Hoje, a Bolívia representa um dos processos revolucionários mais avançados em nosso continente. A eleição do presidente indígena Evo Morales em 2005, reconhecido com líder de uma forte organização popular, foi o sinal de que não era somente o povo venezuelano que exigia transformações sociais profundas em seu país. As forças populares da Bolívia se manifestaram através de um projeto alternativo de poder e sociedade, que segue em curso, enfrentando com extrema coragem as classes historicamente privilegiadas, hoje agrupadas na chamada Meia-Lua boliviana (que corresponde aos departamentos de Pando, Beni, Santa Cruz, Chuquisaca e Tarija).
Evo Morales é representante desse novo caminho boliviano. Um de seus primeiros gestos como presidente foi de reduzir seu salário em 57%, para o equivalente a US$ 1.875 por mês. Sua origem indígena carrega as marcas da luta anti-imperialista na América Latina. A Bolívia é um dos países mais empobrecidos do continente, historicamente expropriado por estrangeiros que se apossam dos seus recursos naturais e desviam suas riquezas. Desde a exploração castelhana da prata de Potosí no século XVI, sob regime de trabalho escravo, até a exploração do gás natural do século XX, feita por poderes econômicos estrangeiros, o imperialismo das corporações multinacionais encontrou um aliado estratégico: a privilegiada burguesia branca da Bolívia. Esse poderoso setor, sócio menor do capital internacional, enriquecia às custas do endividamento do Estado boliviano e da estrutura de exploração social. Hoje, poderá recorrer até a guerra civil como última arma contra o fim de seus privilégios.
Um dos agentes da apropriação do gás natural da Bolívia é o Brasil. A burguesia brasileira se aproveita de seu caráter mais forte perante seus vizinhos mais fracos. Com Evo Morales e a organização popular boliviana, esse quadro está em processo de alteração: a nacionalização do gás natural inverteu o sentido do desenvolvimento econômico boliviano rumo ao investimento social fundado em princípios verdadeiramente democrático.
A nova Constituição da República da Bolívia, aprovada em Referendo Popular no dia 26 de janeiro de 2009, foi um marco desse processo de mudança. A nova lei estabelece uma forte democratização dos organismos do Estado mediante o controle social do poder; a garantia dos direitos indígenas; as restrições à propriedade privada da terra e do solo urbano; a ampliação da margem de propriedade coletiva e pública; incentiva a produção comunitária; organiza um sistema universal de saúde com particular consideração pela medicina tradicional dos povos indígenas; e lança as bases de um sistema de educação “descolonizador”, comunitário e plurilíngue. A burguesia boliviana mobilizou suas armas contra a nova constituição. As batalhas armadas empreendidas pela oposição na Bolívia demonstram o desespero de setores privilegiados quando perdem seus privilégios, e recorrem a métodos violentos para desgastar um governo popular.
Evo Morales segue tendo um enorme apoio do povo boliviano dentro e fora da Bolívia, com mais de 60% de aprovação. Seu partido, o Movimiento al Socialismo – IPSP (Instrumento Político por la Soberanía de los Pueblos) está em São Paulo para organizar o voto imigrante no Brasil. No Seminaário Internacional que realizamos em agosto e no qual contamos com a presença dos companheiros da direção do MAS, Sergio Loayza e Rosario Apaza, e delegações de mais de 20 países, o PSOL se comprometeu a apoiar ativamente a campanha da reeleição de Evo Morales junto aos imigrantes bolivianos no Brasil. Hoje, o PSOL levanta sua voz para cumprir esse compromisso e dizer junto com o povo boliviano: “Avanzamos hacia una Bolívia digna, soberana, productiva y democrática para vivir bien. El cambio es de todos!”
Pedro Fuentes
Secretaria de Relações Internacionais