Bernie Sanders
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Bernie Sanders é o candidato anti-establishment que vem ganhando apoio entre jovens, trabalhadores e classe média nos Estados Unidos | Foto: Divulgação/Bernie Sanders

Bernie Sanders é o candidato anti-establishment que vem ganhando apoio entre jovens, trabalhadores e classe média nos Estados Unidos | Foto: Divulgação/Bernie Sanders

*Artigo do jornalista Clóvis Rossi publicado originalmente na edição impressa e no site da Folha de São Paulo nesta quinta-feira (04/02).

Se houvesse no Brasil algum partido realmente sério, convidaria o senador Bernie Sanders para um punhado de palestras.

Afinal, seu diagnóstico dos Estados Unidos cabe, sem mudar uma única vírgula, para o Brasil, o contemporâneo e o de sempre.

Disse Sanders em um dos primeiros debates de que participou: “Eu acredito que o poder das corporações, o poder de Wall Street, o poder das companhias de medicamentos é tão grande que a única maneira de realmente transformar a América e fazer as coisas que a classe média e a classe trabalhadora desesperadamente necessitam é por meio de uma revolução política”.

Eu também acredito, Bernie, e fico feliz por ver que sua mensagem, tão antiestablishment, colou em metade dos eleitores democratas ao menos no Estado de Iowa.

As pesquisas dizem que está colando mais ainda em New Hampshire, o Estado das próximas primárias.

Claro que não quer dizer que Bernie Sanders possa de fato derrotar o que ele classifica de “a mais poderosa máquina eleitoral dos Estados Unidos”, a do clã Clinton.

São Estados pequenos demais para realmente representarem tendências nacionais.

Em todo o caso, permanece o fato de que a mais poderosa nação do planeta vive um momento de “malaise” e de distanciamento do mundo político talvez inédito em sua rica história.

Como escreve o boletim por e-mail do “Financial Times”, “ambos os partidos estão profundamente divididos e lidando com sérias revoltas antiestablishment”.

De fato, pela direita, tanto Ted Cruz como Donald Trump, os mais votados nas assembleias republicanas, contrariam o establishment partidário.

Russell Ronald Reno, editor da revista “First Things”, ex-professor de teologia, ensaia uma explicação, em artigo para o “The New York Times”:

Começa dizendo que, desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a cultura política dos EUA “organizou-se em torno das necessidades, medos e aspirações dos eleitores brancos de classe média, de uma maneira que também satisfazia os interesses dos ricos e poderosos. Não é mais assim”.

Continua: “A verdadeira clivagem é entre brancos que prosperaram na economia global –e em meio às mudanças culturais dos últimos 50 anos– e aqueles que não o fizeram”.

Fecha assim: “Hoje, um vasto meio do meio teme que, a menos que você esteja subindo, está indo para baixo”.

Como a imensa desigualdade que se instalou nos Estados Unidos (e que, no Brasil, sempre fez parte do panorama) leva poucos a subirem enquanto a maioria desce, surge o mal-estar que faz procurar o não convencional.

É eloquente que a palavra “socialismo”, antes um anátema nos EUA, seja bem vista por 49% dos jovens entre 18 e 29 anos, segundo pesquisa do YouGov.

É o típico eleitor de Bernie Sanders, que se intitula socialista democrático. Seu modelo não são os socialismos fracassados, mas a Dinamarca.

Era também o modelo para Lula, antes que ele se dedicasse, no poder, a fazer as corporações ganharem dinheiro como nunca antes, como repetiu uma e outra vez.

Falta, portanto, um Sanders no debate político tropical.