxias do Sul, Osório, Santa Maria, Tapes e Três Coroas. O partido teve 183 candidatos à vereança, sendo que 38% de candidaturas femininas.

9. O que podemos notar ao revisar os dados eleitorais é um grande crescimento do PSOL. Conectado aos principais fenômenos da luta de classes como o ascenso da luta antirracista, a força das mulheres e do feminismo, a luta da comunidade LGBT, a luta pela reforma agrária e representações de categorias do serviço público e privado estamos nos tornando uma alternativa para uma parcela importante do movimento de massas. Isso certamente só é possível com a localização política correta que a direção do PSOL RS vem construindo há anos de um partido independente e anticapitalista erigido pela força de sua brava militância e a disciplina e dedicação de seus quadros.

10. Por fim, precisamos seguir aumentando a nossa inserção na classe trabalhadora, nas periferias, nas organizações sociais, sindicais e movimentos de juventude. Organizar e ajudar a dirigir os movimentos de resistência e também as lutas que possibilitam avançarmos em relação aos nossos direitos. Nossa atuação sistemática em defesa do povo postula o PSOL enquanto uma ferramenta dos debaixo e uma referência para os que querem transformar a lógica social. Precisamos aproveitar a nossa força orgânica e eleitoral para aumentar a bancada na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa e apresentar uma candidatura independente no estado, sabendo que a eleição de 22 é uma prévia para a eleição de vereadores de 24. E, assim como colocamos a nossa força militante a serviço da batalha eleitoral, também utilizamos os nossos mandatos para fortalecer a nossa organização nas disputas no terreno das lutas de classes, por isso, precisamos dar um salto em nossa organização, especialmente no interior do estado e em nosso enraizamento nos bairros populares e periferias.

Porto Alegre, 21 de maio de 2021