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| Direto da Grécia | Internacional

Thiago Aguiar*

As primeiras horas em Atenas puderam mostrar os desafios que se apresentam para Syriza. Logo após minha chegada, fui ao escritório central do Syriza em Atenas, onde encontrei um repórter da BBC que aguardava “o brasileiro” para uma entrevista. Sua missão era falar com os estrangeiros que estavam na Grécia em apoio à campanha da esquerda e entender seus motivos. A verdade é que os olhos do mundo estão voltados para os resultados de 25 de janeiro.

As conversas com os militantes do Syriza em geral apontam na mesma direção: o desafio da maioria absoluta. Para formar o governo e aplicar um programa antiausteridade, Syriza precisa ter ao menos 151 cadeiras no Parlamento. Isto ocorre porque não há, até o momento, qualquer possibilidade de composição com outras forças na formação de um governo. A posição de Syriza é lutar pela maioria e não aceitar qualquer composição que signifique abrir mão de algum ponto do Programa de Tessalônica, apresentado pelo partido.

Uma coalizão para formar o governo é quase descartada, em primeiro lugar, obviamente, porque as maiores formações políticas do país são pró-austeridade. Nova Democracia, PASOK e sua ruptura, o novo partido do ex-ministro Papandreu, são os responsáveis por levar a Grécia à crise em que se encontra. Enquanto o primeiro disputa com Syriza a liderança nas pesquisas, os dois últimos correm o risco de ficar fora do Parlamento se não superam a cláusula de barreira.

Além deles, TO POTAMI, um partido novo comandado por um apresentador de televisão de corte liberal, os neonazistas do Aurora Dourada e o partido comunista KKE disputam nas pesquisas o terceiro lugar. Com os dois primeiros, não há aliança possível. Já o KKE há anos é objeto de uma campanha pela unidade da esquerda promovida por Syriza, mas simplesmente não aceita. O partido tenta justificar-se com todo tipo de distracionismo para esconder sua posição essencialmente sectária, delirante a ponto de, agora, nas vésperas da eleição, agitar que o voto da esquerda deve ser direcionado aos comunistas, já que o Syriza não tem chance de alcançar a maioria absoluta e formar governo. Os estalinistas do KKE, desse modo, mais uma vez se mostram funcionais à Troika e aos conservadores gregos.

A campanha ocupa, por óbvio, a televisão, as rádios e os debates do país. Nesse momento, estou na Sto Kokkino, a Rádio Vermelha, que é uma das mais ouvidas de Atenas, mantida pelo Syriza. Sua vinheta é uma simpática versão da Internacional. Reencontrei alguns amigos que fiz aqui em 2012 e participei de um programa no rádio em que falamos sobre a situação do Brasil, além de nossas impressões sobre o processo grego. A rádio mantém uma programação especial em inglês para o público estrangeiro (ww.stokokkino.com), para a qual também demos uma pequena declaração.

À noite, no entanto, virá o principal. Às 19 horas (15 horas de Brasília), na Praça Omonia, no coração de Atenas, haverá o comício de encerramento de campanha do Syriza. A delegação do PSOL estará então completa para acompanhar a atividade, com a chegada do companheiro Juliano Medeiros. Alexis Tsipras será o principal orador, numa atividade que contará com a presença de Pablo Iglesias do PODEMOS e de diversos dirigentes da esquerda europeia. Será um momento histórico e talvez o último grande esforço de rua para alcançar a maioria absoluta no 25/01. A esperança está chegando!

 

*Thiago Aguiar é sociólogo, militante do PSOL e do Juntos, representa a Fundação Lauro Campos nas eleições da Grécia do próximo domingo