A voluntária que preside a ONG Cão da Guarda, Lúcia Helena da Luz, concorreu a uma vaga na Câmara de Vereadores de Porto Alegre pelo PSOL nas eleições de 2020. Ela não se elegeu em sua primeira tentativa, mas garante que o saldo da experiência foi positivo e que voltará a disputar no futuro.
“Foi melhor do que eu imaginava, achava que ia me desgastar e me frustrar, mas na verdade tenho aprendido muito com o partido. A rede de proteção animal ampliou muito também, as pessoas chegaram muito no nosso trabalho em função da minha candidatura”, avalia Lúcia Helena.
Servidora pública da área da saúde, Lúcia Helena também é formada em Direito pela PUCRS e, há cinco anos, criou a ONG que atualmente conta com cerca de 10 voluntários. A entidade trabalha com resgate, reabilitação física e emocional do animal e adoção responsável. A Cão da Guarda atende majoritariamente cães e gatos, a partir da formação de voluntários que atuam como lar temporário até os animais serem encaminhados para adoção. A partir das redes sociais e, antes da pandemia, de eventos e feiras, os voluntários auxiliam na procura por um lar.
“Antes da pandemia, a gente fazia muitos eventos, de arrecadar ração, parcerias com estabelecimentos comerciais, muitas feiras de adoção nos parques Redenção e Germânia”, conta Lúcia. No Germânia, a proposta das feiras era promover a adoção especificamente de cães adultos, que costumam ser preteridos em prol dos filhotes. No local, também era possível tirar fotos dos animais para divulgar no Facebook e no Instagram. “Ali eles aproveitavam o dia passeando, interagindo com as pessoas. Muitas pessoas iam até o local para conhecer os animais e ali realizávamos várias adoções. Os cães adultos são muito esquecidos nos abrigos”, explica.
No período de isolamento social, sem a possibilidade de realizar as feiras, os encaminhamentos para adoção diminuíram muito. “Dificultou muito e agora estamos com uma demanda reprimida, com muitos animais, porque infelizmente houve casos graves que tivemos que resgatar e acabou acumulando”, lamenta. Para 2021, a Cão da Guarda pretende lançar duas campanhas: uma para arrecadar ração, que é um dos grandes custos que a ONG tem, e outra para incentivar a adoção.
Desde 2017, Lúcia administra também um projeto de castração que atualmente já atende toda Porto Alegre e região metropolitana, o Castra POA. Em 2018, a ONG também criou o Castra Alvorada, e assim conseguem atender grande parte da demanda. “Funciona como um canal de diálogo, de informação, de direcionamento para que as pessoas consigam levar seus animais para castração de forma de baixo custo ou gratuita”, relata.
Conforme explica Lúcia, nem todos os animais que vivem nas ruas são resgatados pela ONG. Ao receber uma ligação de alguém preocupado com um animal abandonado, a organização busca primeiramente orientar a pessoa. “Tentamos conscientizar que ela pode resgatar e que vamos auxiliar com orientação de veterinário a baixo custo, como cuidar do animal como lar temporário. Se a pessoa tem um cão abandonado na frente de casa, orientamos a dar comida e água, tentar castrar, como cuidar como um cão comunitário. Mas quando a situação é muito complexa, o animal corre risco de vida, daí a gente intervém de forma mais ativa”, relata.
A decisão de concorrer
Segundo Lúcia, a ideia de concorrer a um cargo político veio como uma demanda do grupo, e não uma decisão individual. Ela conta, porém, que desde que começou o trabalho com os animais, há quem sugira pra ela se candidatar. Foi agora que se sentiu madura e preparada o suficiente para se lançar candidata. “Foi um amadurecimento do grupo, a gente sempre precisou de órgão público para apoiar e sabemos que a proteção é uma obrigação do poder público. Então a gente sempre atuou no terceiro setor, daí decidimos avançar para política dentro do legislativo. Como eu presido a ONG, tenho um perfil mais de liderança, conversamos e eu me coloquei para concorrer”, conta.
O PSOL, para ela, foi uma escolha natural nesse sentido. “É o partido que mais nos representa como um todo, como cidadãos e nas causas ambientais também. A gente não tem um olhar do micro na proteção animal, não é só cães e gatos para a gente. Embora a gente não consiga atuar em todo o campo, acreditamos que dentro do meio-ambiente todas as questões devem ser defendidas”, aponta Lúcia.
A partir da sua atuação como servidora municipal, ela já tinha uma aproximação com a agora deputada federal Fernanda Melchionna, desde seus mandatos como vereadora em Porto Alegre. Desde que ingressou no partido, tem se aproximado também da deputada estadual Luciana Genro, a qual Lúcia avalia que tem se mostrado muito aberta à pauta da causa animal.
Nos últimos quatro anos, durante a gestão de Nelson Marchezan Jr (PSDB) na prefeitura, Lúcia avalia que a situação para a rede de proteção animal decaiu muito. “Eu não estava mais conseguindo ampliar a minha ação voluntária, em função de uma má gestão do Marchezan, que foi um retrocesso gigantesco perto do que era a SEDA [Secretaria Especial dos Direitos Animais] na gestão Fortunati. Tenho críticas a ele também, mas pelo menos existia. Tinha que ampliar, melhorar, e houve o total abandono nos últimos quatro anos”, aponta.
Assim como o voluntariado, a política também trouxe realização pessoal para Lúcia Helena, que pretende continuar nessa trajetória daqui para a frente. “Minhas metas eram trazer o holofote para a causa animal e avançar em políticas públicas, e só na campanha acho que já cumpri essas duas metas. Lutei muito por isso nos últimos quatro anos e vou seguir lutando”, garante.
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