Mulheres que são lideranças de seis comunidades em periferias de Porto Alegre e na região metropolitana conversaram com a deputada Luciana Genro (PSOL) em live nesta quinta-feira (1º) sobre suas lutas, conquistas e dificuldades. Durante o período de pandemia, questões que já eram urgentes, como a regularização de áreas ocupadas e o acesso a saneamento básico, à alimentação e emprego, foram agravadas.
“Estamos numa situação de crise habitacional muito grande, mas a gente conhece a capacidade de resistência desses territórios e da construção de saúdas auto-consturídas e auto-geridas dentro das próprias comunidades. A maioria das ações de solidariedade foram fomentadas por mulheres muito corajosas, que estão sobrecarregadas pelas tarefas de cuidados com a família, com os filhos, com os idosos, com a casa, que muitas vezes ficaram desempregadas com a pandemia porque não puderam voltar a trabalhar, por não terem com quem deixar os filhos. Mas estão botando a mão na massa para construir saúdas para suas comunidades e territórios”, iniciou Luciana Genro.
Adriana Fatima da Fontoura trouxe a realidade da Cooperativa Habitacional Cidade Nova, no bairro Belém Velho, extremo-sul de Porto Alegre, que existe há 14 anos e conseguiu ser classificada como uma área especial de interesse social, o que garante a permanência dos moradores. Ela também abordou a importância do cooperativismo e destacou que a prefeitura de Porto alegre exige que as comunidades formem cooperativas para negociar as áreas que ocupam. “Nos últimos seis anos, temos perdido muito devido aos nossos governantes. Chegamos hoje no Departamento Municipal de Habitação (Demhab) e eles instruem que se faça uma cooperativa, o que foi uma forma do governo tirar a sua responsabilidade em cima da moradia. Mas depois isso não nos garante acesso a direitos”, denunciou.
Já a Ocupação Vida Nova, na Restinga, segue em processo de regularização, que já está bem avançado, segundo a liderança Jaqueline de Castro. Os moradores também precisaram montar uma cooperativa, mas conseguiram negociar a área onde vivem com o município e irão comprar o terreno. Durante a pandemia, porém, Jaque relatou que a comunidade está passando por muitas dificuldades, com desemprego, falta de serviços públicos e altos índices de violência doméstica. “Está muito difícil, muita gente ficou desempregada. E os homens se prevalecem o momento que as mulheres estão mais frágeis e têm que ficar em casa”, lamentou. Hoje, cerca de 150 famílias estão passando necessidade no local.
Também no bairro Restinga, a cooperativa Progredir conta com 575 famílias que devem ser assentadas na Restinga Velha, em área já conquistada. “A questão das cooperativas foi uma forma que o governo achou de tirar do seu a responsabilidade de habitação, mas para nós foram uma forma de organização”, reflete a liderança Jorgina Ribeiro Machado. Ela, que também é parceira do Emancipa Restinga, relata que tem visto muitas comunidades onde as pessoas estão passando dificuldades: “a população está carente de moradia, de alimento e trabalho”. O Emancipa Restinga vem buscando ajudar as famílias da região com doações de cestas básicas e marmitas durante o período da pandemia.
Na Vila São Borja, na Zona Norte de Porto Alegre, Tatiana Santos Godoy fundou o Clube de Mães Mãos à Obra, diante da falta de emprego que percebeu que afetava as mães da comunidade. “A questão de pandemia fez a gente se unir mais, ver a necessidade de cada mãe, a questão das atividades das escolas, se uma tem internet, apoia a outra. Agora estamos lutando por uma sede para poder ajudar mais famílias. Queremos fazer oficina de costura, artesanato, de panificação, queremos ajudar as crianças com o nosso notebook e nossa internet”, relata. O Clube vem sendo parceiro do Emancipa Santa Rosa de Lima, que também realiza ações de solidariedade com ocupações e pessoas em vulnerabilidade na zona norte da capital.
Uma das lideranças da Ocupação Marielle Franco, em Sapucaia do Sul, Diomar Lopes Ercio contou um pouco sobre a escolha de homenagear a vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL que foi assassinada em 2018. “Marielle Franco foi o nome escolhido porque a diretoria é de mulheres, somos uma equipe feminina aqui. Então ela inspira a nossa luta. Aqui a gente faz essa luta diária de impor que mulher pode, que mulher corre atrás, consegue, e assim estamos indo e buscando nossa moradia digna”, contou. São quase 400 famílias que vivem na ocupação localizada na região metropolitana.
A situação do Condomínio Porto Novo, trazida pela liderança Ingridy Rodrigues Vieira, é um pouco diferente das outras por se tratar de uma área de reassentamento. Os moradores da Vila Dique foram levados para o local, em um processo que durou anos e causou grandes perdas para a comunidade, tanto em termos de espaço quanto de geração de renda. “Para nós, sair da vila Dique foi terrível. A gente construiu muitas casas, era uma vila muito unida. Tinha muita gente que vivia da reciclagem, e aí no contrato de remoção diz que não pode reciclar, porque é apartamento”, contou Ingridy. Ela integra o Emancipa Santa Rosa de Lima e está na luta por condições de vida mais dignas para a comunidade.
Luciana Genro destacou, ao longo da live, a ação de solidariedade que seu mandato está promovendo em conjunto com o Emancipa para destinar alimentos, kits de higiene e outros itens básicos para as famílias necessitadas. As comunidades onde vivem as convidadas devem estar entre as beneficiadas da Vakinha, que pode ser acessada pelo link: http://vaka.me/1952247. A distribuição das doações será feita pelo Emancipa Restinga e Emancipa Santa Rosa de Lima, que já vem fazendo ações de solidariedade durante a pandemia.
A live está disponível no Youtube da deputada Luciana Genro e pode ser acessada clicando aqui.