Sociólogo e ex-preso político da ditadura militar, Edival Nunes Cajá foi homenageado com a Medalha da 56ª Legislatura da Assembleia Legislativa nesta sexta-feira (27), por proposição da deputada Luciana Genro (PSOL). O evento da entrega da medalha reuniu militantes para homenagear Cajá e os outros mortos, torturados e desaparecidos durante a ditadura brasileira.
No dia 04 de setembro de 1973, Manoel Lisboa de Moura, dirigente do Partido Comunista Revolucionário (PCR), foi assassinato pela ditadura militar após 19 dias das mais bárbaras torturas. Membro do Comitê Central do PCR, Cajá aceitou a homenagem representando a Direção Nacional, na ocasião dos 50 anos do assassinato de Manoel. A homenagem se estende também a Emmanuel Bezerra dos Santos, Manoel Aleixo da Silva (também mortos em 1973), Amaro Luiz de Carvalho (morto em 1971) e Amaro Félix Pereira (desaparecido entre 1971 e 1972).
“É sempre um momento doloroso relembrarmos desses episódios terríveis que o país passou durante a ditadura. Ao mesmo tempo, precisamos seguir sempre atentos, e a preservação da memória é fundamental neste sentido. A tentativa de golpe do 8 de janeiro é a prova de que havia a intenção de uma parte do bolsonarismo de instaurar novamente no Brasil uma ditadura”, afirmou Luciana Genro, ressaltando que o Brasil falhou ao não punir ditadores e torturadores.
Cajá fez uma fala emocionada, relembrando dos companheiros mortos durante a ditadura. O número oficial é de 434 mortos ou desaparecidos, mas o número real pode ser de milhares, segundo Cajá. O sociólogo também mencionou os requintes de crueldade com que a ditadura tratou os militantes. “Até hoje não sabemos onde está o corpo do Amaro. Então mesmo após o fim da ditadura, eles não entregaram os restos mortais. A família dele não pode enterrar seus mortos. Esse também é um método de tortura”, afirmou.
Lembrou também do companheiro Manoel Lisboa, assassinado aos 29 anos. “Eles nos falaram que tínhamos perdido o Manoel, mas eu falei para eles que Manoel Lisboa vive em cada um de nós, e não o perderemos jamais”, frisou.
Priscila Voigt, presidente gaúcha da Unidade Popular (UP), também defendeu a luta por “memória, verdade, justiça e punição para os torturadores”. Já Cauã Roca, Coordenador Nacional da União da Juventude Rebelião (UJR), assinalou que “quem deve ser realmente homenageado não são os ditadores, mas sim os que resistiram e lutaram”, referindo-se aos ditadores que dão nomes a ruas, escolas, cidades, entre outros.
Representando a União Nacional dos Estudantes (UNE), Everaldo Oliveira destacou que muitos estudantes foram perseguidos e torturados na ditadura. Ricardo Haesbaert, da Casa José Martí, saudou a coragem de Luciana Genro em realizar a homenagem, e o uruguaio Luís Ruiz, exilado em 1975 durante a ditadura de seu país, apontou a importância daqueles que lutaram contra as ditaduras em toda América Latina.