Márcio Chagas
Artigo publicado em Zero Hora, dia 29 de janeiro de 2021.
Impressionante o silenciamento da CBF em não se manifestar contrário as manifestações racistas sofrida pelo árbitro Luiz Flavio de Oliveira, após o GRENAL. Se a entidade máxima do futebol silencia, como cobrar do árbitro um posicionamento?
Estamos vivendo um dos momentos de maior reflexão sobre a luta antirracista, mas quando vamos para o ambiente do futebol, essa luta perde força através da opressão dos dirigentes que calam quem sofre as agressões e violências raciais.
A luta antirracista não é para cobrar dos negros um posicionamento, mas sim apoiá-los para o enfrentamento e denuncia. Infelizmente não há consciência para essa luta ser de todos, isso ficou evidente desde domingo com o VAR do silêncio que mais uma vez imperou para que mais um caso de racismo seja esquecido. Recentemente a CBF abriu as portas para a Frente Nacional Antirracista para dialogar sobre o racismo no futebol brasileiro, e até agora ninguém se manifestou.
Os casos de racismo no futebol aumentaram de 2014 até o último relatório do observatório da Discriminação Racial no Futebol em mais de 200% até 2020.
Negar o racismo é reforçar a ideia de democracia racial. Ultimamente tem sido estampado o lema, respeito é a lei do jogo, outra falácia pois não há respeito algum com os “profissionais” do apito brasileiro, todos continuam amadores e dependendo da taxa quando são sorteados.
Eu sinto-me envergonhado com as manifestações racistas expostas nas redes sociais, feitas por diversos perfis, alguns falsos e outros de perfis bem famosos.
Minha grande dúvida é se realmente vale a pena comprar essa briga , ou se calar para manter algum privilégio que possa acontecer mais à frente por esse silenciamento?
Mas como pautar o racismo dentro do futebol brasileiro, onde não observamos preparadores físicos, técnicos, dirigentes, presidentes de clubes e federações , assim como árbitros que sejam negros?
Será que há interesse para mudar essa mazela histórica que se perpetua desde o período da escravatura?
O árbitro Luiz Flavio de Oliveira foi o alvo de mais um caso “isolado” de racismo no futebol brasileiro, e nem o VAR moral e ético pode nos auxiliar para entender o motivo do seu silenciamento , após tantas manifestações criminosas. Esse é mais um lance que nunca saberemos o que realmente aconteceu durante a comunicação do árbitro com a CBF.
*Foi candidato a vice-prefeito de Porto Alegre pelo PSOL. Professor de educação física, ex árbitro e militante do movimento negro.