De Copenhague para as páginas da história
De Copenhague para as páginas da história

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por Fernanda Melchionna, vereadora de Porto Alegre

Fernanda em Copenhague

Fernanda em Copenhague

Enquanto em Bella Center, onde acontece a COP 15, os líderes e negociadores mundiais desenham mais uma conferência de discurso irresponsável e nenhum acordo real, a juventude, os movimentos sociais e as organizações não governamentais protagonizaram outra marcha para história.

Assim como Seattle e Genova colocaram na ordem do dia a luta contra o imperialismo e a globalização, ou como os movimentos sociais indígenas e camponeses desenharam uma alternativa bolivariana na Venezuela, na Bolívia e no Equador; a marcha do dia 12 de dezembro em Copenhague foi um marco em defesa do meio ambiente e da humanidade, contra o aquecimento global.

Foram cem mil pessoas em uma marcha com muitas cores, alegorias, bandeiras, faixas e organizações. Por todos os lados a energia e o humor, a combatividade e a exigência, os vários idiomas cantavam juntos “Our climate is not your business” (nosso clima não é seu negócio).

Tinha de tudo um pouco: dragões de cômodo muito bem elaborados para lembrar de uma das espécies que pode entrar em extinção; bandeiras da liberdade de orientação sexual, do feminismo, dos socialistas, da luta pela reforma agrária, todas defendendo a Mãe Natureza.

Os cartazes davam o recado, exigindo “Ação Agora”, lembrando aos presidentes que “Não existe Planeta B”, apesar da apresentação de planos mirabolantes da NASA em países da África (plantações industriais nos desertos africanos, acabando com mais este rico ecossistema). A reivindicação clara de que se é para mudar algo, que se “Mude os políticos e não o nosso clima”, a luta pela “redução de 80% da emissão de CO2” para tentar entrar no debate real, reduzir o uso de combustíveis fósseis ao invés de criar um novo mercado “de venda de créditos de poluição”, como no Protocolo de Kyoto, eram algumas das reivindicações. “Capitalismo inimigo do povo e do clima” era o recado do nosso partido irmão NPA (Novo Partido Anticapitalista francês), para lembrar a violência de um sistema que é baseado na lógica do lucro e da exploração do povo e que deve levar a humanidade para a barbárie econômica, ecológica e humanitária. Estavam lá as campanhas em defesa do ecossocialismo como única forma de preservação da dignidade, da fraternidade e do meio ambiente. As campanhas contra a dívida externa, em defesa dos refugiados, da ação direta também estavam presentes.

Presente também foi a repressão policial. Um mês antes da conferência fizeram uma lei na Dinamarca para permitir a prisão de qualquer pessoa em manifestação que “obstrua o trabalho da polícia”, deixando o terreno pronto para a tentativa de silenciar os movimentos. Foram mais de 600 presos durante a marcha e todos os dias há novas prisões. Tudo para garantir a “tranqüilidade” dos delegados governamentais do COP 15. O problema é que a tranqüilidade deles significa a farra das grandes corporações, das multinacionais, dos plantadores da monocultura da soja. Significa também a continuação das inundações na África, o degelo do Ártico e da Antártida, os furacões nos EUA e na Austrália, a falta de água potável para milhões de pessoas, a estiagem e os vendavais no Brasil.

Mas nem a repressão policial conseguiu esfriar a mobilização, porque as vozes eram maiores e mais fortes. Lindo foi poder estar na marcha e ser mais uma voz, um idioma, uma cor; saber que o pontapé inicial de Copenhague será um marco nas páginas da história que temos que construir para as próximas gerações, de reversão das catástrofes que ocorrem no mundo inteiro, de outro futuro em outra sociedade, em que a lógica seja o intercâmbio com a natureza e não a sua destruição, o trabalho coletivo do homem e não a escravidão individual, a necessidade e não a irracionalidade de um sistema predatório.

Segue a Conferência e seguem as mobilizações, hoje em Bella Center e para quarta está programado mais um grande ato por justiça climática.

Esta luta não termina aqui, aliás, está começando. Junte suas energias porque em cada parte do mundo teremos de travá-la.


Fonte: www.fernandapsol.com.br