Por Luciana Genro
A notícia da criação do Banco dos BRICS, que financiaria projetos de desenvolvimento, além da criação de um fundo de reservas contra crises financeiras, dá a entender que o governo brasileiro busca mudar a correlação de forças global, tentando reformar o FMI e protestando contra a espionagem dos EUA. Não é bem assim!
A criação deste banco, longe de significar uma alteração no panorama mundial, não passa de mais do mesmo. Seria uma ampliação do atual mecanismo do BNDES, sem participação social, que empresta principalmente a grandes empreiteiras e empresas brasileiras e estrangeiras do ramo primário-exportador, para projetos muitas vezes nocivos ao meio ambiente e às populações afetadas (exemplos: Belo Monte, florestas de eucalipto, mineradoras, etc). Tal esquema pode aprofundar o atual modelo, no qual o Brasil exporta matérias primas para a China industrializá-las. Ontem se reuniram centenas de empresários para discutir negócios no âmbito dos BRICS. Por outro lado, a população segue sem representação, um indicativo de que mais uma vez serão os interesses dos capitalistas, e não dos trabalhadores que serão favorecidos.
Apesar da retórica contrária ao FMI e a espionagem dos EUA, na prática o governo brasileiro aplica todas as políticas recomendadas por eles: faz superávit primário, reformas da previdência, privatizações, não quer controlar o fluxo de capitais financeiros (o que poderia efetivamente evitar as crises) e não quer dar asilo a Edward Snowden para não contrariar os interesses do governo norte americano.
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