Audiência Pública Pelotas LGBT
Audiência Pública Pelotas LGBT

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Cerca de 150 pessoas compareceram à audiência pública da Comissão Especial para Análise da Violência Contra a População LGBT. | Foto: Izabel Moreira

O auditório da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ficou lotado na noite de quinta-feira (09/05) para um debate sobre preconceito e discriminação. A Comissão Especial da Assembleia Legislativa para Análise da Violência Contra a População LGBT realizou uma audiência pública na cidade, coordenada pela deputada estadual Luciana Genro (PSOL), presidente da comissão.

Compuseram a mesa da audiência pública a vereadora de Pelotas Fernanda Miranda (PSOL), a delegada Maria Angélica XX, da Delegacia de Atendimento à Mulher, a coordenadora do Núcleo de Gênero e Diversidade (Nugen) da UFPel, Márcia Monks, e o militante do coletivo Juntos LGBT, Rodrigo Rosa.

Luciana Genro preside a Comissão LGBT da Assembleia Legislativa. | Foto: Cibele Gil

A Comissão Especial tem quatro meses para realizar um trabalho de mapeamento da violência contra a população LGBT no Rio Grande do Sul e apresentar um relatório contendo os dados colhidos e propostas de políticas públicas. Luciana Genro ressaltou que as medidas só poderão se tornar realidade se houver mobilização e pressão social. “Nós faremos a nossa parte, percorrendo o Estado em busca das informações e elaborando as propostas. Mas é preciso pressionar a Assembleia e o governo para que elas sejam aprovadas. A organização independente e autônoma da comunidade LGBT é fundamental para isso”, disse a deputada.

A vereadora Fernanda Miranda ressaltou a necessidade de se combater o bullying LGBTfóbico nas escolas e reforçou a luta por democracia no ambiente de ensino, contra o projeto de censura nas escolas. “Vidas estão sendo tiradas pelo ódio e pelo preconceito. A LGBTfobia é uma doença social, 76% dos estudantes LGBTs relataram já ter sofrido violência verbal e física nas escolas. Precisamos mapear essas situações, por isso parabenizo a deputada Luciana Genro por estar indo até as cidades realizar estas audiências”, completou.

A vereadora Fernanda Miranda ressaltou necessidade de se combater o bullying LGBTfóbico. | Foto: Cibele Gil

O cabeleireiro Rodrigo Rosa, que atua no coletivo Juntos LGBT, falou sobre a situação das pessoas que convivem com o vírus HIV, demonstrando preocupação com as decisões do governo Bolsonaro sobre o tema. “Negar o acesso básico à saúde é uma forma de violência. A situação é preocupante, porque Bolsonaro já havia declarado sua posição de interromper as ações de prevenção ao HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis com públicos chaves”, criticou.

Ele informou que pesquisas apontam um percentual muito maior de chances de contrair o vírus entre homens gays (27%) e mulheres trans (13%). Rodrigo Rosa também criticou o fato de que, no Rio Grande do Sul, a dispensação de medicamentos para HIV é feita mensalmente, diferentemente de outros estados, onde os remédios são distribuídos para até três meses.

Márcia Monks disse que as travestis e transexuais são mortas com requintes de crueldade. | Foto: Cibele Gil

Ativista do movimento trans, Márcia Monks cobrou providências dos órgãos públicos quanto ao assassinato de travestis e pessoas trans no Brasil. “Só este ano já foram 20 casos. São crimes brutais. As travestis não são mortas com um tiro, mas com 20”, lamentou. Ela também ressaltou a necessidade de políticas públicas contra a evasão escolar de LGBTs. “A escola é o pior lugar para uma pessoa trans. Eu fui expulsa de Pelotas aos 16 anos”, recordou.

A delegada Maria Angélica Gentilini da Silva explicou que a Polícia Civil criou um Departamento de Grupos Vulneráveis, que reúne delegacias como as de atendimento a mulheres e idosos. Até o final deste ano será criada a Delegacia de Combate à Intolerância, que atenderá os casos ligados à discriminação contra a população LGBT. “Teremos todo um preparo e uma agenda de trabalho voltada à prevenção destes crimes e a repressão contra qualquer tipo de violência”, assegurou.

Rodrigo Rosa falou sobre retrocessos que pairam nas políticas de atendimento a pessoas que convivem com HIV. | Foto: Cibele Gil

Ao longo da audiência pública diversas inscrições da plateia foram colocadas, registrando intervenções da comunidade LGBT de Pelotas em busca de dignidade, visibilidade e direitos. Ao final, Luciana Genro destacou que o trabalho da Comissão LGBT irá seguir, realizando mais seis audiências públicas no Estado e visitas técnicas em casas prisionais, como a Penitenciária Estadual de Charqueadas, que já foi visitada pela deputada.