A crise de 2008 ainda não acabou. E vai durar. Os acontecimentos da Inglaterra nada têm de baderna. São, para lembrar o título do grande romance de Michel Houellebecq, uma extensão do domínio da luta. Reflexos da recessão. É incrível como tem gente parada no tempo. São aqueles que ainda usam uma retórica reacionária para falar da luta entre comunismo e capitalismo e para afirmar que não há mais esquerda e direita pelo triunfo da direita. Asneira. O comunismo foi uma solução ruim para os problemas do capitalismo, que continuam. A esquerda gerou novos problemas para o problema maior: a direita. Em termos globais, o capitalismo é sempre uma boa solução para uma minoria e um problema da maioria.
Quem duvidar disso que dê uma passeada nas periferias de qualquer grande cidade, de Porto Alegre a Londres, Paris e Nova Iorque. A solução da crise mundial atual não é o déficit, mas o desemprego. Quanto mais se corta o déficit, mais se aumenta o desemprego. Há quem adore resolver o problema do Estado (e dos ricos), aumentando os problemas da sociedade. É uma solução burra. Cria o efeito Inglaterra: explosão social. Quem diz isso, mais uma vez, não sou eu, mas o prêmio Nobel da Economia Paul Krugman. Eta sujeitinho ignorante: “Os republicanos linha dura tiveram um papel, é claro. Apesar de aparentemente não se importarem realmente com os déficits – experimente sugerir algum aumento de impostos sobre os ricos -, eles descobriram que martelar a questão era uma maneira útil de atacar os programas do governo”.
Segundo ele, mesmo os centristas, autoproclamados equilibrados, estão chutando ao dizer que não há solução a curto prazo e ao defender os interesses dos mais ricos: “Voltar a atenção para as soluções a longo prazo e, em particular, para a ”reforma dos benefícios sociais” – isto é, cortes no Seguro Social e no Medicare (o seguro-saúde público para idosos e inválidos). E quando você encontrar uma pessoa dessas, saiba que pessoas como essas são o principal motivo para estarmos tão enrascados”. Entendido? Precisa desenhar? A crise não está no excesso de gastos, mas no corte deles, coisa de gente querendo ganhar mais com a desgraça alheia. Krugman enfia a faca ao explicar que com a crise “muitos membros de nossa elite política se mostraram ávidos em usar esses déficits como desculpa para desviar o assunto do desemprego para seu tema favorito. E a economia continuou sangrando”.
Para resolver a crise, segundo Krugman, precisaria “mais gastos do governo por ora, não menos – com desemprego em massa e custos de tomada de empréstimos incrivelmente baixos”. É hora de reconstruir “nossas escolas, nossas estradas, nossos sistemas de água e esgoto e mais”. Hora do “perdão de hipotecas e refinanciamento”. Hora do Federal Reserve “estimular a economia, com a meta deliberada de gerar inflação mais alta, para ajudar a aliviar os problemas da dívida”. Uau! “Os suspeitos habituais condenarão, é claro, essas ideias como sendo irresponsáveis.” Mas você sabe o que é realmente irresponsável? “Sequestrar o debate em torno da crise para promover as mesmas coisas que eram defendidas antes da crise.” Dá-lhe, Krugman, mostra para eles!