Lançamento reuniu religiosos de matriz africana na Sala de Convergência da Assembleia.
Lançamento reuniu religiosos de matriz africana na Sala de Convergência da Assembleia.

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Com a presença de autoridades tradicionais, líderes religiosos, de federações e associações, a deputada Luciana Genro (PSOL) lançou, nesta quinta-feira (9), a cartilha voltada para o povo de terreiro organizada pelo seu mandato. Elaborada por integrantes da equipe que são da tradição de matriz africana, em trabalho coordenado por Carla Zanella e Ingra Costa e Silva, a cartilha busca, em uma linguagem acessível, disseminar conhecimento para desfazer preconceitos, pensar na intolerância e no racismo religioso, nas comunidades tradicionais, nas características das divindades de raiz africana e nas legislações que amparam esse grande grupo que integra a sociedade gaúcha.

A cartilha conta com desenhos representando cada um dos orixás e com um glossário explicando os principais termos relacionados às religiões, além de textos feitos por e sobre colaboradores que são mães, pais e filhos de santo. “Este é um marco na historia da luta contra o preconceito e a intolerância religiosa a partir da Assembleia Legislativa. É um trabalho de alta qualidade e acessível para pessoas leigas e para pessoas que tenham um conhecimento mais aprofundado, trazendo a informação, que é um instrumento de combate à intolerância”, colocou Luciana Genro durante o lançamento, que aconteceu na Sala de Convergência da Assembleia Legislativa.

Coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos de Matriz Africano, o combate à intolerância religiosa e ao racismo tem sido um dos principais eixos do mandato de Luciana Genro. “Preciso usar o meu lugar de privilégio para combater os privilégios. Lutar contra o racismo, contra a intolerância religiosa e contra a homofobia e a discriminação, numa luta a favor do povo de terreiro, disseminando conhecimento e informação”, afirmou.

Carla Zanella, que foi uma das coordenadoras e elaboradoras do trabalho da cartilha, lembrou que as religiões de matriz africana chegaram ao Brasil “com povos que foram escravizados, mas que construíram esse país com suas mãos, com seus corpos, com seu suor” e que, até hoje, seus descendentes sofrem preconceito. “Quando a gente idealizou essa cartilha, pensamos nela ser representativa, mas também voltada para pessoas que não tenham nenhum conhecimento sobre a nossa fé, para ajudar a desmistificar isso. É uma continuidade desse trabalho da Frente. Espero que seja de utilidade nos terreiros, nos ilês”, afirmou.

Carla Zanella, que foi uma das elaboradoras da cartilha, destacou o caráter didático do material.

Ingra Costa e Silva, que também coordenou e elaborou os textos do material, falou da importância de se ter uma cartilha pensada de forma pedagógica e visual, com um glossário e textos que ajudem quem é leigo a entender as religiões. “Fizemos um esforço para desmistificar prejulgamentos e queremos utilizar essa cartilha como um instrumento revolucionário para combater preconceitos e propagandear a informação. É um marco histórico, nenhum parlamentar tinha se dedicado a construir um material como esse. A gente sabe que cada casa vai ter os seus fundamentos, mas o nosso intuito não é discutir fundamento e nem dizer como se faz uma ritualística ou outra. Fizemos esse material com o maior cuidado e respeito”, garantiu.

“A cartilha pode ser um instrumento para enfrentar o preconceito que passamos”, acrescentou Mãe Cris de Oyá, que é coordenadora da Casa Emancipa Restinga, braço do Emancipa, cursinho popular fundado por Luciana Genro em 2011. Além de propiciar educação, cultura e esporte para a população do extremo sul de Porto Alegre, a Casa Emancipa Restinga também oferece oficinas de Albabês para as crianças da comunidade.

Representando o Pai Marcelo de Oyá, que é citado na cartilha, sua filha de santo Elizabeth elogiou o material, afirmando que é didático e de fácil leitura. “Queremos agradecer por essa cartilha, onde o Pai Marcelo é citado. A nossa atuação é bastante lembrada pela Maria Padilha, uma pomba-gira de luz, que é nova, mas que vem fazendo sua magia e ajudando pessoas”, colocou. A Pomba-Gira Maria Padilha das Sete Catacumbas foi recentemente incluída no calendário oficial de Porto Alegre a partir de projeto de lei do vereador Roberto Robaina (PSOL). Ela é a primeira exú feminina a ser homenageada no calendário da cidade, no dia 9 de março, logo após do Dia da Mulher.

Mãe Cris de Oyá é também coordenadora da Casa Emancipa Restinga.


Fran Rodrigues, vereadora suplente pelo PSOL, também destacou a ligação do preconceito religioso com o racismo. “Falar de religiões de matriz africana é falar da luta antirracista”, afirmou ela, que é autora de um projeto de lei para incluir no calendário oficial de Porto Alegre o dia 2 de fevereiro como Dia de Iamanjá, juntamente com o dia de Nossa Senhora Aparecida.

Luciana recebeu uma homenagem do Pai Tiago de Bará, coordenador da Asidrab – Associação Independente em Defesa das Religiões Afro Brasileiras, que a entregou um certificado de Honra ao Mérito em nome da associação. “A Frente Parlamentar é um instrumento tão necessário para as políticas públicas do nosso povo de axé. Poucos sabem sobre nossas tradições e nós somos alvos da intolerância, do racismo, do preconceito religioso. Temos uma banalização do nosso sagrado, de pessoas que não sabem que nossa tradição veio das mãos de negros e negras que foram escravizados, que foram sequestrados, e não deixaram de cultuar suas tradições e crenças. Essa cartilha tem que ser usada como um manual”, colocou ele.

A Asidrab homenageou Luciana Genro com um certificado de Honra ao Mérito.

Esse aspecto do combate ao preconceito também foi citado por Pai Wilson de Oxalá: “Precisamos de união. Chega de sermos apedrejados, sofrermos preconceito”. Já o Pai Andriel, presidente da Federação de Ordem Religiosa Africanista, destacou o aspecto inclusivo dos terreiros. “Eu levo muito os pais e mães de religião como líderes comunitários. O terreiro sempre inclui, não exclui ninguém”, apontou.

“Tentamos ser democráticos, isso foi o que permeou essa cartilha. A nossa união é muito importante para combater essa intolerância. O mandato está sempre à disposição das religiões de matriz africana e esperamos que essa cartilha possa ter um papel na formação e no combate à intolerância”, resumiu Carla Zanella. Luciana Genro também é autora do projeto de lei que determina o Dia Estadual do Tamboreiro, do Alabê, do Ogã e do Tata.

Lançamento na festa de Oxum

Na quarta-feira (8), a cartilha também foi lançada na festividade que homenageia a grande mãe Oxum, às beiras do Guaíba. Oxum é a orixá da fertilidade, da prosperidade, do amor e da maternidade, também intitulada a rainha das águas doce. Todo dia 8 de dezembro os devotos se reúnem para celebrá-la, e na ocasião, Luciana, Carla, Ingra, Cris e outros integrantes do mandato que são de religiões de matriz africana entregaram as cartilhas aos devotos e dialogaram sobre o material.

Lançamento também ocorreu na festa de Oxum, no dia 8 de dezembro.

Confira mais fotos do lançamento: