Redação #Equipe50
Centenas de pessoas ocuparam a Praça da Matriz, no Centro de Porto Alegre, na tarde desta terça-feira (15/11), para debater a luta feminista e o direito à cidade. O evento, idealizado por Luciana Genro, contou com a presença da filósofa Marcia Tiburi, da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, da vereadora da Capital Fernanda Melchionna (PSOL), da militante do movimento negro Winnie Bueno e da militante do coletivo Juntas, Marcela Pellin. A atividade contou, ainda, com uma apresentação musical de Bhia Tabert e de sua banda composta totalmente por mulheres.
Luciana Genro entende que “criar em Porto Alegre uma cidade das mulheres é um desafio de subversão desta ordem capitalista, que propõe às mulheres serem simplesmente objetos de maior exploração”. Para a dirigente do PSOL, é preciso que a Capital aumente o orçamento para políticas públicas para as mulheres, que em 2014 foi de apenas R$ 400 mil. “Nós somos maioria, somos 53% da população de Porto Alegre. Não é apenas uma pessoa ou um partido que vai construir uma cidade das mulheres. Isso só vai acontecer se as próprias mulheres se imbuírem deste movimento. Nossa cidade é parte do desafio maior que é combater o machismo, a opressão e a exploração em todo o mundo”, argumentou.
Luciana também defendeu a ocupação dos espaços públicos e a radicalização da democracia. “Junho de 2013 não foi em vão e deixou a ideia de que temos que tomar as ruas, praças e construir uma democracia participativa”, disse.
Márcia Tiburi ressaltou a necessidade de as mulheres ocuparem os espaços públicos como forma de reivindicar o direito à cidade. “Estamos comovidas por estarmos aqui na praça. Precisamos de uma cidade em que as mulheres ocupem as ruas, como estamos fazendo agora neste momento tão poético e político”, resumiu. A filósofa, que está organizando a #Partida – um partido político feminista -, disse que Porto Alegre “tem que ter uma prefeita na próxima eleição” e destacou que não é possível construir uma cidade das mulheres com um homem no comando do Executivo municipal. “É importantíssimo ocupar os espaços de poder para rachar o poder e descontrui-lo. Temos que quebrar a estrutura patriarcal do poder, para isso as mulheres precisam se filiar em partidos, se candidatar e governar”, incitou.
Integrante do movimento negro e militante do coletivo Juntos na cidade de Pelotas, Winnie Bueno lembrou que a praça ocupada para o debate “é a mesma praça em que as mulheres negras eram vendidas como escravas há 200 anos”. Ela ressaltou as especificidades da luta e da vida das mulheres negras na cidade e no país. “Nós somos, historicamente, a força de trabalho. Enquanto as brancas pediam direito ao trabalho, nós pedíamos um dia de descanso”, relatou.
Winnie também comentou a violência policial, que atinge especialmente a população negra nas periferias. “Construir uma cidade das mulheres implica em desmilitarizar a polícia. Não podemos mais viver numa cidade onde o fato de ser uma mulher negra seja uma sentença de morte ou de dor”, lamentou.
A vereadora Fernanda Melchionna destacou a necessidade de se construir mais creches públicas e aumentar as vagas para crianças pequenas como forma de garantir o direito das mães ao trabalho. “É fundamental romper com a ideia de que os filhos são de responsabilidade apenas da mulher. Hoje faltam vagas nas creches de Porto Alegre, especialmente nos bairros mais pobres e para as crianças de 0 a 5 anos.”
Já a antropóloga Rosana Pinheiro-Machado considera que “a ocupação de uma praça no Centro da cidade por mulheres é um sopro de esperança e uma maneira excelente de olhar para 2016”. A professora universitária recordou que o direito à cidade “sempre foi pensado por homens e para homens” e definiu o empoderamento das mulheres como uma luta por “laços sociais, solidariedade e conhecimento”.
A militante do coletivo Juntas, Marcela Pellin, falou sobre a luta dos estudantes secundaristas em São Paulo, que foi liderada por meninas e que consolidou a consigna: “Lute como uma mulher”.
Após as falas das debatedoras, o evento ouviu os depoimentos, cobranças e sugestões das mulheres presentes no evento. Diversas propostas para combater o machismo e empoderar as mulheres foram apresentadas pelo público, dentre elas a necessidade de combate à prática da terceirização, a descentralização dos debates e das políticas públicas para a periferia, a melhoria da rede de assistência e acolhimento às mulheres vítimas de violência e o atendimento de meninas menores de idade pela Delegacia da Mulher – atualmente, as menores vítimas de violência são atendidas pelo DECA.
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