A professora Magdalise Brenner, vice-diretora da Escola Estadual Jacob Arnt, em Bom Retiro do Sul, foi ouvida na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos nessa quarta-feira (11) para abordar o ataque que sofreu por parte de um aluno da escola. O estudante a feriu com uma faca no pescoço e, após o episódio, a professora relata não ter recebido o apoio necessário. Ela procurou o mandato da deputada Luciana Genro (PSOL), que a convidou para ir à Comissão.
Segundo a vice-diretora, a tarde de 19 de setembro transcorria de forma tranquila, até ela ouvir um barulho de um espelho quebrando. Acreditando ser no banheiro masculino, ela levantou para ir até o local, assim como outros professores e estudantes que saíram de suas salas no momento. Foi quando viu um jovem, que descreve como “um rapaz alto com capuz”, indo em sua direção.
“Quando ele estava a um metro de mim, vi que era um aluno do primeiro ano da manhã e estranhei, porque era um aluno que eu não tinha contato, nunca tive nenhuma interação. Ele já veio me golpeando com a faca. Veio diretamente no meu pescoço, onde precisei levar pontos”, relata. Foi então que ela se deu conta do ataque e começou a gritar para que as colegas fechassem as portas e evitar que alunos se ferissem. Ela relata ter tido sorte da faca não estar afiada, por isso os ferimentos não foram tão graves.
O diretor da escola conseguiu interferir e segurar o aluno, para que Magdalise fugisse dos ataques. Ela foi para o hospital, onde relata ter sido bem atendida e ter recebido apoio de familiares, colegas e amigos. Ao mesmo tempo, a resposta institucional recebida por parte da Secretaria da Educação e da Polícia Civil local foram insuficientes, segundo a professora. Um aluno e uma professora foram pedir ajuda à delegacia de Polícia, localizada muito próxima da escola, onde o escrivão que estava no local apenas informou que seria necessário chamar a Brigada Militar.
“O diretor pediu auxílio ao governo, orientações, que não vieram. No dia seguinte, depois que a notícia e meu depoimento dessa inércia do governo foi para a mídia, então a Seduc entrou em contato comigo, conversei no telefone por um tempo sobre a falta de apoio”, contou. Após mais um dia, foram duas pessoas da Coordenadoria Regional de Educação (CRE) à escola, fazer atividades apenas com os alunos.
“Os professores seguiram dentro das salas, sem apoio, sem oitivas. Eu não tive orientações, apoio psicológico do Estado. Como vítima, eu recebi um atestado e permaneci na minha casa, mas o atendimento e acolhimento foram dos meus afetos, não das instituições”, afirmou a vice-diretora, que é funcionária do Estado há 23 anos.
O adolescente, a princípio, teve um surto, e está atualmente na Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase). “Nossos jovens estão doentes e nós nas escolas não temos formação para lidar com isso. Temos muitos casos de ideação suicida. Acredito que ele tenha sido primeiro uma vítima antes de se tornar agressor”, refletiu a professora. Ela também pede que haja uma cobrança para que sejam elaborados protocolos sérios a serem seguidos durante e depois de ataques do tipo.
Luciana Genro destacou que a situação em Bom Retiro do Sul se inclui dentro do problema global de violência e atentados a escolas. “Surgiram propostas, iniciativas, discursos, mas concretamente nada foi feito até agora. Além de nos solidarizarmos, precisamos cobrar do governo protocolos de prevenção da violência dentro da escola e de acolhimento aos profissionais que vivenciam nessas situações”, apontou a deputada.
Como encaminhamento, a Comissão irá cobrar essas medidas por parte do governo, além de oficiar a Polícia Civil para compreender se o procedimento do escrivão está de acordo com as normas da corporação.