Adriana e Abigail relataram estar doentes na data exigida pela universidade e não conseguirem novos prazos. | Foto: Guerreiro/ Agência ALRS
Adriana e Abigail relataram estar doentes na data exigida pela universidade e não conseguirem novos prazos. | Foto: Guerreiro/ Agência ALRS

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A convite da deputada Luciana Genro (PSOL), um grupo de estudantes cotistas que foram desligados da UFRGS levaram suas demandas à Comissão de Educação da Assembleia Legislativa nesta terça-feira (6). Eles relataram situações de prazos extremamente curtos para entrega de documentações, inclusive com a universidade não dando novos prazos a estudantes com problemas de saúde, além de falta de instruções por parte da UFRGS e a impossibilidade de recorrer das decisões tomadas.

São mais de 160 estudantes que foram desligados da UFRGS neste ano, por motivos semelhantes. Todos são cotistas que tiveram problemas ou com a data da banca de aferição racial, ou com data de entrega de documentos, ou com comprovantes de renda e de deficiência. Há uma ação no Ministério Público Federal tratando de todos os desligados, e alguns deles entraram com ações individuais também sobre seus casos.

Dentre as estudantes que foram à Comissão, Adriana Rodrigues relatou estar no hospital no dia de sua banca de aferição racial, motivo pelo qual não pode comparecer. “Eu tenho 51 anos, levei 30 para entrar numa universidade. Trabalhei como doméstica, fundei um grupo de teatro negro. Consegui vaga em um cursinho pré-vestibular popular, que inclusive pagava minha internet na pandemia. Estudei muito, professores me davam aula sábado à noite, domingo. Acabei adoecendo e fui hospitalizada”, disse.

Questão foi levantada à Comissão pela deputada Luciana Genro.

Abigail Soares Ferreira também não conseguiu a matrícula por motivos de saúde. Oriunda de escola pública e de família de baixa renda, ela conseguiu com dificuldade os comprovantes necessários nos cinco dias que a universidade fornece, e mesmo assim perdeu a vaga. “Meus pais são idosos e não é fácil nos deslocarmos para bancos e conseguir documentos. Neste meio tempo, eu acabei ficando com um problema no joelho, sentia muitas dores. O médico me receitou um remédio muito forte, passei uma semana inteira apagada, que foi o prazo da matrícula definitiva”, contou a estudante de Medicina Veterinária.

Mesmo com um documento do médico afirmando que ela estava inválida durante aquela semana, Abigail relata que a universidade apenas dizia que ela havia perdido o prazo. Ambas foram até a UFRGS, que as mandou “de um lado pro outro”, sem oferecer solução definitiva e sem saber informar onde deveriam ir para recorrer do ocorrido. “Somos duas pra representar mais de 160 alunos. A gente quer nosso lugar de volta”, colocou Abigail.

O caso de estudantes que são pessoas com deficiência (PcD) foi levado por Giácomo de Carli da Silva, que é autista e narra que a universidade não está aceitando os laudos e testagens que ele enviou comprovando a sua condição. A advogada de Giácomo, Jaqueline Siviero Dippe, classificou os episódios como perseguição aos cotistas. Giácomo relatou que já cursou outra universidade, onde não teve os mesmos problemas. “Minha turma hoje está no quinto semestre e eu não passei do primeiro ainda. Minhas monitoras não recebem nenhum retorno da universidade de como proceder comigo, estou praticamente à deriva”, colocou.

Victoria Maciel Farias, estudante de Administração Pública e Social, acompanha a questão das matrículas provisórias desde 2019. “Os desligamentos vinham diminuindo e, de um tempo para cá, voltaram a aumentar. E a Reitoria não quer debater esse tema. É um sintoma da falta de acolhimento da universidade. Simplesmente desligam as pessoas sem possibilidade de remarcar, de tentar justificar ausência”, avaliou. A gestão passada do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da qual Victoria fazia parte, levantou que nenhuma outra universidade federal do país usa o sistema de matrículas provisórias.

Luciana Genro, que levou o assunto à Comissão, lamentou que a universidade esteja negando a estudantes cotistas o direito a estudar. “Temos um nível de evasão muito grande e um elitismo tenebroso. Queria propor que a gente fizesse um pedido de audiência com o Reitor, para que possamos dialogar com eles”, sugeriu, também propondo que a Comissão de Educação elabore um documento que os estudantes possam apresentar como um pedido específico de uma nova oportunidade de consideração. Sofia Cavedon, que preside a Comissão, também propôs o envio de um documento ao Conselho Universitário (Consun).