Por Luciana Genro
A prisão do Eduardo Cunha, do PMDB, é um fato histórico que demonstra que o sistema penal brasileiro finalmente está chegando ao andar de cima. Além dele, a operação Lava Jato já prendeu outros políticos poderosos, de diferentes partidos, e grandes empresários antes intocáveis, como os presidentes das principais empreiteiras do país.
Defendo a investigação e punição de todos os corruptos, doa a quem doer. Uma operação que está colocando na cadeia donos de empreiteiras e políticos que comandavam esquemas históricos de ataque aos cofres públicos não é uma operação contra a esquerda, é uma operação contra os corruptos, sejam eles de esquerda ou de direita. Os investigados na Lava Jato não estão desprotegidos, à margem do acesso à mais ampla defesa. Pelo contrário, possuem os mais bem pagos advogados do país à sua disposição. A violação de direitos pela Justiça existe, sim, e ocorre todos os dias contra a juventude negra e pobre nas periferias. Contra este sistema medieval eu sempre lutei, como militante política e como advogada. Mas não são os jovens negros e pobres que a Lava Jato está atingindo, e sim a casta política e econômica corrupta do país!
Estou comemorando muito a prisão do Cunha e desta casta toda. E estranho muito quem se diz contra a corrupção, mas não reconhece a importância de uma operação que pela primeira vez está fazendo com que o sistema penal – que por sua natureza é sempre arbitrário contra os pobres, que não têm dinheiro para pagar os melhores advogados – agora esteja finalmente chegando nos do andar de cima. O nosso “devido processo legal” permite que 40% da massa carcerária, composta majoritariamente por pobres e negros, esteja presa sem julgamento final. Este sistema precisa mudar. Mas não só para os de cima, para todos! Que siga a Lava Jato, doa a quem doer.