Hoje, às 4:30 da manhã cheguei junto com militantes do PSOL, do Juntos, sindicalistas e ativistas sociais, na porta da principal empresa de ônibus da cidade de Porto Alegre, a Carris. Os rodoviários já estavam decididos a parar, mas a Justiça exigiu um percentual mínimo de ônibus em circulação, portanto o piquete era necessário para garantir a paralisação total. E garantiu, não só na Carris mas em todas as empresas de ônibus. No Rio Grande do Sul a greve foi geral e total. 100% de greve! Nos últimos 40 anos não tivemos na história do Estado uma greve tão forte. Tal força somente se explica porque há um ambiente político e social no Rio Grande ainda marcado pelas jornadas de junho. A influência do levante se fez sentir. Esta presença é tão marcante que a paralisação convocada pela internet no dia 1 de julho teria ocorrido também se não tivesse enfrentado a oposição e o desmonte da união conservadora formada não apenas por governantes e mídia burguesa mas sobretudo pelas centrais sindicais, em especial a CUT. Mas neste dia 11 a força do movimento não pode ser contida e o Rio Grande do Sul esteve, mais uma vez, na linha de frente.
O papel dos rodoviários tem sido importante. Desde o início do ano uma vanguarda de ativistas rodoviários se uniu com militantes juvenis do PSOL, do Juntos, com ativistas do Bloco de Lutas, e enfrentaram o aumento das tarifas de ônibus fazendo manifestações em fevereiro e março que se desdobraram em fortes protestos juvenis. Uma ação na justiça impulsionada pela bancada de vereadores do PSOL conquistou a redução do aumento. Isso teria sido impossível sem a ação decidida da juventude da capital. Ninguém imaginava que estávamos começando o que depois se transformou, quando a partir de SP se alastrou pelo Brasil, na maior onda de protestos e manifestações da história recente, um processo de massas superior ao Fora Collor e que colocou em xeque esta democracia burguesa elitista, corrupta, e à serviço dos planos econômicos capitalistas.
Além dos gaúchos, pelos dados que começam a me chegar, os mineiros e os capixabas também foram vanguarda. BH tem sido a capital de importantes protestos. A greve também foi geral na capital mineira e certamente os efeitos das poderosas e corajosas marchas que ocorrem na cidade durantes os jogos da copa das confederações explica a força do movimento de hoje. No Espírito Santo a realidade também é semelhante, com o Estado marcado pela ocupação da Assembléia Legislativa. Sei também que em Salvador o movimento está forte. A terceira cidade mais populosa do Brasil, herdeira da revolta do Buzu de 2003, está desperta, questionando com cada vez mais força o governo estadual do PT. Não esquecemos que nesta cidade tivemos a poderosa greve da PM, com ocupação da Assembléia Legislativa, em fevereiro do ano passado, ante-sala da situação política atual. Acabo de falar por telefone com nosso dirigente do PSOL Roberto Robaina que está em São Paulo, em uma bela manifestação na Avenida Paulista, e me relata também que militantes dos sindicatos dos químicos de Campinas e região, do Juntos, do PSTU e do PSOL estiveram na paralisação da fábrica da Natura, a empresa do amigo de Marina Silva.
No Rio de Janeiro e SP não se configurou uma greve geral. A CUT, o não nos surpreende, não fez quase nada para mobilizar, quando não trabalhou para desmobilizar. A Força Sindical jogou mais peso em SP do que a CUT, o que aliás não exigiu muito. Mas nestas duas capitais o levante de junho não teve capacidade de derramar sua força até o dia de hoje. Isso não quer dizer que a situação tenha voltado ao ponto anterior. Isso não ocorre mais. Os quase um milhão que marcharam no Rio de Janeiro estão atentos, despertos, e certamente entrarão em cena novamente, talvez quando muitos não esperem e quando as centrais sindicais não sejam as convocantes. Aliás, não foram elas que convocaram o levante que produziu a mudança da situação nacional e a alteração da relação de forças a favor da classe trabalhadora. No Rio de Janeiro o apoio que o PSOL já recebe é expressão de um avanço enorme da consciência e uma indicação de que este Estado está na vanguarda política do país. Não foi à toa que nas últimas eleições o partido obteve 30% dos votos, enfrentando todos os aparatos burgueses e burocráticos. A figura de Marcelo Freixo é emblemática neste sentido. E a força de luta do povo carioca é ainda muito superior ao PSOL. Por isso mesmo Cabral e sua turma estão em maus lençóis. Hoje, mesmo tendo estado longe de uma greve geral, o Rio foi palco de protestos e greves entre os servidores públicos e setores operários.
Em SP, o gigante se moveu também, em particular nas fábricas do Vale do Paraíba e na região portuária de Santos. No nordeste, Natal, Recife, além de Salvador, foram palcos de lutas fortes e demonstrações claras de que a disposição do povo é de seguir lutando. Não sei ainda a força do movimento em muitos Estados, mas já está claro que tivemos um vitorioso e forte dia nacional de lutas.
O grande saldo de tudo isso é um enorme avanço na consciência do povo. Ficou evidente que é possível arrancar conquistas através da luta. Ficou evidente que o governo e o Congresso têm medo do povo na rua. Agora, o desafio é seguir organizando e mobilizando. O Governo Dilma tem demonstrado que é incapaz de atender as demandas do povo. A oposição burguesa não consegue esconder que é inimiga do povo. Assim, o desafio também passa pela construção de uma alternativa anticapitalista. Muitos pontos programáticos desta alternativa foram dados pelas próprias manifestações de junho: recursos públicos para a saúde e a educação, valorização do transporte publico, contra a corrupção e os privilégios dos políticos. Há um ponto essencial que o país, o povo e os jovens necessitam debater, que ainda falta para compor um verdadeiro e viável programa de mudanças: o dinheiro do país, a produção nacional, não pode continuar protegendo e enriquecendo os banqueiros. Os bancos, protegidos pelo governo, lucram como sempre. Em nome do pagamento da dívida pública os recursos nacionais são desviados para sustentar o parasitismo de uma oligarquia financeira, a associação dos grandes capitalistas dos bancos e da indústria. É preciso dar um basta e garantir que a riqueza produzida pelos trabalhadores beneficie o povo e não um punhado de parasitas. O PSOL seguirá firme na defesa destas bandeiras!