Reunião aprovou luta por reajuste de 19% e inaugurou busca pela nova convenção coletiva. | Foto: Samir Oliveira
Reunião aprovou luta por reajuste de 19% e inaugurou busca pela nova convenção coletiva. | Foto: Samir Oliveira

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Os trabalhadores da saúde do Rio Grande do Sul realizaram nesta quinta-feira (17/03) a primeira assembleia presencial da categoria desde o início da pandemia. A reunião foi comandada pelo Sindisaúde, que representa cerca de 80 mil profissionais – todos aqueles que não têm sindicato próprio em hospitais, clínicas, laboratórios, geriatrias, consultórios médicos e pet shops, além de autônomos e aposentados.

O encontro lotou o auditório da Associação dos Servidores do Hospital de Clínicas e contou com a presença da deputada estadual Luciana Genro (PSOL), que levou seu apoio à luta da categoria. “Vocês receberam apoio da sociedade na pandemia, mas vocês não podem comer aplausos. É preciso valorização concreta, que se traduza em direitos garantidos e em salários dignos”, disse a parlamentar.

Luciana Genro disse que irá divulgar em suas redes sociais a situação em que se encontram os trabalhadores da saúde. | Foto: Samir Oliveira

A assembleia aprovou a pauta que será entregue ao sindicato patronal: reajuste salarial de 19% (12% relativos à variação da inflação do último ano e 7% de aumento real) e abono para recompor as perdas no período anterior. Além disso, no caso do Hospital de Clínicas (HCPA) e do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), os servidores ainda reivindicam um aumento de 31,4% no vale-alimentação.

Estes dois hospitais estão entre as estatais federais que pagam os valores mais baixos do benefício a seus trabalhadores. No HCPA os 6.821 funcionários recebem um vale-alimentação de R$ 494,94 por mês, enquanto no GHC o repasse é de R$ 385,00 aos 9.913 servidores. Das 18 empresas pertencentes ao Tesouro Nacional, 14 delas possuem um vale-alimentação superior ao do Hospital de Clínicas.

Do luto à luta: a reorganização após o pior momento da pandemia

A assembleia foi marcada pela lembrança em relação aos colegas e familiares que foram vítimas da pandemia. Os trabalhadores da saúde foram a categoria mais impactada pelo Covid-19, estando na linha de frente do enfrentamento ao vírus. Um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstra que mais de 13,6 mil profissionais da saúde morreram no Brasil em decorrência da pandemia.

Presidente do Sindisaúde-RS, Julio Jesien destacou que o sindicato conseguiu manter os direitos adquiridos pela categoria até 2023. | Foto: Samir Oliveira

Presidente do Sindisúde-RS, Julio Jesien lembrou que houve funcionárias do Hospital de Clínicas que perderam seus maridos na pandemia, ao levarem o vírus para casa pela natureza de seu trabalho. “Aconteceu aqui e em outros hospitais também. Eu mesmo perdi a minha sogra, muita gente aqui perdeu alguém próximo”, lamentou.

Com o avanço da vacinação e a diminuição dos índices de infecção e das internações, o sindicato e os trabalhadores puderam dar início ao processo de reorganização das lutas. Julio Jesien frisa que, mesmo durante os piores momentos da pandemia, o Sindisaúde conseguiu manter direitos históricos da categoria, como o adicional noturno. “Trabalhamos em 2020 e 2021 para conquistar a reposição da inflação de 3,31% e 6,94%. Conseguimos manter todos os direitos garantidos pela nossa convenção coletiva com os hospitais filantrópicos e privados até 2023”, recordou. 

A batalha pela convenção coletiva

A assembleia do dia 17 de março deu início à batalha que os trabalhadores da saúde precisam travar pela assinatura da próxima convenção coletiva com o sindicato patronal. É essa convenção que poderá garantir reajuste salarial e manutenção dos direitos já conquistados pela categoria.

“Tivemos que rejeitar em muitas negociações a tentativa que os hospitais faziam de retirada de direitos. Precisamos agora renovar esses direitos. A reforma trabalhista acabou com a vigência das convenções coletivas, elas precisam ser renovadas todo ano”, explicou a advogada do Sindisaúde-RS, Raquel Paese.

Trabalhadores compareceram em peso à assembleia, realizada no auditório da Associação dos Servidores do Hospital de Clínicas. | Foto: Samir Oliveira

A reunião aprovou a criação de uma comissão que irá conduzir as negociações sobre a convenção coletiva e a estratégia de mobilização dos trabalhadores. Também devem ser incluídos na pauta itens como a valorização da saúde física e mental dos profissionais da saúde. “Nós adoecemos cada vez mais na pandemia e mesmo assim o Hospital de Clínicas e o Conceição estão acabando com seus serviços de medicina ocupacional”, denunciou o presidente do sindicato.

Com o encerramento da assembleia, o sindicato patronal será oficialmente notificado sobre a pauta de reivindicações e a comissão de trabalhadores se reunirá semanalmente para definir os próximos passos da luta. Ainda na próxima semana, o Congresso Nacional pode votar duas medidas de interesse direto dos profissionais da saúde: o PL 2564, que estabelece o piso salarial da Enfermagem, e a PEC 22, que cria o piso nacional dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e dos Agentes Comunitários de Endemias (ACEs). 

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Assembleia do Sindisaúde-RS