O Rio de Janeiro chora mais uma vez
O Rio de Janeiro chora mais uma vez

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O Rio de Janeiro chora mais uma vez

Rio de Janeiro, 1966: desmoronamentos causados por fortes chuvas deixaram um rastro de mais de 140 mortos

Mais uma vez!!! Novamente, uma tragédia anunciada nos assola e vitima!! São mais de 100 mortos em nosso Estado, em sua maioria, mortes que poderiam ser evitadas com um pequeno esforço e planejamento mínimo.

Choramos como cidadãos a perda de vidas valorosas e desejamos que a dor dos que perderam seus entes queridos sirva para mudar os rumos da política dos podres poderes em nosso Estado e em nossa cidade.

Todos concordamos que a densidade e o volume de chuvas, no curto espaço de tempo seria um problema para qualquer metrópole. Porém, discordamos radicalmente do Governador Sérgio Cabral e do Prefeito Eduardo Paes que tratam o problema como sendo de responsabilidade das forças da natureza tão somente.

A ausência de um plano diretor efetivo que organize a urbanização de nossas cidades, não só pensando nas favelas e áreas de risco, mas no excesso de construções a serviço dos interesses da especulação imobiliária, a falta de preservação ambiental, das áreas verdes e dos rios tão necessários ao escoamento das águas, a falta de limpeza das galerias e bueiros e, por fim, a ausência do socorro em uma situação de caos.

Saudamos o trabalho de vários servidores públicos no corpo de bombeiros, na defesa civil, nos hospitais, mas denunciamos a omissão do governo Estadual e da Prefeitura que não os aparelham adequadamente, que não constituem os efetivos necessários e que sequer os remuneram com dignidade.

Não seria a hora de rever os investimentos nos “choques de ordem” produzidos para os jornais e noticiários de TV e canalizá-los para atacar efetivamente os problemas estruturais de nossa cidade e de nosso Estado. Não seria hora de o governador refletir que, mais importante do que antecipar a propaganda eleitoral buscando aparecer a todo custo ao lado de Lula, seria necessário deslocar efetivos dos bombeiros do interior para a capital, buscar o apoio federal e acionar os efetivos do Exército, Marinha e Aeronáutica. Não seria hora de buscar apoio na sociedade civil organizada, solicitando o apoio dos rádios amadores, sindicatos e associações, para criar uma rede que se mobilize para o auxílio em situações de calamidade.

Estamos desde já arrecadando na sede do PSOL donativos que possam servir de apoio aos desabrigados. É pouco, mas o fazemos em solidariedade as vítimas da falta de políticas públicas.
Por fim saúdo em especial o presidente da Associação de Moradores do Morro do Estado de Niterói, uma das localidades mais atingidas, este companheiro membro da direção Estadual do PSOL deu um exemplo de esforço e coragem atuando diante de uma situação de tamanha dificuldade. Valeu Tão! Que sua dedicação sirva de exemplo para os que munidos de mandatos públicos pensam somente nos seus interesses privados.

Jefferson Moura é presidente do PSOL/RJ

As chuvas e o despreparo da cidade

Rio de Janeiro, 1988: Rua Jardim Botânico

O prefeito Eduardo Paes, numa de suas declarações à imprensa, afirmou que a cidade não está preparada para enfrentar as chuvas. Isto é um fato, mas faltou esclarecer de quem é a responsabilidade por esse despreparo. Ao longo de toda a minha vida parlamentar tenho alertado em meus discursos na Câmara de Vereadores sobre a forma irresponsável como são dadas as autorizações para novas construções no município do Rio de Janeiro. O bairro de Botafogo é um exemplo: em ruas onde há 50 anos só havia casas, hoje existem condomínios de mais de 18 pavimentos. Mas as redes de água e esgoto permanecem basicamente as mesmas, não houve ampliação da sua infraestrutura.

De acordo com a legislação, as construtoras deveriam ter, antes de começar a obra, um certificado de possibilidade de abastecimento de água e esgotamento sanitário fornecido pela Cedae. No entanto, isso tem sido levianamente ignorado por décadas, e agora podemos ver as consequências: as águas não têm por onde escoar. O Plano Diretor é também um importante instrumento de planejamento neste sentido, já que prevê quais regiões da cidade podem ser adensadas e quais não podem mais crescer. Infelizmente, o projeto de revisão do Plano Diretor hoje em tramitação na Câmara permite o adensamento de áreas já sobrecarregadas, sem considerar os riscos que isso representa. Que a tragédia dos últimos dias sirva de alerta para a necessidade de se preparar a cidade para as intempéries da natureza, planejando o seu desenvolvimento com responsabilidade.


Eliomar Coelho é vereador do PSOL na cidade do Rio de Janeiro

Fonte: Fundação Lauro Campos