Comandante Petracco, Presente!
No meio da tarde de hoje, dia 24 de dezembro de 2012, faleceu nossa camarada e amigo Fúlvio Petracco. Depois de alguns dias no hospital, havia voltado para sua casa. Numa nova crise foi internado às pressas, mas desta vez não resistiu.
Sua morte é uma imensa perda. Petracco havia se filiado ao PSOL em meados do ano. Não havia sido uma filiação qualquer. O partido tinha conquistado um verdadeiro troféu. Pelo seu passado, é óbvio. Afinal, Petracco foi durante mais de meio século militante socialista – 50 anos organizado no PSB – e era presidente de honra deste partido no Rio Grande Sul quando decidiu ingressar no PSOL para seguir coerente com sua luta socialista. Uma luta que o levou a ser o principal líder estudantil da mobilização democrática-revolucionária que derrotou a tentativa de golpe militar em 1961. Desde esta época, quando comandou as mobilizações estudantis que se organizaram para resistir, com armas nas mãos se necessário fosse, tem sido chamado de comandante pelos seus camaradas mais próximos. No PSOL não aceitou este título. Disse que tal distinção cab ia apenas a Che Guevara.
Mas Petracco nos honrou não apenas pelo seu passado. Ele estava em plena atividade. Seu pensamento estava lúcido, ativo, sua alegria de viver estava totalmente acessa. No seu ato de filiação ao partido, todos nós tínhamos consciência de que sua decisão e sua incorporação rejuvenescia o PSOL. Sua militância nos doava ainda mais coragem e disposição militante. Foi com alegria e orgulho que adotamos como slogan “Roberto Neles” na campanha eleitoral da prefeitura de Porto Alegre para ligar nossa política com o rico simbolismo da experiência da campanha de Petracco para governo do Estado, em 1986, cuja marca foi “Petracco Neles”. Ele também, temos certeza, víamos isso em seus olhos, em sua fala mansa e firme, estava rejuvenescido de dar este passo político. Tinha convicção, e transmitia isso, q ue o capitalismo desenvolveria contradições cada vez maiores e que precisava ser enfrentado. Era, segundo suas palavras, a dialética do processo histórico. Sentia-se bem ao lado dos jovens e audaciosos militantes – como ele mesmo dizia – que haviam decidido construir o PSOL. Estava feliz em começar a conviver num novo espaço cujo propósito era a organização da atividade política transformadora, honesta e revolucionária.
Pena que foi por tão pouco tempo. Perdemos a chance de contar com suas novas ideias, suas propostas, suas iniciativas. Desta perda não temos como escapar. Mas seu exemplo ficou. Nossa memória conservará viva nossas conversas. E é engraçado perceber como o tempo é relativo, como, embora tenhamos dito apenas poucos meses de convivência partidária com ele, a vivência desta experiência comum foi intensa e nos fortaleceu. Como este pouco tempo nos deu a impressão, pela sua intensidade, de que estivemos juntos durante muitos anos. E estivemos mesmo. Não havíamos nos encontrado antes, no mesmo partido. Mas tínhamos muitas causas em comum, num tempo comum de lutas. Por isso os meses que nos encontramos valeram por anos. Agora vamos seguir trabalhando para honrar sua memória.
Roberto Robaina, Pedro Ruas e Luciana Genro
Em nome do PSOL e amigos do comandante Petracco