Não deixem de ler o artigo do Marcos Rolim na ZH de domingo, sobre a ação da polícia nos morros do RJ. Excelente!!
Traficantes e mafiosos, por Marcos Rolim*
Não é admissível que grupos armados dominem territórios como ocorre há décadas no Rio. Por isso, recuperar para o império da lei comunidades assoladas pelo terror é tarefa civilizatória. Reside aí a importância da ofensiva desencadeada na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Penso, entretanto, que é preciso afastar o delírio triunfalista que anestesia o país desde que a ocupação de favelas com uso de blindados foi comparada ao desembarque dos aliados na Normandia.
Carlos Resa Nestares, da Universidade Complutense de Madri, diferencia dois tipos de estruturas criminais: aquelas que vendem drogas e aquelas que produzem inteligência e proteção para qualquer comércio ilícito, inclusive com drogas. As primeiras formam grupos de traficantes, as outras formam máfias. No Rio de Janeiro, as facções do tráfico são o “Comando Vermelho”, o “Terceiro Comando”, o “Terceiro Comando Puro” e a “Amigos dos Amigos”. As máfias são as “milícias”, formadas por bandidos que trabalham nas polícias. As milícias já controlam áreas maiores que as facções. Ali, monopolizam a oferta de serviços ilegais, da venda de terras públicas e gás ao transporte clandestino e à instalação de TV a cabo (a famosa “Netcat”). Quando conveniente, os milicianos alugam regiões para o tráfico (com a mesma naturalidade, alugam “caveirões” para as facções); quando não, deslocam os traficantes, assumindo a venda de drogas diretamente. As milícias – que já elegem candidatos ao parlamento – são, de longe, o mais grave problema de segurança pública no Rio.
Por isso, a polarização pressuposta nas coberturas jornalísticas entre “polícia” e “traficantes” não existe no RJ. Traficantes mantêm bases territoriais e pontos fixos de venda porque compram proteção dos segmentos criminosos das polícias. Tudo funciona como em uma S/A de capital fechado. Boa parte das armas do tráfico é fornecida por policiais que, assim, colocam em risco a vida de todos, sobretudo a vida dos policiais honestos, aqueles que – apesar dos baixos salários – honram sua missão e nos protegem. Estes estão fora da “sociedade” e, por isso, correm riscos extras em suas corporações.
Os atentados com queima de ônibus e carros não foram uma “reação às UPPs”, como o governo afirmou. Versão que – como de costume quando o tema é segurança – foi assumida sem perguntas pela mídia. Em breve, saberemos os verdadeiros motivos e, então, haverá perplexidade. Mas o mais importante é compreender – como o demonstra a experiência mundial – que, em uma democracia, não é possível derrotar o tráfico de drogas com a “guerra”. Devemos impedir a existência da modalidade (já em declínio) do tráfico com domínio territorial e grupos armados. Mas, quando alcançarmos isto, o tráfico terá encontrado formas mais ágeis e baratas para abastecer o mercado. Para derrotá-lo, será necessária uma política pública de redução de danos que permita segmentar o mercado com experiências progressivas de legalização das drogas. A opinião pública no Brasil, entretanto, por desinformação e preconceito, não está disposta sequer a fazer este debate. Os traficantes e seus sócios, é claro, agradecem.
*Jornalista
Leiam também a coluna do Scliar, falando do nosso ato de segunda-feira!
Mesmo aqueles que não endossam as ideias de Luciana Genro precisam admitir: coragem não falta à jovem política gaúcha que agora enfrenta um problema. Com a eleição de Tarso Genro, seu pai, Luciana não pode ser candidata, exceto à Presidência da República, situação irônica quando se considera sua expressiva votação nas últimas eleições: foi a segunda candidata mais votada a deputado em Porto Alegre e a oitava no RS. Luciana quer ser vereadora em 2012 e lança uma campanha neste sentido, o que acontecerá na segunda feira, 6 de dezembro, na Faculdade de Direito da UFRGS, às 18h30. Representantes de todos os partidos confirmaram presença além de políticos ilustres: Tarso, Fortunatti, Ana Amélia, Simon, Zambiasi. Parabens pela iniciativa, Luciana. O RS e o Brasil te apoiam.