O dia 18 de agosto pode passar a ser reconhecido como o Dia da Dança Afro-Brasileira no Rio Grande do Sul. É o que propõe a deputada Luciana Genro (PSOL) no projeto de lei 314/2021, protocolado nesta sexta-feira (24), que visa incluir a data no Calendário de Eventos Oficial do estado. O dia homenageia a bailarina Mercedes Baptista, a primeira mulher negra a integrar o corpo de balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e precursora da dança afro-brasileira.
A iniciativa foi idealizada pela professora Perla da Silva dos Santos, uma das coordenadoras do Projeto Meninas Crespas, que tem articulado importantes movimentos de base em torno da manutenção da memória de Mercedes Baptista para a cultura negra no nosso país. Foi a partir do contato de Perla que o mandato da deputada Luciana Genro elaborou a proposta de lei. “Essa homenagem à Mercedes Baptista busca valorizar a Dança Afro-Brasileira e fomentar atividades que valorizem essa importante forma de expressão artística. O Rio Grande do Sul é o estado com maior número proporcional de adeptos de religiões de matriz africana e sabemos que a Dança Afro-Brasileira tem esse diálogo muito forte com a religião”, coloca a deputada. Em Porto Alegre, a data já está no calendário da cidade, a partir de um projeto da vereadora Karen Santos (PSOL), também por sugestão de Perla, aprovado no ano passado. A ideia do movimento é promover o dia também em outras cidades e estados.
Nascida no ano de 1921, no interior do Rio de Janeiro, Mercedes estudou na Escola de Dança da bailarina Eros Volússia e na Escola de Danças do Teatro Municipal nos anos 1940. Ela ingressou no corpo de baile do Teatro Municipal em 1948, por concurso público. No entanto, foi vítima de racismo e foi selecionada poucas vezes para espetáculos devido ao forte preconceito em relação a bailarinos negros existente no Brasil. Na mesma época, tornou-se colaboradora, bailarina e, depois, coreógrafa do Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado por Abdias do Nascimento. Nos anos 1950, a partir de sua atuação no TEN, conseguiu uma bolsa de estudos com Katherine Dunham (a matriarca da dança negra norte-americana) nos Estados Unidos para passar um ano no país.
Ao retornar ao Brasil, decidida a formular uma proposta de dança ligada à cultura afro-brasileira, Mercedes passou a investigar a dança dos candomblés brasileiros, frequentando a casa do amigo e pai de santo Joãozinho da Goméia, no Rio de Janeiro. Inclusive, havia filhos de santo da casa que eram bailarinos do grupo. A bailarina contava também com a ajuda do grande pesquisador e folclorista Edson Carneiro. A partir daí, Mercedes fundou em 1953 o “Ballet Folclórico Mercedes Batista”, que teve uma trajetória de sucesso, realizando excursões pelo Brasil, países sul-americanos e na Europa.
A partir dos anos 1970, Mercedes passou a se dedicar ao ensino, além de seguir atuando como coreógrafa. No Brasil, tornou-se professora da Escola de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ministrando a disciplina “Dança Afro-Brasileira”. Nos EUA, ministrou cursos no Connecticut College, no Harlem Dance Theather e no Clark Center de Nova York. Reconhecida internacionalmente, a bailarina foi homenageada por diversas escolas de samba, pela Câmara do Rio de Janeiro e seu nome batizou uma sala de dança do Centro Cultural José Bonifácio. Faleceu no dia 18 de agosto de 2014, aos 93 anos.
Leia o PL na íntegra:
PROJETO DE LEI
Deputada Luciana Genro
Institui o Dia Estadual da Dança Afro-brasileira no Estado do Rio Grande do Sul.
Art. 1º. Fica instituído o “Dia da Dança Afro-brasileira” no Estado do Rio Grande do Sul, a ser comemorado, anualmente, no dia 18 de agosto.
Art. 2º. O Dia da Dança Afro-brasileira fica incluído no Calendário Oficial de Eventos do Estado do Rio Grande do Sul.
Art. 3º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Sala das Sessões, em 24 de setembro de 2021.
Deputada Luciana Genro.
JUSTIFICATIVA
O presente Projeto de Lei tem como objetivo instituir oficialmente o dia 18 de agosto como o Dia Municipal da Dança afro-brasileira no Estado do Rio Grande do Sul, objetivando, com isso, o reconhecimento da trajetória de vida de Mercedes Baptista, uma importante bailarina brasileira, considerada a precursora da dança afro no Brasil.
Mercedes Baptista nasceu no ano de 1921, no interior do estado do Rio de Janeiro. Iniciou seus estudos em dança com Eros Volúsia e, posteriormente, com o primeiro bailarino do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Yuco Lindberg. Na década de 1940, conhece a pesquisadora e coreógrafa estadunidense Katherine Dunham. A partir de então, passa uma temporada no Estados Unidos com o objetivo de aprofundar os seus estudos com Dunham.
De volta ao Brasil, Mercedes torna-se a primeira bailarina negra a compor o corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1948 e, ainda nos anos de 1940, torna-se colaboradora, bailarina e, depois, coreógrafa do Teatro Experimental do Negro (TEN), buscando a valorização de artistas negros. No ano de 1956, Baptista inaugura no Brasil uma companhia de dança com seu nome, alcançando projeção em vários lugares do País e também fora dele, como na Argentina e na França.
A partir da década de 1990, Mercedes Baptista passa a ter sua trajetória de bailarina e coreógrafa cada vez mais reconhecida, sendo fonte de inspiração em homenagens e eventos, também realizados por muitas escolas de samba[1]. Em 18 de agosto de 2014, aos 93 anos de idade, Mercedes vem a falecer.
A professora Perla da Silva dos Santos, idealizadora e uma das coordenadoras do Projeto Meninas Crespas, tem articulado importantes movimentos de base em torno da manutenção da memória dessa personagem histórica para a cultura negra no nosso país.
Nesse sentido, contamos com a colaboração desta Casa Legislativa para aprovação desse Projeto de Lei, que visa à implementação do Dia Estadual da Dança Afro-brasileira no calendário oficial do Estado do Rio Grande do Sul e, com isso, fomentar atividades que valorizem essa importante forma de expressão artística.
Sala das Sessões, em 24 de setembro de 2021.
Deputada Luciana Genro.
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[1] DOS SANTOS, Perla da Silva. Projeto Meninas Crespas- Da África a Restinga: Uma proposta de educação afro centrada pela dança. Projeto de conclusão de curso. Escola de Educação Física e Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018. Disponível em : <http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/hist%C3%B3ria-e-mem%C3%B3ria/historia-e-memoria/2014/07/17/mercedes-baptista>. Acesso em 18 de janeiro de 2020.
Vídeo-documentário Balé de pés no chão: A dança afro de Mercedes Baptista. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=x9CMU4aayjU>