Artigos publicados nos jornais Diário de Santa Maria e Pioneiro em 14/03/2019.
Por Luciana Genro
Há exatamente um ano a vereadora do PSOL Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram brutalmente executados no Rio de Janeiro. Um atentado bárbaro, que gerou uma onda de comoção no Brasil e no mundo e cravou no centro do debate político uma pergunta, para a qual ainda não temos resposta: Quem mandou matar Marielle e por quê?
Somente após um ano da morte de Marielle é que a investigação conseguiu identificar quem disparou o gatilho e quem dirigiu o veículo. A prisão de dois policiais militares envolvidos no crime representa um avanço importante na elucidação do caso, mas ainda não é o suficiente. Queremos saber quem são os mandantes e qual a motivação.
A perseguição a quem defende os direitos humanos está marcada a ferro e fogo na história brasileira. Antes de Marielle tivemos Chico Mendes, Dorothy Stang e tantos outros lutadores e lutadoras do povo que tiveram suas vidas ceifadas por se opor a interesses poderosos.. As mulheres, o povo negro, a população indígena e a comunidade LGBTI são os alvos preferenciais. Não é por acaso que estes são justamente os segmentos com menos acesso aos espaços de decisão. Marielle Franco reunia em seu corpo muitos destes marcadores. Era uma mulher negra, LGBTI, de origem popular e de esquerda. Enfrentava com destemor a força do crime organizado e das milícias no Rio de Janeiro.
São gravíssimos os indícios de que a família do presidente Jair Bolsonaro possa ter relações com grupos de milicianos. A relação entre poder político e força repressiva paraestatal controlando territórios e sufocando comunidades não é novidade no Brasil. A novidade está na forte suspeita de ligação destes segmentos com o grupo instalado no Palácio do Planalto, o que confere à tragédia política do país elementos de atuação mafiosa.
A ausência de respostas sobre a execução de Marielle e Anderson é um escândalo. Não descansaremos enquanto não soubermos quem encomendou este crime bárbaro e por qual motivo. Nós, do PSOL, seguiremos carregando a memória e as lutas de Marielle, que representava uma bandeira sem manchas em defesa da igualdade e de um Brasil e um mundo mais justos, onde o lucro não esteja acima do bem comum e da vida das pessoas.