*Artigo do jornalista Bernardo Mello Franco, originalmente publicado na Folha de São Paulo em 9 de junho de 2017.
O TSE encontrou uma fórmula para salvar o mandato de Michel Temer. Como não pode sustentar que a eleição de 2014 foi limpa, a corte decidiu varrer a sujeira do processo. Para isso, deve anular as provas fornecidas pela Odebrecht e pelos marqueteiros da campanha.
A manobra foi liderada pelo presidente do TSE, Gilmar Mendes. Ele teve o apoio de Napoleão Nunes Maia, Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira. Os dois últimos foram nomeados por Temer às vésperas do julgamento.
Nesta quinta, os ministros tiveram que se esforçar para justificar a pirueta. Vieira reconheceu que as descobertas da investigação “assombram qualquer pessoa de bem”, mas alegou razões técnicas para ignorá-las. “Na minha compreensão, o caixa dois não está em julgamento”, disse.
Gilmar atacou o Ministério Público, citou o julgamento de Cristo e pediu que os colegas controlassem o que chamou de “sanha cassadora”. “Por questões pequenas, acabamos cassando mandatos”, criticou.
O ministro pensava de outra forma quando o alvo do processo era Dilma Rousseff. Em 2015, ele defendeu o uso de provas da Lava Jato na investigação. “Não podemos permitir que o país se transforme em um sindicato de ladrões”, disse. Hoje ele frequenta os jantares do Jaburu e viaja de carona no avião presidencial.
Entre as “questões pequenas” que o TSE vai ignorar, está a acusação de que a Odebrecht pagou R$ 150 milhões em caixa dois à chapa Dilma-Temer. A confissão de João Santana, que admitiu ter recebido parte do dinheiro, também será descartada.
O relator Herman Benjamin, que conduz o caso com independência, falou em “provas oceânicas” ao defender a cassação da chapa. O ministro Luiz Fux também protestou contra a tentativa de fingir que a Lava Jato não existe. Ao perceber o risco de desmoralização do TSE, ele avisou: “Nós somos uma corte. Avestruz é que enfia a cabeça no chão”. Apesar do alerta, o tribunal deve se curvar ao governo e salvar Temer por 4 a 3.