Homenagem foi proposta por Pedro Ruas, vereador do PSOL.
Homenagem foi proposta por Pedro Ruas, vereador do PSOL.

| PSOL

Na noite desta terça-feira (2), o Plenário Ana Terra da Câmara Municipal de Porto Alegre recebeu uma sessão solene marcada por memória e compromisso político. Conduzido pelo vereador Pedro Ruas, o ato celebrou os 20 anos do PSOL, reunindo lideranças históricas da esquerda, parlamentares, militantes de base e representantes de movimentos populares – reafirmando o papel do partido na luta contra a extrema direita, na defesa das liberdades democráticas e no enfrentamento às desigualdades estruturais do país.

A sessão destacou a trajetória do PSOL desde sua fundação, quando setores da esquerda romperam com o PT diante da votação da reforma da previdência, que retirava direitos dos trabalhadores, após sua chegada ao governo federal. Para Pedro Ruas e outros presentes, recordar essa origem é fundamental não apenas para honrar o passado, mas para reafirmar o sentido estratégico de uma alternativa socialista enraizada nas lutas populares.

Orgulho da luta internacional e das bases populares

Gabi Tolotti, presidenta do PSOL no estado, emocionou o plenário ao relembrar sua participação na Global Sumud Flotilla, ação internacional de solidariedade ao povo palestino. “Eu estou muito orgulhosa dessa missão. A causa palestina é a causa da nossa vida, da nossa geração”, afirmou.

Em sua fala, Gabi lembrou que os 20 anos do partido não podem ser separados da construção cotidiana feita pelos trabalhadores, imigrantes, moradores de periferia e militantes anônimos que sustentam a organização: “O PSOL não é um ente abstrato. O PSOL somos nós, todos nós… O que move esse partido são as pessoas que constroem ele no dia a dia”, citou, elencando desde quem cozinha em ações comunitárias até quem “vai pra Gaza, quem se candidata sem condições de campanha, para construir uma ferramenta, quem organiza a luta nos bairros e sindicatos”.

Gênese, riscos e conquistas de um projeto político

O vereador Roberto Robaina destacou a importância da iniciativa de Ruas e recuperou a história do partido. Para ele, a fundação do PSOL foi uma resposta necessária ao afastamento do PT de parte de suas bandeiras históricas e ao aprofundamento de acordos com setores dominantes. “O PSOL, no primeiro momento, era simplesmente uma ideia ligada à necessidade de ocupar um espaço político”, afirmou.

Robaina exaltou o crescimento da legenda – hoje com cerca de 300 mil filiados e uma bancada federal de peso -, mas alertou para os riscos que todo partido de esquerda enfrenta ao atuar na institucionalidade. “Esse sucesso eleitoral é também o risco do PSOL, porque todo partido de esquerda que atua na institucionalidade sofre as pressões do Estado”, destacou.

Militantes lotaram o Plenário Ana Terra para participar da homenagem.

Unidade contra a extrema direita e novos desafios

A deputada estadual Luciana Genro sublinhou que celebrar os 20 anos do PSOL significa olhar para o passado, mas sobretudo para o futuro. Ela recordou que o partido nasceu fazendo oposição ao governo Lula, mas que a conjuntura atual exige amplo compromisso democrático para barrar o avanço da extrema direita. “Hoje nós estamos, mais uma vez, nos preparando para apoiar o Lula para ser reeleito, enfrentando a extrema direita e vencendo nas próximas eleições”, disse.

Luciana destacou ainda a força da nova geração militante – negra, jovem, feminista e popular – que transformou a Câmara e o partido. E projetou o cenário eleitoral deste ano, saudando a futura filiação de Manuela D’Ávila ao PSOL: “Nossa novíssima companheira, que será nossa representante na disputa pelo Senado”.

A deputada também lembrou que, embora a prisão de Bolsonaro e de generais golpistas represente uma vitória democrática histórica, a extrema direita mantém força social e capacidade de disputa. “Derrotar a extrema direita é uma tarefa que perpassa o processo eleitoral e a luta cotidiana nos movimentos sociais”, reforçou.

O legado de Marielle e a força da representatividade

A vereadora Grazi Oliveira trouxe uma fala emocionada ao recordar sua entrada no PSOL, após o assassinato de Marielle Franco .“Eu chego no PSOL através da morte da Marielle, e comecei a entender que eu não estava fazendo o suficiente”, disse. Para ela, o partido se distingue por ser espaço real de representatividade: “Eu vi mulheres no poder, vi homens negros, jovens, pessoas LGBTQIAPN+ e outras minorias sociais”.

Grazi celebrou a eleição da primeira mulher trans de Porto Alegre, a companheira de partido Atena Roveda, marca histórica da legenda, e defendeu a importância de um partido que acolhe quem luta – muitas vezes sem qualquer proteção institucional.

Olívio Dutra: crítica ao capitalismo e defesa da ciência, educação e trabalho digno

O ex-governador Olívio Dutra encerrou o ato com uma fala densa e marcada por reflexão sobre o papel da esquerda frente às desigualdades globais. Ele criticou o neoliberalismo, a mercantilização da vida e a apropriação privada da tecnologia: “Nós não podemos naturalizar o mundo da violência, da exploração, da transformação de pessoas em mercadoria”.

Olívio defendeu o conhecimento científico como patrimônio da humanidade, e lembrou que o inimigo principal não está dentro do campo popular. “Nós não podemos confundir entre nós quem é o inimigo principal. O inimigo é a classe dominante, o capitalismo neoliberal que instiga o individualismo e o egoísmo”, pontuou.

A sessão solene marcou não apenas um aniversário, mas a reafirmação pública de um projeto político que se guia pela justiça social, pelo internacionalismo, pela defesa intransigente dos direitos humanos e pela luta incansável contra a extrema direita. Um PSOL que olha para trás com orgulho, para dentro com humildade e para frente com coragem.